Caçar. O que iremos caçar? Outra coisa não seria a não ser animais. Eu sei que esse é um dos passatempos favoritos dele. Acontece que jamais me visualizei adentrando nas entranhas de uma floresta com ele e um rifle. E só de pensar que terei meu primeiro contato com armas de fogo, a ansiedade é inevitável. Será que ele vai me pedir pra atirar em algum alvo? Talvez. Eu não sei. Nunca matei nada antes. Ao contrário de mim, León tem experiência com isso, mas acho que não só com animais. Quem sabe ele já tenha matado pessoas no passado.
Durante a noite, decido tomar um banho após o jantar. Mais perguntas vão enchendo a minha cabeça enquanto eu a lavo com a água do chuveiro. Ele pode mesmo ter executado uma pessoa a anos atrás? Em algum combate em terra firme? Quem foi? Ou quantos foram? Isso importa? Por que estou pensando tanto nisso agora? Faz sentido? Acho que sim. Ele é casado com minha mãe já faz uns 8 meses. Portanto, tenho o direito de conhece-lo mais à fundo, mesmo que isso implique em invocar fantasmas do seu passado sombrio.
Concluo que devo esclarecer minhas dúvidas depois que enxugo a minha pele morena e seco meu cabelo escuro rebelde em corte buzzcut. Visto uma cueca box, e por cima, uma calça moletom cinzenta. Em seguida, ponho-me uma camisa branca. Saio do meu quarto e percorro o corredor do primeiro andar, descendo direto pela escada até chegar na sala de estar.
Lá está León de frente pra lareira acesa, encarando as chamas tremeluzentes, segurando uma taça de vinho pela metade.
- Tá pensando na mamãe? - pergunto, parado perto do sofá.
Ele me observa e sorri.
- Também.
- Não deixou escapulir nada sobre a minha suspensão, né?
- Fique frio - ele toma um gole da bebida. - Ainda estou poupando ela desse desgosto.
Reviro os olhos e cruzo os braços.
- Não me julgue. As pessoas querem me fazer baixar a cabeça. Nem morto vou dar esse luxo à elas.
- Você faz isso em troca de respeito?
- Sim - dou de ombros.
- Só fará com que o temem e criem ódio de você. É assim que funciona. Um homem de verdade não saí por aí impondo a violência pra ser respeitado.
- E como acha que posso conseguir de outro jeito? Sendo um saco de pancadas? Deixar que me humilhem? Na boa, eu não sou bonzinho.
- Não se trata de ser bonzinho. Tem haver com a astúcia. Se for esperto pra conquistar respeito, tem que esperar eles irem pra cima de você. Ai você reage. É a defesa pessoal falando. Porém, nunca vá atrás deles.
É agora. O gancho que eu precisava pra tirar minhas dúvidas tá no papo. Ainda temos uma noite inteira e a conversa só tá começando.
- Isso garantiu a sua sobrevivência no quartel?
- Sim.
- Você aguardava seus inimigos ir até você pra assim mata-los?
- Exatamente.
- Quantos você já matou?
Ele me encara como se eu tivesse chegado atrás dele e esbofeteado a nuca dele. Acho que nunca perguntaram isso à ele. Quem sabe eu seja a primeira pessoa à ter coragem.
- Uns 15 homens. Todos servido aos seus países. E eu, ao meu.
- E você consegue lidar de boa com essas mortes nas suas costas?
Ele dá uns passos até o sofá à alguns metros de frente pra TV, onde se senta e coloca a taça ainda com vinho na mesinha de vidro que fica no centro.
- Não são só mortes. São escolhas. Elas me marcaram por tanto tempo que eu não conseguia ter uma noite de paz.
- Tudo isso era a culpa? - indago, apoiando-me no braço do móvel.
- Era um preço. Um peso, por assim se dizer. Eu tive que parar ou mais nomes seriam acrescentados na minha lista.
- Mas não era uma honra servir ao exército pra proteger o seu povo?
- É como eu te falei. Isso me custou um preço. Nunca gostei de matar pessoas. Mesmo numa guerra. Contudo, entre a bala e a minha vida, o instinto de sobrevivência fala mais alto.
Através daquele semblante, percebo que as lembranças do passado sangrento e deturpado dele são danos irreversíveis. Pobre León. Tirou vidas por razões nada particulares. Mas será que isso é tudo o que ele fez durante a sua jornada como soldado?
- Entretanto, você também salvou vidas, não?
- É. Algumas.
- Não importa a onde a gente vá. Sempre vai ter o lado ruim e o lado bom de todas as experiências. Assim é a vida.
- Foi o que eu absorvi durante as minhas sessões com o psicólogo.
Um brilho de leveza ilumina a escuridão que assombrava o seu rosto.
- Então, você já se senti melhor? - não deixo de perguntar.
- Melhor não. Equilibrado, sim.
Conversamos por mais um tempo sobre sua experiência de vida no exército até que meus olhos começam a pesar e então subo para o meu quarto, despedindo-me dele. Ainda é cedo, mas mesmo assim, a missão de amanhã se inicia à partir do primeiro raiar.
Arrasto-me para de baixo das cobertas e adormeço por completo.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Meu Padrasto Irresistível (Romance Gay)
RomanceMorando em uma cidadezinha do Colorado, Anthony Wilson é um jovem estudante de 18 anos, rebelde, impulsivo e inexperiente, cujo a vida ainda tem muito à lhe ensinar. Sua mãe, Rose, casou-se recentemente com León Pascal, um ex-militar das forças arma...