Capítulo 45

0 0 0
                                    

Vladimir.

Após a ducha, nos perfumamos e saímos, meu amor quer namorar em uma praça e eu resolvi atender a seu desejo.
Não fomos a uma praça muito longe, não, pois meu amor está a cada dia que passa com seu coração mais debilitado.
Sei o medo de João Carlos, ele que é portador de um tipo de sangue raro, o medo de não encontrar um coração compatível com o dele, isso para falar a verdade também me assusta e muito, só que tento não demonstrar isso para o meu namorado.
Cheguei a estudar sobre o sangue dourado na faculdade.
O nome faz referência ao sangue com fator Rh nulo, ou seja, sem o antígeno na superfície dos glóbulos vermelhos, que possui o anticorpo Anti-D, usado em injeções para gestantes.
Mas para quem tem esse sangue de Rh nulo é um verdadeiro inferno ficar doente, pois ele só pode receber transfusões e transplantes de pessoas com o mesmo sangue.
E, na certa, o meu namorado tem medo de não encontrar um doador compatível com seu sangue nulo.
De mãos dadas, nos sentamos em um banco da praça, a noite está agradável. 
Vou até um sorveteiro e compro dois sorvetes para nós dois e me sento ao lado de João Carlos.
— A noite está agradável, não é Vladimir?
— Está, amor, e eu estou contemplando da mais agradável companhia. 
Tomamos os nossos sorvetes e observamos as pessoas passeando de um lado para o outro, cada uma seguindo sua vida e tendo a sua luta.
— Vladimir, eu sou egoísta amor, e não vou ir embora desse mundo, eu vou ficar com você, amor. Eu tenho fé e sei que, mesmo tendo o Rh nulo, vai aparecer um coração dourado para mim e eu serei salvo.
— Eu também sou egoísta João Carlos, e não vou deixar você ir embora, amor.
João Carlos olha para o céu e me pergunta:
— Rh, amor, o que significa essa sigla no caso de sangue Vladimir?
Não esperava essa pergunta do João Carlos.
— Bom, amor, o fator Rh recebeu esse nome porque sua descoberta foi feita utilizando-se sangue do macaco do gênero Rhesus.  Por esse motivo, o nome Rh, positivo, negativo ou nulo/ dourado, como o seu.
João Carlos me olha profundamente e dispara uma pergunta que eu não esperava:
— E você ama esse homem que tem uma grave deficiência? Esse sangue, que na adolescência me trazia alegria, pois me achava único, mas agora...
Calo a boca dele com um beijo.
— Amor, não diga essas coisas, o seu sangue pode salvar vidas, muitos bebês foram salvos através do braço de ouro.
Conto para o meu amor a história de James Harrisson.
Nos últimos 60 anos, Harrison teve papel ativo na produção da vacina que previne a DHPN (Doença Hemolítica Perinatal), que pode ocasionar danos cerebrais, anemia, insuficiência cardíaca, aumento do figado e do baço e até a morte de recém-nascidos. Além dos antígenos A e B, presentes nos tipos sanguíneos A, B e AB, as células do sangue possuem outras proteínas, conhecidas como fator Rh, e sua existência ou inexistência estabelece se o tipo sanguíneo é positivo ou negativo. No caso de Harrison e outros portadores do 'sangue dourado' o fator Rh é inexistente em razão de uma mutação genética. Esta condição também transforma pessoas como Harrison em doadores universais para casos raros do sistema Rh, já que os antígenos que desencadeariam o sistema imunológico são inexistentes.Aos 14 anos, após passar por uma cirurgia crítica que exigiu transfusões de sangue, James Harrison descobriu a sua rara condição. Desde então, ele passou a doar seu plasma sanguíneo o máximo que lhe era permitido. Em 2018, ele anunciou aposentadoria das ações.
— Você vê, amor, ele salvou a vida de muitos bebês que poderiam morrer nos úteros de suas mães e, com a vacina feita com seu plasma, evitou muitos casos de abortos, quando a mãe é fator RH negativo e seu bebê positivo, com a vacina feita com seu plasma.
João me olha e determina que, se se salvar, vai doar seu plasma para ajudar as pessoas.
— Isso mesmo, amor, esperança sempre e eu estarei ao seu lado para ver isso acontecer.
— Já te disse que gosto dos seus cabelos soltos, amor?
— Sim, sempre me diz; por isso, estão sotos agora.
Nos olhamos em silêncio e João mexe em meu cabelo sorrido.
Ao vê-lo sorrir, é impossível acreditar que ele tem uma doença tão grave quanto a insuficiência cardíaca.
Ele passa a mão em meus cabelos atrás da nuca e me puxa para um beijo.
Nossos lábios se colam, eu me perco naquele beijo, eu poderia afastar ele de mim, mas não o fiz, que se exploda o mundo e sim nós estamos juntos e é desse jeito que a gente gosta, estamos nos beijando em um lugar público e aberto para quem quiser ver.
Já é hora de assumir nosso amor para o mundo, pois essa é a nossa realidade, nos amamos.

Melhor que antes Where stories live. Discover now