Capítulo 52

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Hermes

Nosso professor está internado na UTI da Santa Casa de Campos do Jordão, eu e meus amigos estamos abalados com essa notícia.
Um belo dia estávamos na rua conversando.
Eu e Natanael temos esse hábito há muito tempo já.
Até que Ieda resolve dar uma volta de bicicleta, não a acompanhamos, pois queríamos ficar ali sentados em frente à casa de Natanael.
— Eu volto logo, amigos, só vou dar uma volta no quarteirão.
Demos até logo para Ieda e continuamos sentados em frente à casa de Natanael.
Até que Dona Rosa, a mãe de Ieda, vem até nós com uma carta em mãos, com a face preocupada, ela nos fala:
— Meninos, cadê a Ieda?
— Dona Rosa, ela acabou de sair para andar de bicicleta.
Dona Rosa está inquieta e perguntamos o porquê de tanta inquietude.
— Esse é o motivo, meninos.
Pegamos a Carta da mão de Dona Rosa e lemos.
Na carta dizia:

Queridos papai e mamãe:

Eu sei que não vou viver por muito mais tempo, mas agradeço a Deus por tudo que vivi ao lado de vocês.
Nesses dezoito anos de vida, eu fui feliz.
Se voz escrevo, é porque sei vão atender ao meu último pedido.
Vocês sabem que eu sou sangue dourado, que herdei essa mutação de sangue da combinação do DNA de vocês dois.
Eu peço que, depois que eu partir, doem meus órgãos, eu quero estar viva em outras pessoas. Vocês conhecem esse desejo meu, pois eu já lhes disse isso certa vez.
Mas o coração eu quero que doem para o João Carlos, meu professor de história e geografia, que tem o mesmo sangue dourado que eu, pessoa com deficiência, cardíaca grave, eu peço que doem meu coração para ele.
Por favor, mamãe e papai, eu sei que vão respeitar a minha vontade.
Para saber sobre o meu professor, vocês podem perguntar para o casal Natanael e Hermes, meus amigos de escola. Nós, com o professor João, fazíamos uma reunião em quarteto sempre na hora do recreio, para dividirmos sonhos e objetivos.
Mãe, pai, eu sei que posso contar com vocês, eu queria viver mais tempo ao lado de vocês, mas sinto que logo Deus vai me querer ao lado dele.
Por favor, salvem a vida do João Carlos, a quem eu tenho tanto apresso.
Amo vocês.
Sua filha amada Ieda.
Ficamos gelados com o que lemos na carta e entendemos o porquê de a Dona Rosa estar tão inquieta.
— Meninos, isso me preocupa, pois a Ieda é saudável.
— Se ela continuar assim, eu serei obrigada a buscar atendimento psicológico para ela.
Pergunto onde ela encontrou a carta.
— Bom, Hermes, eu encontrei na gaveta em que ela guarda suas roupas íntimas.
— Eu fico lisonjeada de minha filha querer doar seus órgãos se morrer, e já prometemos que vamos doar, mas essa carta da Ieda foi longe demais.
Tentamos acalmar a dona Rosa, mas uma vizinha chega correndo desesperada e sua aparência é pálida como se tivesse visto um fantasma.
— Ai, Rosa, não queria ser eu a portadora de uma notícia tão ruim.
Rosa leva a mão ao coração como se já soubesse que a notícia tem a ver com a Ieda.
— Diga logo, Glória, o que aconteceu com a minha filha?
Glória conta que a Ieda foi atropelada por um caminhão, que destruiu sua bicicleta e a lançou longe.
— Rosa, os paramédicos estão tentando salvar a Ieda, corre lá.
A mãe de Ieda corre desesperada para o local do acidente e eu e Natanael acompanhamos. Quando ela chega, os paramédicos já estavam atestando a hora da morte e cobrindo o corpo com um lençol que um dos moradores emprestou para nossa amiga não ficar exposta.
A mãe de Ieda entrou em choque no local do acidente. Foi necessário eu e Natanael chamarmos o pai de Ieda em casa e dar a triste notícia para ele, que saiu para o local do acidente chorando.
Quando ele chegou, o IML já estava levando a Ieda do local. Sem chão, ele ampara Rosa, que está totalmente em choque.
Eu continuo com a carta de Ieda em mãos e releio.
Chorando em silêncio, eu percebo que a Ieda, mesmo sabendo que Deus ia querer do lado dele, pensou no João Carlos. Ieda, com essa atitude, prova que é nobre e de bom coração.
Amasso a carta na minha mão e Natanael, também chorando, me ampara. Nosso coração está chorando por perder uma amiga tão linda e humana como a Ieda e eu espero que seus pais respeitem a vontade dela.
Olho para o céu e pergunto: por que Deus?
Será que essa é a missão para a qual a Ieda nasceu para cumprir?
Isso só o pai celestial sabe, o que eu sei é que eu e meu amigo Natanael não vamos esquecer a nossa amiga Ieda.

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