O sol da manhã é ofuscado por nuvens cor de cobre. Pode ser que chova à qualquer momento, mas já sinto um frio rastejando em minha direção.
Devido à isso, saco meu casaco do closet, junto com um gorro de lã. Calço um par de botas aconselháveis pra se andar pela floresta. Apanho uma mochila que usarei pra carregar uma garrafa térmica cheia de água, uma caixa com biscoitos de leite, uma corda - caso seja útil - e um canivete - extremamente útil. Também guardo espaço para um kit de primeiros socorros. Não tenho certeza do que iremos enfrentar, mas pode ser que a arma do meu padrasto não seja à única coisa capaz de causar estragos. Enfim, pronto, desço pro café da manhã.
León e eu fazemos uma refeição reforçada, de modo que não venhamos à sentir fome tão cedo. Ele me mostra o rifle que irá portar pela caçada, o que me deixa empolgado. Não perdemos tempo. Levamos nossas coisas para dentro da caminhonete e seguimos o curso pra fora da cidade, caindo na estrada.
Recebo uma ligação da mamãe durante a viagem, só pra dar um oi, e também perguntar como León e eu estamos.
- Ele tá me levando pra escola - ele me fita nenhum pouco surpreso por eu por mais lenha na mentira.
Entramos em uma trilha e ele estaciona o veículo próximo à um grande carvalho. Desço da cabine, lembrando de como o cheiro da natureza é lividamente atrativo. Entretanto, isso não quer dizer que estamos seguros quando vejo León passar a alça do rifle por cima do ombro.
- O que planeja caçar? Um javali? Um cervo? Um ganso? Ia ser bem da hora se encontrássemos ursos nessa floresta. Já matou um antes?
Começamos a caminhar, adentrando nos domínios da floresta.
- Já faz uns anos que matei um. Eu tava com um grupo de soldados montando guarda num acampamento quando fomos atacados por três ursos pardos. Um dos homens morreu estraçalhado.
Faço uma careta de horror, o suficiente pra que ele ria satisfeito pelo efeito.
- Não deve ter sido nada bonito - comento.
- Não mesmo - ele concorda.
Ele põe a mão no meu peito, gerando uma paralisia por todo o meu corpo. Olho no rosto dele e reconheço aquele olhar. O instinto de caçador foi ativado. Pelo o que? Não sei. Mas ao ouvir o som de pisadas pelas folhagens no chão mais à frente, percebo que não é humano.
- Ouviu isso? - indaga ele no nível de um sussurro.
- Chegando perto da gente.
- Aposta em que animal?
Varias espécies vem na minha cabeça e somente uma se sobrepõe às outras.
- Javali.
- Cervo. Eu conheço o som dos passos. E é o que mais tem por aqui.
Quem sou eu pra discordar de um cara que teve uma vida particularmente de sobrevivência nua e crua? Dentro de 5 segundos, um cervo de tamanho médio com galhadas pontudas em ângulo crescente sobre sua cabeça sai de trás de uma rocha a aproximadamente 10 metrôs de distância da gente. Chegamos um pouquinho mais perto e nos agachamos perto de uma árvore.
- Sabe atirar?
Sou pego tão desprevenido que encaro ele de olhos arregalados.
- Q-quer que eu atire nele?
- É fácil. Eu te ensino. Presta atenção.
Puta que pariu! Isso tá ficando bem foda.
León me entrega o rifle com uma essência mortal que pesa sobre minhas mãos. Esforço-me pra não começar à tremer. Ele fica atrás de mim, perto o bastante pra que eu sinta a sua respiração na minha nuca. Um arrepio elétrico percorre toda a minha estrutura conforme suas mãos me tocam, acelerando as palpitadas do meu coração. E ai ouço sua voz rouca me orientando no pé do ouvido.
- Mantenha a base encostada no ombro. Você vai sentir um leve impacto por conta da pressão. Segure firme e relaxa. Quando estiver pronto, vai com tudo.
Aponto o cano pro cervo, mirando bem na sua cabeça. Dou um longo suspiro. Meu dedo indicador, úmido de suor, encosta na base do gatilho. Se eu for lento, vou acabar perdendo-o. Então, é isso que acaba me movendo.
O disparo me assusta tanto quanto o baque do corpo do animal desmoronando no solo.
Caralho.
- Uau. De primeira. Mandou bem, garoto. Tá pronto pra guerra - ele dá uns tapinhas no meu ombro.
- Literalmente.
- Tem razão. Vem me ajudar à carrega-lo até a caminhonete - ele se levanta, gesticulando para que eu o siga.
Concentro toda a minha força em meus músculos pra levar o cervo morto com o auxílio de León até a carroceria do veículo.
- Tá afim de participar da próxima etapa? - pergunta-me ele, conduzindo-nos de volta pra cidade.
- Que etapa?
- Vamos tirar a pele e separar os pedaços.
- Onde vamos fazer isso?
- Eu tenho um amigo que tem um açougue perto de casa. Tá fechado já faz 1 ano, mas sempre que abato um animal, peço à ele o local emprestado. É equipado com tudo o que precisamos.
A chuva finalmente atinge o chão assim que chegamos na frente do tal açougue. Tem uma garagem e acredito que é por lá que entraremos. Nessa hora, León me pedi pra assumir o volante e levar a caminhonete pra dentro do espaço depois que ele levantar a porta. Só que antes que ele saia e corra sob a cortina de água até a fachada, ouço ele dizer:
- Eu tava pensando, o que você acha da gente voltar à floresta um dia desses pra acampar?
De uma coisa eu tenho certeza: o repertório de ideias de León referentes a atividades que se pode fazer com seu enteado é tão genial que nem meu pai se deu ao luxo de ter quando eu ainda era uma criança.
- Excelente ideia - respondo, sorrindo.
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Meu Padrasto Irresistível (Romance Gay)
RomanceMorando em uma cidadezinha do Colorado, Anthony Wilson é um jovem estudante de 18 anos, rebelde, impulsivo e inexperiente, cujo a vida ainda tem muito à lhe ensinar. Sua mãe, Rose, casou-se recentemente com León Pascal, um ex-militar das forças arma...