Ragnarök || Ivar, O Desossado

Os Pecados

O grande exército de Aethewulf havia chegado em York em um dia extremamente nublado. Adalyn conseguia os ouvir marchando pelas ruas de seu quarto, enquanto tentava acalentar os sentimentos de Thorunn, que temia a tomada da cidade novamente. Contudo, seus pensamentos pareciam longe dali. Pensava em como seria lutar contra aqueles que um dia foram o seu povo, e se imaginava en encontrando com Aethewulf e finalmente o matando pelo o que o mesmo havia tomado dela. Caellun.

Matar aquele homem seria a grande Vitória de sua vida, ainda que se tornasse sua condenação final para o inferno. Entretanto, já havia aceitado que queimaria eternamente naquelas chamas sem fim no momento em que se casou com Ivar, o Desossado; no momento em que matou aquele soldado e também no momento em que seu viu entregue a luxúria em apenas beijar seu marido.

Já estava condenada havia muito tempo, e isso era algo claro para a princesa.

Ao escutar os gritos de dor e de aviso dos soldados saxões soube que a verdadeira batalha havia se iniciado, os saxões caiam nas armadilhas pensadas pelos filhos de Ragnar Lothbrok. Em pouco tempo vikings e cristãos brigavam entre si, e Adalyn se viu entregue a grande vontade de se juntar naquela intensa luta. Contudo, não poderia abandonar Thorunn sozinha naquele lugar e isso foi o que a impediu de pegar a espada encostada em sua cama e se juntar aos vikings.

O que restava a ela fazer era se preocupar com a sobrevivência de Ivar, e chegou a ficar tentada a pedir a misericórdia de seu Deus para o marido, mas sabia que o mesmo não poderia ajudar aquele viking. E então, Adalyn clamou aos deuses nórdicos que não levassem Ivar para Valhala naquela luta, que pudessem esperar mais um pouco para aproveitar a presença do Desossado. Aquela era a sua única esperança de ver Ivar vivo ao fim daquela batalha, e ela acabará se agarrando a aquilo por algum motivo ainda reconhecido pela própria.

A sua vida inteira havia sido ensinada a prezar pela vida, enquanto Ivar havia sido ensinando que a morte era algo glorioso para um guerreiro. E isso a preocupava naquele mesmo momento. Temia pela morte do marido, assim como temia pela morte dos seus cunhados. Algo dizia a ela para não se preocupar com eles, já que eram treinados e também era filhos de Ragnar Lothbrok, mas a preocupação insistia em permanecer com ela.

Pediu aos deuses para os proteger, porque não estava preparada para os perder. Pessoas que passaram de inimigos para a sua família.

Uma voz já conhecida pareceu ecoar pelas paredes de seu quarto, como um aviso dos deuses para os seus pedidos.

- Não sabem quem eu sou?- era a voz enfurecida de Ivar- Não podem me matar! Não sabem quem eu sou? Sou Ivar, o Desossado! Não podem me matar!

Logo em seguida, Adalyn escutou o grito dos vikings ecoar por todas as paredes, e sabia que aquilo ecoava por toda a cidade. E finalmente seu coração estava em paz, já que ela sabia que Ivar estava vivo e assim continuaria. Era a vontade dos deuses.

- Como o Ivar deve estar?- a voz infantil de Thorunn chamou a atenção da princesa, e a mesma olhava para Adalyn com um olhar um tanto quanto preocupados.

- Ele está bem, não escutou?- Adalyn sorriu para a menina- Eles não podem mata-ló, porque ele é o Ivar. Os deuses estão ao lado dele, pequena Thorunn.

- Espero que sim.- Thorunn se encostou ainda mais em Adalyn- Eu não quero perder mais ninguém.

- Os deuses estão com Ivar.- o sussurro de Adalyn acalmava o coração da criança- Eu sei que estão...

Os pequenos dedos de Thorunn traçavam desenhos imaginários na perna da mulher, como se aquilo fosse a coisa mais importante do mundo e como se nada mais importasse. Contudo, os seus pensamentos infantis acompanhavam Ivar, desejando o ver o mais rápido possível e que tudo aquilo acabasse logo. Em questão de poucas semanas aquela menina havia se encaixado na vida de Adalyn como se aquele sempre fosse o seu lugar de direito, e consequentemente havia se encaixado na vida de Ivar também. A sua inocência era algo que o viking gostava, e que de forma incomum desejava proteger. Talvez, como Ada costumava pensar as vezes, o destino de Thorunn sempre havia sido ser uma parte de Adalyn e de Ivar. E em tão pouco tempo, Adalyn estava disposta a tudo para proteger aquela vida que havia sido entregue para ela.