Uma Nova Kattegat

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Havia nevado fortemente após o falecimento de Lagertha, castigando o território de Kattegat e tudo ao seu redor. Tudo ganhara uma tonalidade branca, gélida e ainda mais triste, como em um dia sem final. Os ventos eram fortes e pareciam chicotes em qualquer pedaço de pele exposta. Nada e nem ninguém estava a salvo do tempo frio, e nem do estranho e melancolico vazio que a perda da famosa escudeira havia trazido.

Houvera interesses de todos os cidadãos para o sacrifício, que levaria a acompanhar Lagertha em sua passagem, e nesse meio se encontrava sua neta mais nova, Hela, que desejava ir com a sua avó para Valhala.

"- Eu não tenho medo disso, mãe. Lagertha me contou que os portões de Valhala se fecham para quem tem medo."

No entanto, os pedidos da criança foram avidamente ignorados por seus pais, e com a rapidez a cerimônia mais bela que qualquer morador de Kattegat havia visto começou a acontecer. A camada grossa de gelo impedia que o barco de Lagertha chegasse ao mar, e então, suas escudeiras se agarraram nas várias cordas que prendiam o barco e o puxaram pelo gelo. Os cortes das mãos de Adalyn se abriram pelo esforço que fizera naquele momento, mas em nenhum segundo pensou em parar. Não. Adalyn queria ter feito muito mais por Lagertha, muito mais do que estava fazendo.

Adalyn se lembrava com total clareza das chamas dançantes pela madeira, e de todas as flechas que pintaram os céus em flashs. O céu branco e sem esperanças. E fora daquela forma que o cortejo final de Lagertha tomou forma, da maneira mais dura possível, digna de toda a sua personalidade e de sua grande fama. E ao observar o barco em chamas, que quebrava o gelo com toda determinação, Adalyn sabia que Lagertha estaria sendo levada juntamente com as Valkirias, recebendo toda a glória dos deuses. E também, finalmente estaria com Ragnar Lothbrok, o seu verdadeiro e velho amor.

E até mesmo agora, com a camada de neve cada dia mais fina e as poças de água e lama se tornando mais comum pelas ruas, a falta de Lagertha e sua sabedoria era sentida por todos. As semanas desde a sua morte e a tomada de Kattegat passaram com rapidez, e mesmo assim, o novo rei ainda lutava contra seus próprios demônios na construção da nova Kattegat. E claro, a rainha se via cada dia mais afundada em seus antigos problemas e lembranças.

Em momentos se encontrava rodeada de seu passado ao lado de Ivar, quando havia se tornado rainha e ainda carregava Heimdall em seu ventre. E em outros, se lembrava dos anos em que passou ao lado de Lagertha, construindo juntas o assentamento na Inglaterra, se lembrava como a escudeira a ajudou no parto de Hela, e em como a mulher havia sido essencial no seu amadurecimento e na criação de seus dois filhos. Ainda que a morte seja algo importante para os vikings, Adalyn ainda se permitia sentir falta de Lagertha e de tudo o que ela representou.

"- Não vamos parar até que eu esteja melhor que você.

- Talvez daqui alguns anos, e quando eu já estiver em Valhala.- a famosa escudeira retribuía a provocação de Adalyn, se divertindo com o olhar da mesma."

Aquela fora uma das muitas vezes em que as duas treinaram juntas durante horas e horas, e também acabara se tornando uma das últimas, mas no fim, Adalyn sabia que Lagertha era quem havia escolhido morrer naquele dia. A escudeira não seria morta, ao menos que aceitasse aquilo.

E assim, Adalyn voltou a sua atenção para o salão ao seu redor, olhando para o lugar cheio de vida e animação e mostrando que apesar da grande perda, muitas pessoas estavam felizes pelo novo rei.

- Heimdall está estranho.- Hela encostou a sua cabeça contra o peito da sua mãe.

Adalyn, então, buscou o filho em meio as pessoas e o avistou rapidamente sentado ao lado de Ubbe e Edith. A poucos metros de distância, sob certa supervisão de suas escudeiras, se encontrava a sua filha mais velha.

Ragnarök || Ivar, O DesossadoWhere stories live. Discover now