O entusiasmo da Sra. Hanks ao explicar cada detalhe da Segunda Guerra Mundial é contagiante, influenciando boa parte da turma à absorver com interesse as informações. Isso é ótimo, de certa forma, pois dá até para cogitar que ninguém está de fora, isolado do fascínio coletivo. Desse jeito, como eu já sei tudo sobre o assunto, decido discretamente relaxar no encosto da cadeira deslizando os dedos sobre a tela do meu celular, escondido sob a mesa.
A moça sentada na carteira ao meu lado que cantou quase sussurrando uma canção da Wolf Alice naquele dia que fugi da escola correndo por de baixo de uma cortina de chuva, agora está cantarolando para si mesma o clássico Baby Blue do Badfinger. A medida que a música também vai badalando na minha cabeça, acesso a galeria de fotos do meu aparelho, clicando numa específica, aquela de uma certa pessoa se alisando com um cara gay dentro do Heliogábalo. Como eu disse ao meu padrasto, farei bom uso desses registros.
Dou uma olhada para a fileira de alunos próxima ao janelão de vidro e lá, na terceira carteira, avisto Rick Mason com a cabeça baixa fazendo o mesmo que eu: usando o celular secretamente. Sem a mínima decência e sorrindo com malícia, marco o arquivo e envio para o chat do perfil dele no Facebook. Volto à observa-lo, e então, ansioso, espero.
De repente ele olha às pressas para mim e mexo as sobrancelhas, sentindo-me o rei no topo da montanha. Fica bem nítido que ele está em choque, surtando por dentro. Sem ter o que dizer, ele esconde o rosto de mim, fingindo concentrar-se na aula até o final.
O toque da sineta arranca todos dos lugares, saindo um por um da sala escutando o aviso da Sra. Hanks para que a turma faça uma pesquisa sobre A Influência Através da Propaganda na Alemanha Durante a Segunda Guerra. Junto-me aos demais, saindo para o corredor abarrotado de gente. Ando pelo meio, em linha reta, espiritualmente destemido, presumindo estar sendo seguido de perto por alguém.
Dobro para a direita, desço dois lances de escada e sigo para a esquerda, até entrar no banheiro dos rapazes. É aqui que irei despista-lo. Escondo-me no canto entre a parede e a porta. Em questão de segundos, Rick rompe pelo local. Com ele de costas, afasto-me como um fantasma e caminho para fora do prédio, escolhendo uma mesa vazia no jardim para sentar em cima.
Minutos mais tarde, Rick dá as caras, puto, andando à passos largos até onde estou.
- Você é lerdo, sabia? - tiro uma com a cara dele.
- Que porra é essa, Wilson? - ele ergue a tela do próprio celular, mostrando-me a foto que compartilhei.
- Uau. Você tava bonitão. A noite foi boa?
- Vai se foder. Eu não te devo nada. Por que tá fazendo isso?
- O que eu estou fazendo, Rick?
Ele tranca a boca, mas logo volta à falar.
- Quanto quer?
- O que? - franzo o cenho.
- Ninguém pode ver isso. Eu te dou grana. Quanto você quer pra deletar essas fotos?
- Senta aí - indico o espaço ao meu lado. Assim que ele faz, resolvo ser direto. - Eu não quero nada além de uma única coisa: a verdade. Por que você sempre me azucrinou todo esse tempo? Eu nunca te fiz nada, mas você vinha atrás. Isso é por que eu sou gay?
- Não é só isso - Com uma revirada de olhos e um suspiro, ele continua. - Você não usa uma máscara. É livre pra ser quem quiser. Quando fiquei sabendo que você é gay, eu senti uma baita inveja. E um pouco de admiração.
Admiração? Foi isso mesmo que eu ouvi de um valentão homossexual incubado de dezoito anos? Admito que estou surpreso e acho que seja por eu sempre ter esperado coisas ruins dele.
- O que te faz sempre andar pra atrás fugindo de quem você é? - pergunto.
- Família conservadora e o resto você já sabe. Todo mundo me vê como o homem branco e hetero digno de dinheiro, oportunidades e sucesso. Sem falar na popularidade.
- E como se sente?
Ele demora um pouco para responder. É como se ele ainda quisesse sustentar o peso, mesmo que as pernas dele quebrassem e depois visse que de nada adiantou.
- Eu me sinto um merda. Todos os dias. É irritante e exaustivo.
- E o que você gostaria de fazer sobre isso?
- Eu não sei.
Passo os olhos pelo cenário da área aberta em minha volta e avisto reunidos em uma mesa os amigos de Rick olhando para nós. As expressões se dividem entre curiosidade e incômodo por ele estar dialogando pacificamente pela primeira vez comigo. Um deles, uma moça com cara de coruja buraqueira mostra o dedo médio para mim. Nenhum um pouco ameaçador. Debochado, estendo a mão e sopro um beijo.
Os olhos dela soltam faíscas ao ser provocada. Então, ela se levanta e vem se aproximando, junto com o resto do grupo. Seria bom se uma voz alertasse eles de que estão prestes à cometerem um péssimo erro. Eles podem até me cercarem e tentarem me bater, mas nenhum restará de pé.
- Melhor você ir - recomenda-me Rick, receoso.
- Quer continuar essa nossa conversa mais tarde? - indago, tranquilo.
- Mais tarde - combina ele.
- Ora, ora - a garota tem a voz mais desdenhosa que já ouvi. - O putinho do padrasto sabe como conquistar alguém. Esse casal vai dar o que falar. Mudou de lado, Rick?
- Deixa ele, pessoal. Vamos - Rick se levanta gesticulando para que todos o sigam.
- Uau. Ele é aliado do baitola agora.
- Mas que porra! Vão se foder vocês! Caralho!
Todos em volta olham assustados para Rick, revoltado.
- Calma, Rick. A gente só tava brincando. Relaxa - diz a garota, sem jeito.
Rick olha para mim sem dizer uma única palavra e vai embora, deixando todos confusos e se questionando o que ele tem. Mas somente eu sei o que há com aquele pobre rapaz. Quem sabe eu possa ajuda-lo de alguma forma.
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Meu Padrasto Irresistível (Romance Gay)
RomanceMorando em uma cidadezinha do Colorado, Anthony Wilson é um jovem estudante de 18 anos, rebelde, impulsivo e inexperiente, cujo a vida ainda tem muito à lhe ensinar. Sua mãe, Rose, casou-se recentemente com León Pascal, um ex-militar das forças arma...