Capítulo 46

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Foi o melhor, é isso que digo para mim

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Foi o melhor, é isso que digo para mim. É nessa medíocre frase que forço a confiar, sabendo que meu coração chora, meus olhos sangram de uma dor psicológica. Alex foi a primeira pessoa além do meu irmão a me tratar como um ser humano, cuidando de mim, conhecendo uma parte de mim que, Marcela e Luana desconhecem.

Devo estar horrível, julgando pelos olhares escândalos jogados sobre mim a cada passo que dou. Poderia estar indo para casa de ônibus, mas quero evitar ao máximo o tempo naquele hospício. Às vezes eu penso que o universo é um ser entediado, por isso ele seleciona uma pessoa, faz algo maravilhoso acontecer com ela e depois retira, toma de volta. O universo é um banqueiro que lhe presenteia com dias contados de felicidade, mas em troca lhe dá dias tristes com juros.

Tateio o bolso da minha calça a procura da chave a encontro, dedico minha concentração para minhas mãos pararem de tremer e torcer para enfiar a chave na fechadura, erro o buraco não uma, não duas, mas três... três vezes que minhas mãos não conseguem se manter equilibradas para acertar o buraco de uma simples fechadura, que as lágrimas atrapalham minha visão, que a inesperada raiva toma minha mão, me fazendo soltar a chave e bater meus punhos contra a porta. Bato. Bato.

A porta se abre bruscamente, os olhos de Thiago se chocam em mim.

─ Tá maluca?

─ Talvez. ─ Entro. Passo as mãos pelo rosto com força, secando as lágrimas, tentando recompor um semblante natural.

─ O que vai ter para comida? ─ Um dos gêmeos pergunta, não sei qual deles é, também não tenho interesse em saber. Desço o degrau que subi, o encaro com nojo, muito nojo.

─ Você tem duas mãos, você tem olhos, os use para fazer sua própria comida, deixe de ser um imprestável e use as ferramentas dada a você.

─ Isso significa que você não vai fazer comida?

─ Não. Eu não vou fazer porra nenhuma. ─ Grito. Com raiva pelo atrevimento e a falta de senso do idiota a minha frente. ─ E deixando bem claro, não só para você, mas para todos que moram nessa merda, eu não vou cozinhar, limpar igual uma empregada, não mais. Querem comida? Façam vocês. Querem roupas limpas? Então lavem.

Direciono meus passos para as escadas. Gabriel encontra-se parado como uma muralha no meio da escada, seu analisar é perigoso, apesar disso não vejo nada em seu rosto, nada de julgamento, nada contra minha atitude, mas sei que se passa algo nesse cabeção.

─ Posso passar? ─ A grosseria em minha voz é um alerta para ele sair da minha frente, porém, ele finge não perceber. O que poderia esperar desses homens, pelo visto meu celebro ainda não capitou que eles enxergam somente aquilo que querem ver.

─ Você não é assim. O que aquele cara te fez?

─ Ele não me fez nada, muito pelo contrário, ele é o único que conseguiu ver como eu realmente sou. ─ Abro os lábios e solto um sorriso irônico. ─ Quer saber quem são os culpados? ─ Enfrento Gabriel, olhando no fundo, de seus olhos caídos. ─ Vocês são os culpados.

─ Jasmim.

─ Gabriel.

─ O que aconteceu com você? ─ Odeio o jeito com que ele fala, até parece que me conhece. Hoje é meu aniversário e nem mesmo um feliz aniversário ganhei, eles se lembram de mim para tarefas domésticas, e nada mais.

Não falo nada. As palavras querem sair, porém, forço-me a prendê-las, porque quando saírem vão machucar, não somente a mim, a eles também.

─ Se você não falar, vou contar para nosso pai que você está namorando.

─ O quê? ─ Um berro. Todos fitam o andar de cima, menos eu, sei bem o que me reserva ao olhar para meu pai.

