Capítulo 2

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Não, sei o que fazer, escuto João Carlos falando e sinto a minha mente embaralhar as ideias, sinto uma forte náusea, perco o controle sobre as minhas pernas, minha visão fica turva, sinto meu corpo despencar e alguém me amparar, desmaio.
Volto à consciência quando passam um algodão embebecido em álcool próximo à minha narina.
Sinto um pouco de dor de cabeça, ao abrir os olhos, noto que estou em meu quarto, deitado em minha cama.
Escuto a voz de João Carlos e, com dificuldade, me sento na cama. Continuo com um pouco de náuseas, respiro fundo e solto o ar devagar.
Olho para João Carlos, sentado ao meu lado, com Alisson deitado em seu colo. Sinto minha cabeça girar novamente, mas mantenho a calma e, fazendo um exercício de respiração, consigo tirar essa sensação de que vou desmaiar novamente.
— Não imaginava que você fosse desmaiar Vladimir, a saudade de mim era tão grande assim, então, é sinal que você continua me amando, caso contrário teria me expulso daqui.
— O que faz aqui, João Carlos? Por que me procurou após doze anos?
João Carlos se aproxima de mim e acaricia o meu rosto, e eu fecho os olhos para sentir seu toque. Ele sempre causou esse efeito em mim e eu, ao lado dele, me sinto impotente. 
— É muito simples, Vladimir, eu voltei porque eu te amo.
Não, não é possível, ele só pode estar brincando. Após todos esses anos, ele me procurou e disse que me ama. Não somos mais adolescentes e eu não sou mais aquele garoto de dezesseis anos que namorou ele por três anos e foi usado e depois de um tempo abandonado.
— João Carlos, não minta para mim, eu não sou mais aquele adolescente de dezesseis anos que você namorou, agora eu sou um homem de vinte e cinco anos, médico e tento seguir a vida adiante.
— Eu sei que errei depois que transamos, mas eu fiquei confuso, eu que achava que sabia o que queria, acabei ficando com medo da reação dos meus pais ao descobrir que eu tinha transado com você e gostado, só depois que tomei a coragem e me assumi para os meus pais, eu percebi o quanto eu tinha errado com você.
— Não pense que foi fácil para mim Vladimir, ficar longe de você todos esses anos, te amando e não tendo você, eu te procurei em todos os lugares, bares da cidade e sem sucesso.
Não me admira que ele não tenha me encontrado. Eu fui estudar medicina nos Estados Unidos e pedi para os meus pais não revelarem para ninguém onde eu estava.
— Quem te deu o meu endereço? João Carlos.
— Seus pais, depois de muita insistência minha, até eles, acham que precisamos conversar. 
Sinto as náuseas voltarem, como meus pais puderam fazer isso comigo?
Em simultâneo a esse mal-estar, eu sinto as borboletas bagunçarem meu estômago. 
Ainda com a mão em meu rosto, João Carlos me olha com paixão, a mesma com que ele me olhou em nossa primeira vez. Eu me sinto a merce dele, sinto sua mão caminhar até a minha nuca, meu corpo se arrepia e eu tento manter a postura, João, chega até o meu rabo de cavalo e solta o meu cabelo.
— Você sabe que eu gosto deles soltos, por que prende?
Esse cara só pode estar brincando comigo, como ele pode chegar assim, em minha casa do nada, para tirar a minha paz e sanidade, dizendo que me ama?
Ainda me olhando, ele coloca a mão em meus cabelos pela direita e se aproxima de meus lábios.
Eu não consegui evitar o beijo, sinto João invadir a minha boca com a língua, em busca da minha, que tento deixar longe da dele, porém sinto meu corpo se esquentar e acabado cedendo e vou com a minha língua ao encontro da dele, que aprofunda o beijo.
Me dei conta de que sentia falta do beijo de João, por doze anos, evitava sair para me divertir com outros rapazes. Por mais que tentasse beijar outras bocas, elas não tinham o sabor e o calor da boca de João, então eu foquei em meu trabalho e passei a recusar os convites para sair.
E hoje, após doze anos, João está com sua boca colada à minha, e eu não consigo afastá-lo de mim. Por mais que eu sinta que não seja certo beijá-lo, eu me deixo levar pelo beijo que está me dando calor, a começar pela cabeça, passas por todo o meu corpo e morre nos pés. 
Não conseguindo me afastar, começo a chorar, as lágrimas descem em meus olhos, o beijo que estamos compartilhando está me emocionando.
Quando finalmente terminamos o beijo, eu noto que, assim como eu, o João chora.
— Me perdoe Vladimir por ter te deixado após a nossa primeira vez. 
— Hoje eu sei o quanto eu fui fraco e idiota.
Não sei o que pensar, eu planejava ficar assistindo a um bom filme, não imaginava ver João Carlos após doze anos, não sei se posso confiar nele se me abandonou no passado.
Porém, entendo que tínhamos apenas dezesseis anos e é normal ter medo.
Por Deus, eu não sei o que pensar. 
Sem saber o que fazer, eu abraço João Carlos e me lembrei do quanto é bom estar nos braços dele.

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