Colonization Needs a Plan

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Apareci.

Música do capítulo: Good Grief, Bastille 

"Because it's time for you to have your own color"

Entrei na primeira cabine que achei e agora me encontro socando um saco de treino, coisa que tio Bell me influencia a fazer desde antes dos dez anos. É nesse momento que sinto leves queimaduras, bem menores que as dos braços e joelhos, nas articulações dos meus dedos. Desconto qualquer coisa que tenha aqui dentro, no objeto duro de tão velho. Não que eu tenha ódio acumulado, talvez seja mais para evitar pensamentos.

_ Devia tentar umas orações _ escuto. Paro e viro-me para a entrada, encontrando Jordan. O garoto tem movimentos robóticos e uma postura perfeita. Evidentemente filho de Harper e Monty.

_ Acredite em mim quando digo que já tentei _ respondo, voltando ao que fazia.

_ Deus, eu tinha um crush em você... _ sussurra.

_ O que? _ pergunto, rindo ao final.

_ Foi dos meus doze até uns dezoito anos _ conta, meio constrangido. Começo a ficar desconfortável, afinal poderia simplesmente parar e ficar me observando quanto tempo quisesse. _ Relaxa, mamãe me deu educação _ e suspiro aliviada, grata por tia Harper. Depois disso, o que sobra é o silêncio, misturado com a dor acumulada no peito de ambos. Sei que eram seus pais e teoricamente está passando por pior que eu..., mas dor é dor. Não é uma competição.

_ Eles eram como irmãos para mim... _ conto, com o olhar baixo. _ E eu era como...

_ A irmãzinha _ falamos ao mesmo tempo. Contaram de mim. Realmente se importavam.

_ Deixaram algo para você _ e só agora vejo que carrega uma caixa de metal e um caderno. Levanto a sobrancelha esquerda, um pouco desconfiada.

Vou até a bancada e toco de leve na caixinha, sentindo toda a presença da garota. O frio do metal percorre meus nervos e inunda-me de sentimentos. Após dançar com as pontas dos dedos, migro para o caderno, fazendo o mesmo. É marrom, com alguns detalhes verdes. Decido que vou abri-lo primeiro e assim que o faço, percebo que parece mais com um livro.

- Porque acho que você vai gostar de aprender.

Vejo a letrinha de Monty. Vou passando as páginas e vejo fórmulas, conclusões, desenhos. Alguns com uma caligrafia diferente, que julgo ser de Jordan. Escreveu tudo que achou que eu gostaria de saber e conhecer. E meus olhos enchem-se de lágrimas. Passo uma por uma, o que leva alguns bons minutos, já que não economizou nem resumiu nada. Isso mostra-me o quanto que, por mais que eu levasse como nada em especial, REALMENTE era algo importante para ele. O último escrito, quebra-me por inteiro.

_ A cada minuto e a cada hora, sinto sua falta.

E acabo começando a chorar pesado, talvez gerando um pouco de eco na sala. Devagar, Jordan vem e me abraça. Interrompo o ritmo quando percebo que cheira como seu pai, avançando e o apertando com meus braços. Eles se foram, estão mortos a décadas. E eu perdi, perdi cada um de seus momentos. Mas ao tocar o garoto, percebo que me deixaram algo. Deixaram-me o produto de sua carne, o qual nos pediram para tomar conta. Deixaram seu bem mais precioso. E acima de tudo: foram felizes.

Me afasto e vou em direção a caixa, passando os dedos nas laterais antes de abrir. Está meio agarrado, talvez até enferrujado. De primeira, vejo um tecido roxo, meio holográfico. Logo em cima, um pedaço de papel. Seguro-o e levo próximo aos meus olhos.

_ Porque era a hora de você ter sua própria cor.

Tia Harper me escreveu. Coloco-o ao canto e puxo o tecido, que se abre em uma jaqueta. Por dentro, nas pontas das mangas e nas golas curtas, é prateado. Por fora, é a cor roxa, que cintila. É novo em folha, não faço ideia de como conseguiu esse tecido. Aproximo e abraço a peça, viajando-me em momentos que passei com eles.

Maria ReyesWhere stories live. Discover now