Capítulo 56

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Na noite anterior consegui escapar da falação da minha mãe, mas hoje não

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Na noite anterior consegui escapar da falação da minha mãe, mas hoje não. Deixo a chave na mesa e vejo a mulher de roupão sentada no sofá, tomando uma xícara de café, sua atenção de imediato é voltada a mim.

E lá vamos nós.

─ O que foi aquilo, Alex? Eu sai por algumas horas e quando chego, vejo meu filho humilhando a irmã, não foi assim que eu o criei. ─ Uma desculpa quer escapulir pela minha boca, um ressentimento quer se instalar em meus ossos, porém, não consigo enxergar o meu erro. Não consigo entender o porquê de pedir desculpas se não fiz nada.

─ Sempre será assim? ─ Questiono. Minha mãe apoia sua xícara na mesa de centro e expressa desentendimento. ─ Quando nos mudarmos para Barcelona é assim que será minha vida? Passar o dia inteiro tomando conta do Lorenzo, servindo de empregado para Maria Alicia, é assim que será meus dias? ─ Deixo a revolta cercar minha voz. Não posso controlar minha irá ao processo de imaginar meus planos serem jogados numa lata de lixo para minha vida ser à mercê da minha irmã.

─ Não. Filho, claro que terá que me ajudar a cuidar de sua irmã, mas também terá seu tempo para sair, cursar a faculdade de administração...

─ Para! O quê? Administração?

─ Claro. Você é o herdeiro do escritório de administração do sei pai, e para isso deve cursar a faculdade.

─ Me conformo com a faculdade, não aceito o curso que deseja que eu faça. Não, esta é minha resposta de uma pergunta que nem você e muito menos o meu pai fizeram, eu não quero, não vou cursar essa merda! ─ Fala com autoridade, sem medo de julgamento e muito menos dos seguintes atos tomados pela mulher que não esconde desagrado por minhas atitudes.

─ Tudo bem, já que não quer administração, talvez direito?

Nego. Nego acreditar que durante estes dias morando aqui, me vendo cozinhar, a procurar receitas e até mesmo curso de gastronomia, a mulher a minha frente não tenha pensado que, talvez eu queira ser um cozinheiro... claro, minha mãe está ocupada demais comprando roupas, saindo com velhas amigas para pensar que seu filho esteja com novos planos e pensamentos para seu futuro.

─ Quero cursar gastronomia, mãe. ─ A paz e calma são refletidas em minha voz, enquanto o meu celebro grita todos os sinônimos condenadores a péssima mãe a minha frente.

─ Cozinheiro, é isso o que quer ser? ─ Diz com desprezo. Em sua face esbanja o nome da profissão como se algo sujo, desmerecedor. ─ Querido, pense melhor, cozinheiro quase não ganha dinheiro, é isso o que quer, sobreviver de um salário horrível?

─ Entre ser um cozinheiro que ama o que faz e um contador que odeia sua própria vida e que tem uma família destruída, prefiro ser cozinheiro.

─ Não estou de acordo com sua decisão e aposto que seu pai também não.

─ Meu pai não tem nada a ver com minhas decisões, e não entendo o motivo de menciona-lo, não era você que o odiava? ─ Minha mãe desvia o olhar para o chão, os direciona para mim e é possível notar que algo mudou.

Antes pronunciar o nome daquele carrasco a deixava com um péssimo humor e hoje ela concorda com as ideias dele para o meu futuro, o que houve com essa mulher? O que aconteceu com aquela mulher que teve que pegar suas coisas e sua filha e se mudar para Barcelona porque o marido a renegou? Cadê o ódio que ela deveria sentir, onde está a raiva?

─ Não quero falar sobre isso. ─ Tenta escapar.

─ Por quê?

─ Por que ainda não está na hora.

─ Hora? Hora de quê?

─ Anda, mãe, conta para ele! ─ Maria Alicia grita, saindo do quarto e se intrometendo na conversa. A cada passo que ela dá, vejo minha mãe suplicar com os olhos para ela recuar. ─ Alex, você acreditou mesmo que viemos te buscar? Lógico que não. Nosso pai ligou para nossa mãe, contando que você tinha quebrado o carro dele, que você estava sem rédeas e todos sabem que a única pessoa no mundo que consegue te convencer a fazer qualquer coisa é nossa mãe.

─ Maria Alicia! ─ Minha mãe grita, impedindo que Maria continue. ─ Não fale mais nada. ─ Ameaça.

─ Vou continuar a falar porque também envolve a minha vida. Sabe por que não estou na clínica de reabilitação? Porque não temos dinheiro. Nossa mãe está falida e quando o nosso pai ligou pedindo ajuda, ela não pensou nem duas vezes em arrumar as coisas e ir atrás de uma boa grana. Sabe estes dias que ela dormiu fora ou ficou o dia inteiro na rua, ela estava transando com nosso papai e o sexo foi bom já que eles querem se casar de novo. ─ Eu fui usado! Este tempo todo eu pensando que estava ajudando, sendo um bom filho, estava sendo manipulado e usado como uma marionete para a execução do plano daquele filha da puta.

O pior, ele usou a minha mãe! Ele fez com que minha mãe me enganasse, ele fez com que minha vida se transformasse num inferno somente para eu seguir a porra dos planos dele. Agora eu não sei se estou com nojo dele ou dela que, entrou nessa para recuperar tudo que anos atrás ele tirou dela, esperava um pouco de amor-próprio ou até mesmo lealdade da parte da minha própria mãe, mas nem isso eu tenho o direito de ter.

─ Alex. ─ A voz arrependida clama por meu nome... nem com todo o esforço do mundo consigo olha-la. Nego a ouvir meu nome sair pela boca dela, rejeito que tenho uma mãe suja quanto ela, e aceito o fato de que não posso contar com ninguém, nem mesmo com aqueles que chamava de família.

─ Quer ficar bravinho, então vou te dar motivos: os planos deles eram fazer você se mudar para Barcelona e começar o curso, nesse período teria que cuidar de mim e do Lorenzo, porque nosso pai mesmo aceitando essa cobra naja, me renega como filha, então colocaria você sendo minha babá. Nossa querida mãe voltaria para o Brasil com desculpa de trabalho e viveria a vida de princesa dela, assim que você finalizasse o curso voltaria para o Brasil e assumiria o escritório daquele miserável, enquanto eu, poderia voltar para o Brasil só se estivesse casada... mas como eu vou me casar se ficar o dia inteiro trancada num apartamento pequeno com o meu irmão que não me deixa sair de casa? ─ Maria berra.

Ignoro o show que Maria faz sobre eu não tê-la deixado sair ontem e direciono toda minha raiva para a mulher que não consegue nem inventar palavras para soltar. Mas eu, mordo os lábios com força para não deixar escapar tudo o que tenho entalado na garganta.

Saio.

Não posso ficar no mesmo lugar onde possui pessoas com capacidade de olhar nos meus olhares e mentir de modo tão descarado. Não voltarei para aquela casa, não voltarei a olhar na cara da minha mãe, já que ela não pode aceitar meus planos para o futuro, também não quero que ela faça parte dele.

Preciso de um lugar para morar, talvez até de mais um emprego, sinceramente não tenho conhecimentos de inventar meus próximos atos, é igual da primeira vez que sai da casa do meu pai, mas naquela época, tinha o apartamento da minha mãe como moradia, agora, não tenho nada. Não tenho lar, não tenho com quem contar a não ser comigo mesmo, resumindo, estou fudido.

Minha GarotaWhere stories live. Discover now