42. Morto? Vivo? Inteiro? Tá Foda.

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As batidas da bateria intercaladas com o som da guitarra, também estão mesclados com o baixo e o teclado, criando uma melodia familiar e divertida. Olho em minha volta e as luzes ganham formas. Vermelhas, amarelas, azuis, verdes e qualquer outra cor que torne o espaço colorido e badalado o suficiente para que todos dancem conforme o ritmo da música. De início, tudo me é estranho, mas logo fica maravilhoso.

Meu pai, todo galante e reluzente vestindo terno e gravata, puxa-me pelo braço e me envolve com aqueles passos elétricos e engraçados dele. Do outro lado, a mulher de cabelos ruivos, usando um brilhoso vestido vermelho, rebola o quadril e mexe os braços no ar. Minha mãe. Os dois me cercam e estamos rindo e compartilhando o que seria o melhor momento de nossas vidas.

A voz da cantora rompe pelo salão agitado vindo de algum lugar.

Show me, show me, show me, how you do that trick.

Jamais me nego a chance e danço loucamente eufórico com eles o cover da música do The Cure. Minhas mãos encontram as do meu pai, grossas e quentes. Performamos uma dança de casal. O mesmo faço com minha mãe. Chega até ser inacreditável que eles me trouxeram mesmo ao baile de pais e filhos da escola.

- Eu amo vocês para sempre - declaro à Leonard e Rose Wilson.

Os rostos risonhos deles, junto com as cores do lugar e o canto, mergulham numa escuridão repentina, sendo substituídos por bipes que me lembram muito um monitor cardíaco. Suspendo as pálpebras devagar, sentindo ao mesmo tempo a lateral de um rosto definido tocando a minha mão.

A imagem vai ficando mais nítida e vejo a face de líder carrasco militar do meu padrasto fixando os olhos em mim.

- Bem-vindo de volta, baby boy - mesmo rouca, a voz dele traz doçura no tom.

- Onde é que eu estou? - pergunto com a garganta seca.

- No hospital. Internado. Por favor, tenha cuidado ao se mover.

- Por que?

Inclino-me um pouco para me levantar e já me arrependo quando um choque de dor aguda me arruína na região do tórax. Péssima ideia mesmo. Mantenho o corpo parado no leito hospitalar.

- Pelo amor de Deus, diz que eu ainda estou inteiro - meu temor é alto.

- O baque não foi muito forte. Você sofreu fraturas simples em duas costelas. Alguns machucados no rosto, braços e pernas. De resto, tá tudo no lugar - ele me explica.

Suspiro aliviado por não ser mais que isso.

- Você não faz ideia do medo que tive de te perder - o semblante dele fica soturno.

- Eu tô aqui - percorro meus dedos na bochecha dele e isso o faz relaxar um pouco. - Onde estão Quinn e Jeffrey?

- Eles voltaram pra cabana. Jeffrey tá por aqui hoje. Daqui à pouco ele tá voltando pra ver como você está.

- Pode me contar o que rolou depois que salvei a vida do seu pai?

León narra de forma resumida os fatos. Após o instante que apaguei na pista, Fred ficou imóvel. Ele e os irmãos saíram correndo do motel, desesperados. O motorista do veículo que me atropelou ligou urgente 911 e após cinco minutos uma ambulância surgiu.

No final, enquanto os paramédicos me colocavam na maca, meu padrasto ordenou que Quinn e Jeffrey levassem Fred para a cabana para mantê-lo lá.

Chegando no hospital, passei por alguns exames e alguns raio X. O doutor tranquilizou León sobre meu estado não ser nenhum pouco grave. Eu dormi por dois dias.

- Deus teve piedade de mim, então - digo.

- Por que tomou o lugar dele na pista, Anthony? - pela expressão dele, sinto que meu ato o incomodou.

- León, ele é o seu pai. Ele ia mesmo se matar. Nunca devemos permitir que as pessoas façam isso com elas mesmas, mesmo tendo feito coisas erradas. Afinal, somos humanos.

- Nem tudo eu vou tolerar. Mas nesse caso, eu não tiro a sua razão.

- Obrigado.

Mais tarde, depois do almoço, sou visitado pelo doutor Fable. Amistoso e sutil, ele analisa a minha pressão, minhas pupilas com uma mini lanterna, e me pede para inspirar e expirar relaxadamente. Nenhuma dor, apenas quando vou me levantar.

- Terá que ficar mais dois dias aqui, Sr. Wilson. As fraturas nas costelas ainda são recentes. O repouso é de suma importância, até mesmo depois que voltar para casa. Evite carregar peso, fazer esforços e qualquer outra coisa que venha comprometer a sua recuperação. Dei ao Sr. Pascal uma lista com mais cuidados a serem tomados e com o nome do analgésico e do anti-inflamatório para que você consuma. Não exagere nas doses. Seus ossos irão sarar dentro de um a dois meses. Sugiro que volte aqui após esse período - ele pousa a mão no meu ombro e me fita com ternura no olhar. - Confio em você. Não seja precipitado. Logo estará curado, meu jovem.

- Obrigado, doutor - agradeço sorrindo levemente. - Prometo que farei o que é certo.

Minutos após a saída do doutor, Jeffrey entra no quarto. Ele demonstra um pouco de culpa pelo meu acidente. Eu o tranquilizo. No fim, sou abordado por uma triste notícia.

- Quinn e eu vamos voltar para o Texas amanhã mesmo. Vamos levar o nosso pai também. Digamos que nossa missão está encerrada. As coisas vão se firmar nos trilhos agora.

- Gostaria que você e o seu irmão ficassem mais um pouco - respondo, inconformado. - Mas eu entendo que vocês tem outras coisas à fazer, fora do Colorado.

- Passaremos aqui antes de irmos pro aeroporto. Acho que o papai tem algo para lhe dizer.

Ansiando para saber o que seria, só descubro na manhã seguinte, assim que Quinn e Jeffrey trazem Fred junto com eles. Meio sem jeito, o senhor se aproxima de mim e resolve ser breve.

- Obrigado por me salvar.

- Ficarei mais agradecido se o senhor se tornar um homem melhor.

Ele assenti. Tomará que seja um sinal por ter compreendido o meu pedido. A mudança de caráter leva um longo tempo e espero mesmo que ele mude.

- Foi um prazer incomparável conhecer você, baby Thony - Quinn me abraça e beija o meu rosto. - Nos veremos outra vez.

- Ah Quinn. Acho que já estou sentindo sua falta. E também do Jeffrey - olho para ambos, ainda melancólico e descrente com a passagem deles ter sido muito rápida.

- Recupere-se primeiro, novinho - Jeffrey me faz um cafuné na cabeça. - Teremos mais aventuras pra você, no Texas. E ainda vamos transar muito, não é mesmo?

León dá um soco no braço do irmão, que reclama de dor e arregala os olhos, assustado.

- Ele é meu - meu padrasto marcando território.

Nós quatro rimos, menos o pai dos três irmãos, que parece não ter gostado muito do que ouviu.

Meu Padrasto Irresistível (Romance Gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora