Capítulo 13

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Vladimir

Depois de um dia puxado de trabalho, eu me pego arrumando a minha sala na Santa Casa. Hoje foi o dia das crianças acidentadas, uma chegou com o braço quebrado, outra com o tornozelo, caso mais grave foi de um adolescente que caiu do telhado na lança do portão de sua casa, porque estava empinando pipa, a lança transpassou o seu ombro esquerdo e ele precisou de uma cirurgia para retirada da lança, foram quatro horas de cirurgia e agora ele está na ala de recuperação.
Eu fico muito chateado, aqui em minha cidade deveriam ter pipodromos para que os jovens empinassem suas pipas em segurança, e deveria ser abolido o cerol, pois mesmo sendo proibido, muitos passam na linha para cortar as pipas no céu, e o que é uma diversão para os jovens pode se tornar uma tragédia, eu fiz o pré-atendimento de um motoqueiro que quase perdeu o pescoço, auxiliei em sua cirurgia e ele também se recupera, ambos apesar do susto estão se recuperando bem.
Para complicar a minha vida, hoje fui escalado para plantão, justo hoje que o meu amor João Carlos virá morar comigo. Quando eu faço esses plantões, eu saio do hospital por volta das oito da manhã.
Pego o meu telefone e mando mensagem para o meu amor para avisar.
" João, eu terei plantão hoje, nos vemos amanhã depois que sair da escola, por favor cuide do Alisson para mim.
Te amo.
A resposta vem logo em seguida e meu coração dispara, mas fico feliz e só falto agradecer a todos os santos que minha mãe era devota.
" Se cuide, amor, não esqueça de se alimentar, amanhã nos vemos aqui em casa, e antes que me pergunte, sim, eu já me mudei, e pode ficar tranquilo que eu cuido do Alisson.
Te amo, bebê. "
Mando uma figurinha de coração para ele, que devolve um beijo.
Termino de arrumar a minha papelada e sou chamado para uma emergência.
Ao chegar, perceber que há policiais acompanhando uma mulher que chora copiosamente.
Sou informado de que o pai agrediu o filho e o deixou desacordado. Quando a mãe foi em defesa do filho, ele lhe deu um tapa no rosto. O tapa foi tão violento que eu vejo claramente a marca dos cinco dedos dele no rosto dela.
Examino o menino e constato que ele não tem nenhum osso quebrado, mas que, devido a ter batido a cabeça, terá que ficar na observação. 
Ministro para ele um analgésico na veia, pois ele sentirá dor ao despertar. Após esse atendimento, eu me prontifico de acompanhar pessoalmente o caso.
Soube pela mãe que a polícia foi chamada, pois o pai não queria deixar ela socorrer o filho. O agressor está preso e ela me confidenciou que não pretende voltar para ele.
Eu a aconselho a ter cuidado e pedir proteção policial, pois ele estará com o orgulho ferido e poderá atentar contra a vida dela e talvez novamente do filho.
— Dr Vladimir, eu já pedi para o meu irmão pegar as minhas roupas e as do meu filho, os documentos pessoais e nada mais, eu vou morar com ele — E assim que o meu filho ganhar alta, eu vou dar entrada na papelada do divórcio.
A mãe me contou que o marido mudou muito depois que começou a beber, que não só agredia ela como seu filho, e que a situação só foi piorando com o passar dos meses.
— Eu estou com proteção policial, mas tenho medo de que ele preste depoimento e o solte.
Foi aí que o telefone dessa mulher toca e ela fica sabendo que o marido agressor se suicidou com uma caneta que enfiou no pescoço.
— Foi melhor assim, Dr Vladimir, pois se ele não o fizesse, ele poderia acabar me matando e ao meu filho.
Senti uma angústia na voz da pobre mulher.
E percebo que, apesar de todos os problemas, ela amava o seu agressor.
— Ele o fez, deu descanso para mim e para o nosso filho e para si, pois cedo ou tarde ele iria acabar morrendo na rua, em alguma briga no bar que ele sempre causou.
O alcoolismo é uma doença, porém para a pessoa se libertar desse vício é preciso que ela queira de verdade, não é fácil, mas sei de pessoas que conseguiram se livrar. Mas para isso a pessoa tem que admitir que é doente, e isso poucos o fazem.
Deixo a mãe no quarto com seu filho e retorno para a minha sala.
Meu plantão, se continuar assim, será longo e muito desgastante.
Após esse incidente, acompanhei o nascimento de três bebês e atestei a saúde dos mesmos.
Um nascimento para mim é sempre a renovação das minhas energias e como é bom cuidar de um ser tão pequenino que encontrará o amor ou não de seus pais.
Meu plantão termina e eu retorno para minha casa e encontro João Carlos com Alisson em seus braços.

Olho no relógio, são dez da manhã.
— Não foi lecionar hoje, amor?
— Eu fui querido, mas explodiram no segundo período um vaso sanitário no banheiro masculino e eu vim embora para preparar as aulas de amanhã.
Meu amor, me conta que ninguém se feriu, e eu analiso que essa geração de jovens está cada vez mais transviada e difícil de se lidar.
Como estou cansado, convido João para se deitar comigo.
Fomos para o quarto nos deitamos e dormindo.

Melhor que antes Where stories live. Discover now