O Mar Flamejante

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"O poder é sempre perigoso. Ele atrai o pior e corrompe o melhor. Eu nunca pedi por poder. Poder só é dado para aqueles que estão dispostos a abrir mão de si por ele."
-Ragnar Lothbrok

Os olhos acinzentados de Ravencrone observavam as pessoas que caminhavam ao seu redor, indo diretamente para o seio de suas próprias mortes, e a cada instante mais distantes de Kattegat, distantes de suas famílias e amigos. Rei Harald ordenou que os exércitos deviam estar em posição de defesa da capital, e assim o fizeram.

Muitos ali nem mesmo retornarão para os braços de seus entes amados.

E era nisso que Adalyn pensava durante todo o caminho, na qual sua mente a castigava por ter condenado muitas pessoas ali para a morte, para a dor e para o luto. Era quase impossível ignorar o turbilhão de pensamentos que faziam sua cabeça latejar desde a chegada dos dinamarqueses e da luta quase fatal de Ubbe. E no meio de todos esses acontecimentos, parecia haver certa influência de suas decisões ruins. E por isso, Adalyn acabou prometendo a si mesma que as coisas seriam diferentes quando aquela guerra acabasse, e ela estivesse viva.

Era estranho pensar que aquela poderia ser uma das últimas vezes que marcharia ao lado daquelas pessoas, que olharia para as folhas começando a ganhar uma totalidade mais verde e a grama tomasse mais vida; e ainda, era doloroso pensar que aquela noite pudesse ter sido a última que embalou seus filhos, que trançou os fios de Hela, que brincou com Heimdall e escutou as reclamações de Thorunn.

Aqueles pensamentos facilmente traziam uma sensação de vazio, de arrependimento. No entanto, Adalyn tinha em si um espírito viking, no qual temer a morte era uma vergonha e amar a guerra era um dever.

Sim, ela lutaria por seu povo e por sua terra, assim como morreria pelo o que acreditava ser o certo.

E então, Adalyn caminhou ao lado de seus guerreiros, escudeiras, amigos e familiares, com a mente presa em sua pesada espada e no vazio deixado por seu antigo machado. Ela, a rainha de Kattegat, não podia temer e nem recuar, porque aquela batalha decidiria o futuro da Noruega.

A madrugada estava quase em seu fim naquele momento, mas os olhos de Adalyn ainda podiam facilmente notar algumas fortes estrelas que ainda pintavam o céu e acompanhavam a bela lua cheia. Em breve o sol nasceria, e tudo aquilo ficaria para trás; sua casa, seus filhos e até mesmo a bela paisagem que seus olhos vislumbravam naquele mesmo momento. Pelo o que haviam descoberto graças aos seus batedores, o exército russo chegaria em breve na costa da Noruega, em um dos poucos pontos que uma frota tão grande poderia passar, reunindo os guerreiros em Ringerike e o restante do exército que chegaria para a batalha, então, proteger a capital seria a melhor forma foi de levar a guerra o mais longe de Kattegat que conseguiam, algo que tanto ela como Bjorn acabaram concordando.

No entanto, não era longe o suficiente para Adalyn. Eles imaginavam o plano que seria traçado pelo invasores caso ganhassem a batalha frente ao mar; para Ivar era claro que eles não atacariam em seguida Kattegat, mas sim se reuniriam em Ringerike, ou em um lugar próximo, para cuidarem dos feridos e rearranjarem as suas tropas.

Haviam possíveis erros naquela linha, mas era o melhor que podiam fazer, além é claro, de terem preparado Kattegat para o que viria a seguir. A mente estrategista de Ivar havia sido uma peça essencial para que grande parte dos planos de guerra ganhassem forma, seja ali ou seja em Kattegat, fazendo com que até mesmo Adalyn se surpreendesse com a mente afiada de seu amado. Cada filho de Ragnar Lothbrok contribuiu para aquele plano, assim como Ravencrone.

Cada palavra e cada imagem era repassada na mente de Adalyn ao decorrer de seus passos. Havia descoberto a poucos dias que tinha sido traída por uma das pessoas que mais confiava, e agora estava caminhando para os seus inimigos com o gosto amargo da traição preso em sua boca. No entanto, nada mais preocupava Adalyn além daquela batalha, porque ela sabia que todas suas ações definirão seu próprio furuto; não estava nas mãos dos deuses, mas estava nas suas próprias mãos.

Ragnarök || Ivar, O DesossadoWhere stories live. Discover now