Ragnarök || Ivar, O Desossado

Valhala espera por nós

Antes da primeira batalha ter terminado, grande parte dos homens de Harald haviam recuado a mando do próprio rei, permitindo que um pequeno grupo lutasse ao lado de Bjorn na beira do mar. Todas as barricadas do outro já haviam sido destruídas, assim como parte do exército russo havia começado a escalar a montanha que os levaria ainda mais rapidamente para o reino de Harald Finehair. Pouco depois, Bjorn Ironside foi duramente ferido pela lâmina inimiga, dando a ele um ferimento mortal.

Ele não sobreviveria depois daquilo, e a sua morte rondava a todos.

Adalyn foi responsável a ordenar que todo o seu exército voltasse para Kattegat, enquanto um Bjorn quase morto era carregado por seus homens. A lenta e dolorosa viagem nos barcos, que marcavam a derrota e a destruição daquela batalha. E a partir daquela retirada, o ferimento da mão de Adalyn não parou de latejar por um instante sequer, lembrando a ela constantemente de sua rápida e tola decisão em sua luta, assim como o cheiro do sangue impregnado nela parecia a cada momento mais forte e repulsivo. Adalyn estava banhada pelo sangue de Hilde, que havia escolhido morrer para salvar a sua velha amiga.

A rainha de Kattegat nunca poderia esquecer a forma que Hilde a agarrou e a protegeu daquelas flechas, e sabia que seus pesadelos estariam envoltos naqueles olhos perdendo a vida. E aquela seria a sua eterna maldição, se lembrar da forma que Hilde morreu em seus braços naquela batalha perdida.

No entanto, Hilde não foi a única que morreu. Inúmeros guerreiros e escudeiras morreram naquela primeira batalha. Bjorn estava ferido. E ainda, Harald Finehair estava morto.

Adalyn estava começando a tentar entender a morte de Hilde, quando Hvitserk já havia tomado o corpo da esposa dos braços da rainha e começado sua caminhada, quando a notícia da morte de Harald chegou para a Ravencrone. E claro, logo a história começou a se espalhar pelos quatro cantos, assim como os questionamentos envolvendo o trono de toda Noruega. E então, o rápido retorno para Kattegat foi cercado por dúvidas e sussurros maldosos.

No entanto, a única preocupação de Adalyn era chegar logo em casa, e se preparar para a tempestade caótica que se aproximaria daqueles portões em breve.

E assim ela o fez. Ravencrone partiu ao lado do exército que ainda possuia, e dos outros homens e mulheres que a seguiram, como o exército dos dois reis dinamarqueses. Durante todo o trajeto se viu obrigada a olhar para o corpo mortalmente ferido de Bjorn, que era carregado por seus homens; assim como assistiu a dolorosa caminhada de Hvitserk com o corpo morto de Hilde em seus braços. Hvitserk não falou nada, e recusou qualquer ajuda que foi oferecida a ele naquele momento de dor tão profunda e crua.

Adalyn sabia que era mais fácil enterrar o corpo de Hilde na floresta próxima ao mar, muito mais fácil do que carregar um corpo morto para outro reino, mas no fundo ela sabia que aquela decisão era exclusiva de Hvitserk, e Adalyn entendia que a dor dele o fez optar pelo caminho mais doloroso e mais justo, uma vez que seria uma forma de trazer Hilde de volta para casa, ainda que ela não estivesse mais entre eles.

E quando menos pudesse entender, Adalyn estava de volta em Kattegat e no meio do caos que a vitória russa havia causado.

Ela gritou inúmeras ordens, ordenou que todos os planos que haviam sidos montados pelas mentes dela, de Ivar e de Bjorn fossem postos em prática; e ainda, sofreu ao pedir que o povo lutasse. Adalyn entendia que pedir aquilo era como pedir que eles morressem, mas mesmo assim, ela pediu. E para a sua boa surpresa, pode ver pescadores largando suas redes e agarrando espadas, comerciantes desmontando suas barracas e buscando por armas, mães e pais se despedindo dos filhos e saindo de suas casas, e ainda, viu filhos se juntarem aos pais, velhos guiarem os seus filhos. Famílias inteiras decidas a salvar Kattegat da eminente destruição que o cercaria em pouco tempo. E garra e enorme determinação podia ser vista na face de cada um que agarrava uma arma.