─ Namorar? Você tem um namorado, Jasmim?
Respiro fundo, ouvindo os passos pesados sobre a madeira que constitui a escada. Gabriel sai da frente, dando a liberdade que meu pai quer de olhar nos meus olhos e interrogar.

É normal odiar tanto assim um pai? Ao encarar esse rosto com rugas a única coisa que consigo ver quando pisco é imagens dele gritando que não valo nada, cenas dele chutando todas as partes que consegue e meus irmãos apenas assistindo. Eu o odeio. Sinto muito por sentir esse sentimento ruim, mas não fui eu quem o procurei, ele foi plantado em mim cada segundo vivido ao lado desse monstro.

─ Responda! ─ Exclama.

Ergo a cabeça. O sangue ferve pelo modo como ele me trata. Não sou um animal para receber gritos, não tenho problemas de audição para as pessoas terem que gritar comigo e principalmente, não mereço esses berros.

─ Sim. Eu namorei um rapaz incrível. Dormir na casa dele, fiquei bêbada saindo com ele e advinha? Eu vivi os melhores momentos da minha vida com ele. ─ Vejo a mandíbula dele ficar rígida, seus olhos transbordam desgosto e raiva.

─ Quem lhe deu permissão? Você não tem o direito de ficar por aí como uma vadia! ─ Grita mais uma vez, apontando o dedo no meu rosto.
Minha garganta aperta, aperta e aperta. Tudo o que guardo a anos quer sair, quer estapear a cara do meu pai com todas as palavras silenciadas durantes todos os meus anos de vida.

─ Não estou criando uma vadia, ouviu bem, Jasmim?

─ Não, você não está criando uma vadia, mas também não está criando uma empregada! ─ Berro, ainda mais alto que ele. ─ Quer falar de direitos, é isso mesmo? Qual é o direito que o senhor tem para bater em mim? Para jogar a culpa da morte da minha mãe em mim? Que direito você tem para debochar do Bruno só por ele ser gay? Exatamente. Você não tem direito e isso não te impede de acabar com nossas vidas. ─ A cada palavra jogada, sinto meu corpo ficar mais leve, o peso, a dor parece diminuir. Meu coração alivia de certo modo, mas também chora ao relembrar das dores do passado, as dores que senti e tive que engolir meus pensamentos para não me causarei mais dor, só que agora, nesse momento, não há sentido em guardar o que eu penso, pelo simples fato que eu não tenho mais nada a perder.

─ Sou eu quem coloco comida nessa casa? Sou em quem pago pelas contas, sou eu quem te banco desde pequena, então sim, eu tenho o direito de mandar em você. Eu tenho o direito de proibir você de namorar, sair e até mesmo viver. Enquanto morar na minha casa, comer da minha comida, vai seguir minhas regras e se não quiser apanhar, trate de se comportar direito e não como uma puta. ─ Quero chorar. Nunca encarei os olhos do meu pai por tanto tempo assim e a cada piscar é uma imagem de dor que trago em minha mente, a cada piscar é uma digestão que meu celebro faz, ouvindo cada letra saindo dessa nojenta boca.

─ Eu odeio você. Odeio o jeito como me trata, odeio você por completo. ─ Falo, entre dentes. ─ É esse o problema, eu viver debaixo do seu teto? Tudo bem, a partir de hoje não moro mais aqui. A partir de hoje não sou mais sua filha e se algum dia nos encontramos na rua, finja que não existo, porque é assim que vou enxergar o senhor.

Subo os degraus. Pego minha mala em cima do guarda-roupa e jogo as primeiras roupas que consigo ver no caminho, pego minha mochila, meu notebook e boa parte do que comprei com meu dinheiro. Sei que tem vários pares de olhares encarando minha imagem nesse exato momento, ouço os cochichar deles, mas param. Param porque a gritaria começa.

Minha GarotaHikayelerin yaşadığı yer. Şimdi keşfedin