Prólogo

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O pequeno reino de Caellun era normalmente um lugar tranquilo, conhecido apenas pela sua produção de vinho e também por ser um das poucas porções de terra na Inglaterra que não pertencia ao rei Ecbert. Além disso, a sua proximidade com o reino do Wessex trazia uma crescente preocupação ao soberano do lugar, o rei Augustine.

O velho homem havia passado a vida tranquilamente, sendo a sua única preocupação um herdeiro homem para assumir o seu trono quando viesse a faltar, porém acabou vendo seu castelo sendo preenchido por quatro filhas. Após longos anos, e do nascimento de quatro meninas, fizeram com que o rei de Caellun aceitasse seu destino em nunca ter um filho para herdar suas terras, e saber que após sua morte o lugar seria tomado pelo reino vizinho. Sua primeira esposa deu a vida no nascimento do segundo filho deles, sendo um menino que morreu poucas horas após o parto, assim como a sua mãe. E então, a infelicidade tomou conta de seu castelo e a culpa acabou sendo recaída na segunda esposa de Augustine,Winifred, a também mãe das três últimas filhas dele. O relacionamento dos dois foi grandemente marcado por inúmeras traições e pelo rancor mútuo que eles mantinham entre si próprios.

O casamento da filha mais velha do rei, a jovem Cornelia, com um conde francês parecia ter aliviado o reino de tensões com o Wessex, mesmo que momentaneamente.

E em meio a esse caos familiar a segunda filha do rei cresceu, sendo a primeira filha que Augustine havia tido com a sua segunda esposa. Adalyn nunca havia sido a filha favorita do rei, já que para ele a jovem garota representou o seu fracasso definitivo em produzir um menino para o trono de Caellun, mas a garota acabará ganhando as graças do pai por ser, segundo ele, a mais graciosa das filhas.

Adalyn não odiava o pai e nem mesmo se entristecia pela preferência dele por sua irmã Augusta e pela meia-irmã Cornelia, a filha do primeiro casamento. O favoritismo do rei nunca foi explícito, mas ao se observar pequenos atos isso era algo claro aos outros. Então, passou a se contentar em ser a filha favorita da mãe.

Assim era a vida da jovem princesa de Caellun, até de certa forma chegava a ser monótona pela calmaria que a rondava desde o seu nascimento. Já sabia a vários anos que seu pai acabaria por casa-lá com o príncipe herdeiro do Wessex, Aethelred, e assim o reino de seu pai passaria ao seu então marido. Se questionava se o casamento já estaria perto, principalmente pelo fato de que completou dezessete anos e em breve completaria dezoito, a mesma idade com que Cornelia havia se casado. Augustine não falava muito sobre o casamento das suas filhas, pelo menos não com elas, o seu principal foco era com o conselheiro real e com a rainha, os únicos que tinham algum poder em escolher os futuros maridos das jovens.

Adalyn aceitou o que o seu Deus havia preparado para ela, mesmo que a imagem de sua ida para outro reino não a agradasse tanto, e também percebia o peso que a mãe carregava nas costas por não ter dado um herdeiro homem ao pai e sentia medo de acabar indo para o mesmo caminho. Sua meia-irmã Cornelia havia dado a luz a sua segunda filha a poucos meses, e Adalyn percebeu que todos já cobravam um garoto dela. Tinha medo de fracassar nessa missão, e receber os mesmos olhares que as duas recebiam também.

- Nellie mandou uma carta.- a voz de sua irmã, Edith, chamou sua atenção- Disse que planeja visitar Caellun daqui alguns dias, pra poder ver o papai.

Edith era a filha mais nova do rei, tinha completado a poucos dias seus dez anos, e era extremamente parecida com a rainha. Além disso, a menina era a que menos recebia atenção do pai, já que todos haviam criado uma grande expectativa em um herdeiro e o seu nascimento frustou completamente Augustine, além de ter sido a grande causa para a instabilidade definitiva do rei e rainha. De certa forma, Adalyn sentia pena da irmã.

- Não deve ser só isso.- Augusta olhou para as irmãs.

- E o que mais faria ela vir da França pra cá?- Edith questinou a outra irmã.

Ragnarök || Ivar, O DesossadoWhere stories live. Discover now