Capítulo 41

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Meu corpo dói

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Meu corpo dói. Minha cabeça tá explodindo e faz dois dias que não consigo passar um tempo com Jasmim. Sai da função de garçom e estou ocupando outros cargos no restaurante, lavo vasilha, corto legumes e às vezes o chefe me chama para me dar aulas básicas, e a cada dia aprendo algo novo... algo novo que custa tempo, esforço e força. Não estou arrependido, mas estamos numa sexta-feira e não aguento ficar com os olhos abertos, meus braços doem muito devido ao peso dos pratos, meu corpo se apresenta afundado numa tensão horrível... quero dormir. Apenas dormir.

Esfrega, esfrega, enxagua e enxagua.

─ Alex. ─ Ouço alguém me chamar. Seco as mãos no avental e passo a mão pelo rosto, tentando parecer que não estou acabado.
Olho ao redor a procura da voz que me chama. Meu gerente ergue a mão e a movimenta num comando de "venha até mim".

─ Sim.

─ Um dos clientes quer conversar com você. ─ A voz descontente revela que fiz merda. ─ Ele disse que o prato dele está sujo, tem noção de como a higiene é importante para um restaurante? ─ Berra.

─ Sim, senhor. ─ Abaixo a cabeça, me sentindo envergonhado. ─ Desculpa, isso não acontecerá novamente.

Noto o homem colocar a mão sobre a testa e chacoalhar a cabeça de um lado para o outro.

─ Venha comigo. Você irá se desculpar por seu erro.

Caminho passos atras, controlando o bocejo e com vergonha de encarar meu gerente. E desejando para que ela não me demita, realmente preciso desse emprego e com uma recomendação ruim não conseguirei trabalhar numa cozinha outra vez.

Ele para. Eu paro.

─ Senhor Ferraz, aqui está o responsável por seu desgosto. ─ Fecho as mãos contendo a raiva. O ódio. ─ Mas não se preocupe, darei um jeito em meu funcionário.

Minha face se retorce. Não consigo evitar ranger os dentes, de encarar no fundo dos olhos do homem que sorrir perante a imagem de seu filho vestido com roupa suja e soada por causa ao clima quente da cozinha.

Como o odeio!

Meu prato não estava sujo, isso foi um pretexto para meu pai testemunhar meu estado que para ele é decadente, mas para mim, é de honra. Honra por não depender dele, por não usar o dinheiro dele, por saber que tudo que tenho, tudo que sou é graças aos meus esforços, ao meu suor, ao meu trabalho. Mesmo sendo pouco, foi eu quem consegui.

─ Alex, tem alguma coisa para dizer?
As mãos dele cruzam perante o próprio rosto. Seu semblante de satisfação faz com que cada musculo do meu corpo grite de ódio, de vontade de mandá-lo se ferrar... não posso cumprir esse desejo. Não posso porque preciso desse emprego.

Respiro fundo. Abro a boca e cuspo o "desculpa" mais falso que minha voz consegue reproduzir. O corpo velho recosta na cadeira e o sorriso é formado em sua boca, como queria tirar esse sorriso dele, queria que ele se engasgasse com a comida, queria que ele sumisse da minha vida assim como fez com Maria Alicia, mas não. Comigo não é assim. Sou o filho homem, estou na melhor idade para seguir os passos do carrasco, estou na idade de dar lucro a ele, estou na idade de seguir seus passos, seus terríveis passos, ao menos julgo que é isso que se passa nessa cabeça branca dele.

─ Estou providenciando outro pedido para o senhor, em prevê chegará.

─ Obrigado. E você garoto, esse não é o lugar para você, e, no fundo sabe disso. ─ Volta a apertas as mãos mais uma vez, afundando os dedos na palma das mãos, provocando um pouco de dor em minha carne, tentando digerir todas as palavras ofensivas e verdadeiras que querem saltar na cara desse filho da puta.
Engulo. Engulo tudo calado.

