5. Pedaços de Carne no Açougue

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No instante em que os dedos de León ligam o interruptor na parede, toda a escuridão do espaço é varrida pela luz das lâmpadas de LED. Puxamos o cervo da carroceria e o despejamos em cima de uma mesa de madeira. Sou apresentado e cercado por uma variedade de instrumentos carniceiros. Desde ganchos até serra-fitas. Um cheiro de produtos de limpeza me dá à entender que o local foi lavado recentemente. Mesmo assim, não há nada de encantador ali. Pelo contrário, chega à ser um pouquinho sombrio, o que é bem legal.

León e eu colocamos aventais por cima de nossas roupas e forramos nossas mãos com luvas de borracha. Ele me ensina à maneira correta de decepar a cabeça do cervo. A carne é macia e com a lamina amolada do facão não me resta dificuldades. Fica mais divertido ao passo que removemos a pele do animal. Em seguida, esquartejamos as partes. Tem uma caixa de papelão perto do tanque contendo pratos de isopor e um rolo de plástico filme que vão servir muito bem pra embalarmos a carne.

- Isso aqui é muito melhor do que ir pra porra daquela escola - digo enquanto fatio um pedaço do pescoço da caça - Nunca vão ensinar a gente a caçar animais, e muito menos, fatiar um cervo fresquinho. Já até pensei em um nome pra essa disciplina.

- E qual seria? - indaga ele, pesando o coração do cervo numa balança.

- Sobrevivencialismo. Creio que "caça" seria um módulo sobre como conseguir comida. Essa matéria abriria margens pra falar de outras coisas relacionadas à sobrevivência.

- A proposta seria depender cada vez menos dos recursos da sociedade e obter mais conhecimentos dos tipos naturais, né?

Desenvolvo um fascínio imensurável por esses momentos em que León consegue me surpreender.

- Você seria o professor perfeito pra ensinar isso - comento.

- Então, aproveite - ele sorri, meio que metido. - Só temos mais dois dias pra eu te ensinar algumas coisas.

Esse é um fato me causa uma pontada de desânimo na minha alma.

- Caralho. Isso é que é ruim. Assim que acabar, eu volto pra lá. Teria sido melhor se eu tivesse sido expulso.

- Quer um conselho, rapaz?

Dou de ombros, embora eu não recuse ouvir.

- Termina seus estudos. Foque nas suas metas. Faça aquilo que você sempre amou fazer. Não dê satisfação à aqueles que não merecem saber da sua vida. Deixe que eles cuidem de si mesmos. No fim das contas, só o que vai fazer sentido é o seu sucesso.

Absorvo suas palavras naturalmente, sentindo que juntando tudo o que ele disse, obtenho uma profunda mensagem.

- Você tá dizendo tudo isso por quê acredita em mim?

- É exatamente isso - ele me lança uma piscadela.

- Você é realmente insano por apostar em um jovem louco feito eu.

- São pessoas como você que sabem como se superar.

- Eu não sou essa pessoa.

- Mas confia em si mesmo?

Tá aí uma coisa que eu nunca parei pra pensar. De repente é como se meu cérebro entrasse em curto circuito. Eu confio em mim mesmo ou apenas aparento ser confiante?

- Eu acho que sim - respondo meio que sem muita certeza.

- Não ouse duvidar. É isso o que os outros querem. Se não quiser ser a caça, assuma o manto de caçador - seus argumentos são uma lenda!

- Queria ter tido esse tipo de diálogo com o meu pai.

- Qual é o nome dele?

- Leonard - falar o nome do meu pai invoca os fantasmas imortalizados no meu subconsciente.

- E o que aconteceu com o nosso querido Leonard?

- Ele tá na cadeia.

O jeito como León olha pra mim é de alguém que se sente mal.

- Sinto muito por isso.

- Ele mereceu, León - corrijo-lhe - Minha mãe alertou ele, de tantas formas. No fim, ele só ouviu à si mesmo. O sonho dele era ser rico, o bastante pra construir um império. E adivinha qual foi o seu produto de comercialização.

- Drogas ilícitas.

Ele é tão certeiro que me leva a cogitar a possibilidade sobrenatural de ele ler minha mente. Só faço continuar falando.

- Eu tive tanto desgosto. Consegui visita-lo uma única vez. Mas foi a pior escolha que eu já fiz. Minha esperança de que ele fosse se arrepender pelo o que fez foi toda pro ralo quando ele jogou na minha cara que foi tudo culpa minha e da mamãe.

Ele fica em silêncio. Parado. Apenas me observando. Se ele estiver achando que deve dizer algo pra me fazer se sentir melhor, já deve ter pensando que é uma perda de tempo. Não há nada de bom que supere essa coisa terrível que é ter um pai egoísta residindo em uma cela de presídio.

- É por isso que às vezes eu perco a cabeça. Isso foi demais pra mim. Dai eles falam merdas só pra me atingir e a coisa só piora. Agora você entende por quê eu sou assim.

E então, ele intervém, contradizendo-me.

- Entendo que se sinta mal por isso. Só que essa é a pessoa que eles querem que você seja. Te colocar pra baixo é o que vão fazer. E você precisa revidar.

- Como? Me diz como? - acabo me irritado.

- Cagando pra eles - ralha ele, cuspindo saliva na carne.

Não sei como, mas toda a irritação acaba quando minhas risadas ecoam por todo o açougue.

- Você tem um sorriso bonito - ele me elogia.

Reviro os olhos de brincadeira.

- Não brinca. Já reparou no seu? É mais bonito que o meu - agora sou eu quem faço ele rir.

- Eu nunca te disse isso antes, mas vou dizer agora. Você é um rapaz adorável. Se você não fosse meu enteado, eu ia te levar para um encontro comigo.

Mas o que?! Que porra é essa agora?! Minhas bochechas enrubescem e tento disfarçar, torcendo pra que ele não perceba. Ele disse mesmo isso?

- O que? Ah não. Isso foi muito aleatório. Como assim? Tá falando sério?

Ele assenti e alguns segundos depois decido entrar no que acredito ser apenas uma brincadeirinha.

- Bom. Você é um cara incrível. Minha mãe nunca esteve errada à seu respeito. Se você não fosse meu padrasto, eu te daria um beijo.

- Uau. Que ousadia. Se tá falando sério, pode vim.

- Eu falei "se você não fosse o meu padrasto".

- Eu não ligaria muito pra isso.

- Tá me dando permissão pra te beijar?

Ele larga o facão e o que ainda resta de carne, afastando-se da mesa, fitando meus olhos com aquele seu olhar envolvente, esperando que eu realmente sele a minha boca na dele. Aquela boca que me deixa tímido. Meu Deus! Eu não mereço isso.

- É melhor não - respondo.

- Por que?

- Você é meu padrasto. Seria estranho. E errado.

- Ninguém precisaria saber.

Ninguém saberia. Óbvio. Assim como nem ele mesmo sabe que às vezes penso nele de um outro jeito. Tratando-me de outra maneira. Por eu ter a bendita noção de que não sou seu filho, temo que as chances de eu me envolver com esse homem são impressionantemente altas. Mas minha mãe é a única pessoa que me faz pensar duas vezes à respeito desse desejo proibido. Por mais que eu tente ignora-lo, eu fico mais excitado.

Meu Padrasto Irresistível (Romance Gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora