Capítulo 45

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Não, essa não é a voz, e não é o corpo da minha mãe e irmã

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Não, essa não é a voz, e não é o corpo da minha mãe e irmã.

Não pode ser. É uma ilusão. Um sonho, talvez. É isso, estou dormindo. Ainda não acordei, isso é um sonho, ou melhor, pesadelo.

─ Acho que estamos atrapalhando, mãe. ─ Maria Alicia brinca, vendo a perplexidade em meus olhos e o desespero nos olhos de Jasmim.

─ M-mãe ─ gaguejo. ─ o que faz aqui?

─ Suas aulas estão acabando vim ajudar arrumar suas coisas para ir morar conosco. Foi isso que combinamos, lembra? ─ A cacheada me encara com a testa frangida, os olhos meio fechados, da sua boca não sai nada, mas seus olhos dizem tudo.

Droga!

Devia ter falado para Jasmim sobre minha viagem, mas... cara, eu mesmo havia esquecido. Não queria viajar antes e agora, namorando a Jasmim, tenho mais motivos para ficar, e o provável era ter contado a minha mãe antes. Sou um idiota mesmo.

─ Não, não me esqueci. Não sabia que viria para cá, por que não avisou?

─ Se eu avisasse não seria surpresa. ─ Sorrir, como se contasse uma piada engraçada, mas adivinha? Não tem graça!

A atenção da minha mãe é jogada em Jasmim, que balança a cabeça em movimentos quase imperceptíveis. Devia ter dito a ela.

─ Olá, sou Cléo, a mãe do Alex. ─ Estica sua mão para cumprimentar Jasmim que sorrir.

─ Olá, sou Jasmim.

─ Mãe, essa é minha namorada, Jasmim. ─ Corrijo a apresentação de Jasmim. Vejo uma luz se acender nos olhos dela, porém, misteriosamente essa luz some.

Minha mãe abre a boca, seus olhos se arregalam e seus olhos são direcionados a Maria, que também parece impactada pela notícia.

─ Ué, cadê o Alex que dizia que nunca ia namorar? ─ Maria é a primeira a quebrar o silêncio. ─ Oi, sou Maria, a irmã do bombadão aí. Fico feliz por saber que ele está namorando e tenho que dizer que estou curiosa para saber como você conquistou esse coração de aço.

─ É muito bom conhece-la. Sendo sincera, não faço ideia de como conquistamos um ao outro. ─ Como assim não faz ideia? E meu charme, nossas conversas, nossos flertes, nada disso colaborou para estarmos juntos? Caramba! Ela tá chateada, o tom da sua voz está mais duro, e seu olhos não revela amor por mim, revelam decepção, um pouco de raiva, nada de amor.

Jasmim retira o celular do bolso, ela o liga e não há nenhuma notificação. Seus lábios se comprimem.

─ Meu irmão precisa de mim. ─ Menti. ─ Maria, Cleo foi um prazer conhece-las, mas realmente tenho que ir.

─ Também foi bom conhece-la, espero te ver novamente. ─ Jasmim devolve um sorriso e um acenar com a cabeça.
Ela gira o corpo na direção da porta, seus passos começam a se alongar. Passa pela porta e caminha para o elevador, nem se quer olha para trás, tenho que pega-la pela mão, forçando que seus olhos, a atenção recaí sobre mim, que converse comigo.

─ Você não recebeu mensagem do seu irmão. ─ Acuso.

─ E você não me contou que vai embora. ─ Rebate, magoada. ─ Por que não me contou? Por que me encheu de esperança com planos para o futuro se você nem vai estar aqui?

─ Olha... ─ pigarreio. Não sabendo o que falar e empenhando-me em ganhar tempo para meu celebro montar uma resposta. ─ Eu havia me esquecido que prometi viajar, realmente esqueci. Mas não precisamos terminar, podemos continuar namorar.

─ Quando vai voltar?

─ Não sei.

─ Exatamente. Você não vai fazer uma viagem rápida, você vai morar em Barcelona, entende? Relacionamento a distância não duram, principalmente quando não tem uma data para a distância acabar. ─ Vejo os olhos dela se encherem de lágrimas, contraindo um aperto no meu peito.

─ É isso, quer acabar? ─ Falo com a voz grossa, dolorida, doendo soltar cada palavra, principalmente sofrendo com a aflição da futura resposta.

─ Você melhor do que eu sabia que não duraria, caso contrário, teria me avisado antes da gente começar. Não me culpe, culpe a si mesmo por ter aceitado a ir.

─ Não posso me negar a ir, entende? Minha mãe sofreu, cuidando da minha irmã e do meu sobrinho, ela está cansada e comigo lá posso ajuda-la, não posso dizer não a ela.

─ Poderia ter tomado essa atitude antes de me deixar dizer sim para um relacionamento com data de validade.─ A primeira lágrima cai dos olhos dela.

─ Ei. ─ Ergo o queixo dela com o polegar. ─ Podemos dar um jeito. Quem sabe consiga voltar duas vezes ao mês?

─ Alex, isso pode funcionar no começo, mas e quando você começar a trabalhar, fazer amigos, acredita que cansado do jeito que você está vai conseguir atravessar o país para passar dois dias comigo? ─ Minha boca quer responder sim, meu lado racional impede, pois, esse meu lado entende o que Jasmim quer dizer. Sei que o cansaço não é o maior problema, sei que ela não refere somente ao trabalho, ela se refere ao geral com as pessoas novas, o novo estilo de vida, sabendo que no fundo a partir do momento em que pisar o pé na Espanha uma barreira se construíra entre nós. E mesmo que doa, tenho que concordar com ela.

Jasmim merece um namorado que esteja ao lado dela, para ajuda-la com o pai, para protege-la, apoia-la, dar carinho no momento em que ela precisar, é injusto ela se prender num relacionamento virtual.

─ Não posso abandonar minha família. ─ As palavras cortam minha garganta. ─ Também não posso ser injusto com você. Com nós.

As pequenas mãos limpam as lágrimas. As bochechas vermelhas e os olhos mais claros do que nunca estão sendo gravados por minha mente por fazer a garota que amo chorar.

─ Você é a melhor coisa que já aconteceu comigo. ─ A puxo para meus braços. Os braços quentes enrolam meu corpo, as bochechas molhadas tocam meu peito e soluços e mais soluços tocam como a pior música já ouvida por mim. O rosto choroso se ergue e aproveito os lábios expostos para um último beijo.

─ Você também foi a melhor coisa que aconteceu na minha vida. ─ Declara, contra meus lábios.

Meus braços se soltam, o corpo dela se afasta. Sinto meu coração bater, socar, chutar meu peito, como se ele gritasse para não a deixar ir, gritando que eu tenho uma chance de mudar as coisas, chorando por saber que mesmo doendo é a coisa certa a se fazer. Mais uma coisa que amo me deixa, mas uma vez consigo acabar com o amor. Mesmo que eu não queira admitir, estava certo. Estava certo por saber que ninguém na minha família tem ou termina com um relacionamento feliz, e comigo não seria exceção.

Minha GarotaWhere stories live. Discover now