Meu gerente me dá permissão para voltar ao meu posto. Passando pela porta da cozinha percebo que todos os olhares são direcionados a mim, todos sabem que ando cansado, todos pensam que fui descuidado com meu trabalho. Droga! Por que ele sempre tem que voltar para minha vida? Sempre volta e estraga tudo.

─ Alex. ─ O gerente me chama novamente.
O sigo até a porta dos fundos do restaurante. Começo a tirar meu avental, sei o que vai acontecer... sei muito bem, porque isso aconteceu não uma, mas três vezes. Ele chega, coloca defeito no meu serviço e eu recomeço tudo novamente.

─ Olha, eu não aceito erros.

─ Eu não errei. ─ Tento lutar para preserva meu trabalho. ─ Sei que ando cansado, mas não entreguei prato nenhum sujo. Aquele idiota é meu pai, ele não quer que eu trabalhe, ele faz de tudo para me fazer a voltar para debaixo do teto dele, inclusive me sabotar.

─ Não sou burro, Alex Ferraz. ─ Respiro um pouco aliviado, mesmo tendo uma parte minha insegura em relação as próximas palavras. ─ Sei que seu trabalho é bom, além do mais, conversei com o chefe e ele confere todos os pratos que saem da cozinha, nenhum prato saiu sujo de acordo com ele. ─ Ele toca meu ombro. Não gosto desse gesto, é o mesmo gesto que fazemos para dar uma notícia ruim ao amigo. ─ Não vou manda-lo embora, valorizo os membros que trabalham aqui, porém não sou o dono e caso seu pai converse com o dono do estabelecimento, não há nada que posso fazer.

─ Obrigado, Senhor.

Sorrio, respiro com a segurança que no domingo terei um trabalho para frequentar. Como é bom saber que aquele lobo em pele de cordeiro não conseguiu me derrubar e nem vai conseguir, porque sou forte. Porque não preciso dele.

Retorno a minha função.

Bebo um energético, esperando ter energia o suficiente para dirigir até em casa. Meu celular toca, o pego e agradeço aqueles que colaboraram para a construção de um aparelho que permite que eu veja e fale minha namorada.

─ Oi, amor. ─ Diz, com a voz fofa que sempre usa para me dar boa noite.

─ Oi, meu amor. Só você para conseguir alegrar minha noite. ─ Seus olhinhos analisam meu rosto. ─ Sabe o que eu queria essa noite? ─ Indago, antes que ela comece a fazer perguntas. Não passo grande parte do meu tempo e o pouco que posso ouvir e vê-la não quero desperdiça-lo falando do meu pai.

─ O que você queria?

─ Você! Queria você me esperando em casa. ─ Ela sorrir.

Ela afasta um pouco do celular do rosto e vejo que está enrolada numa toalha. Somente um pano tampa aquele corpo por qual estou louco.

─ E especialmente me esperando só de toalha. ─ Brinco. Ela esconde o rosto em uma mão, amo o jeito com que ela fica envergonhada, até parece que eu nunca a vi pelada.

─ Amanhã é sábado, nenhum de nós dois trabalha, podemos realizar esse seu desejo. ─ Mordo os lábios e franzo a testa. O sorriso dela caí ao ver minha expressão. ─ Não me diga que trabalhará ou terá um compromisso amanhã também? ─ confirmo com um balançar de cabeça.

Vejo o peito dela subir e descer. Ela está se controlando, sei que está chateada, mas pretendo mudar essa chateação.

─ Ei. ─ A chamo. Os olhos dela focam a tela do celular que segura nas mãos. ─ Prometo que vamos passar um tempo juntos, ok? Prometo que quando te ver vou te encher de beijos, e quem sabe outras coisas mais.

─ Tudo bem. ─ Solta um sorrisinho, tentando disfarçando decepção. Melhor ir para à casa para descansar para seu longo dia amanhã. Te ligo amanhã a noite para lhe dar boa-noite.
Desligo o celular com dor no coração por faze-la ficar triste, mas um pouco feliz por saber que vou recompensa-la por essa tristeza momentânea.

Minha GarotaWhere stories live. Discover now