João Carlos
Estava bem até o término da primeira, após esse período comecei a sentir falta de ar, e notei que minhas canelas estavam inchadas. Essa é a minha cruz. Eu não contei para o Vladimir, mas aos vinte anos descobri em exames de rotina que tenho insuficiência cardíaca crônica, faço o tratamento corretamente, mas, ao que parece, não está mais surtindo o efeito desejado. O cardiologista me disse que, se os sintomas voltassem, eu teria que entrar na fila para um transplante no coração, e agora eu receio que chegou a hora de entrar para a temida fila do transplante de coração.
Sinto uma leve dor no peito, um de meus alunos, o Natanael, o que me ajudou a esconder o chupão de Vladimir com maquiagem, notou que eu não estava bem e me perguntou. Falei que estava com um pouco de dor, mas que ia ficar bem.
Quando deixo a sala de aula, vou até a sala dos professores, pego um copo de água e tomo o meu remédio, me sento na cadeira e respiro fundo, a dor passa e minha respiração volta ao normal.
Ainda tenho as duas últimas aulas pela frente, se os sintomas continuarem, serei obrigado a contar a verdade para o Vladimir, e magoarei seu coração, mas não posso esconder dele a minha doença, além disso, se eu precisar realmente de transplante de coração.
Ligo para o meu cardiologista e relato os sintomas e ele me pede para procurar atendimento médico de imediato.
— Busque atendimento, João Carlos, se os sintomas voltaram, é porque o coração já não está aceitando o tratamento. Eu acredito que o seu caso precisa de transplante, levamos bem o coração por oito anos, mas acho que agora ele já não está mais apto a ficar em seu corpo.
— Está bem, Dr Alexandre, eu vou até a Santa Casa assim que terminar o expediente aqui na escola onde trabalho, estou morando em Campos do Jordão.
— Você disse Campos do Jordão e Santa Casa?
— Sim, eu disse!
— Meu primo é Cardilogista ai na Santa, procure pelo Dr Adrian Rodrigues, eu vou passar o seu caso para ele — Com certeza ele ira abraçar.
— Eu vou desligar e entrar em contato com o Adrian e depois retorno para você em mensagem.
— João Carlos, eu te encontro nesse número que me ligou?
— Sim, me encontra sim.
— Certo, eu vou falar com o meu primo e te mando mensagem, mas João, é importante você procurar atendimento, será a diferença entre morrer e viver.
Desligo a chamada e me sento novamente, lágrimas querem brotar em meus olhos, eu não acredito nisso, agora que encontrei o Vladimir, meu coração vai começar a falhar, não, isso não, é muita maldade comigo.
Seguro a emoção e tomo mais um copo de água. Tenho mais duas aulas pela frente, tenho que manter a calma para não deixar os meus alunos perceberem que não estou bem. Após terminar o expediente, eu vou à Santa Casa procurar o cardiologista primo do Dr. Alexandre, e vou me tratar e, se for caso para transplante, eu entro na fila. O difícil será contar a verdade para o meu namorado, mas com os atuais acontecimentos, eu vou ter que falar a verdade para ele ainda hoje e espero que não estrague o fim de semana que estamos planejando para os meus sogros Solange e Edson.
O sinal toca e eu vou revisar a aula que darei. Ainda tenho mais uma hora pela frente até ir dar as últimas aulas para o primeiro ano.
Reviso a materia, mas não deixo de pensar na possibilidade do transplante, levo a minha mão ao peito e respiro fundo.
Droga tudo aconteceu de uma hora para outra, ontem meu coração estava bem e hoje...
Levanto a cabeça e olho para o teto:
"Meu Deus, me dá uma luz, o que eu faço?"
Não noto as horas passarem, me dou conta de que tenho que ir para a sala do primeiro ano, quando o sinal toca.
Pego a minha mochila e sigo para a sala. Junto dos alunos, eu me forço a esquecer esse problema e ministro as aulas de que mais gosto, história e geografia, sendo as penúltimas e últimas aulas respectivamente.
Quando eu peço para os alunos guardarem o material, eu já me sinto melhor, mas não posso ignorar que passei mal mais cedo.
O sinal toca e me despeço da turma, aceno para o Natanael, que estava ao lado de Ieda. Ele acena de volta e ela me joga um beijo. Se Vladimir imaginar, vai ter um acesso de ciúmes, prefiro guardar para mim, então.
Assumo a direção de meu carro e recebo a mensagem do Dr. Alexandre, deixo a chave no contato e vejo a mensagem:
João, meu primo vai cuidar do caso. Eu já enviei o seu prontuário por e-mail para ele. Para não ter problemas, eu, munido de seus dados, marquei sua consulta para hoje a uma e meia em caráter de emergência. Não deixe de ir, lembre-se de que é a diferença entre a vida e a morte.
Claro que eu vou, não vou deixar a morte me vencer, não agora que estou ao lado do homem que eu amo.
Ligo o carro e me dirijo à Santa Casa. A minha luta contra doença está começando.
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Melhor que antes
Romancehttps://a.co/d/5JfetT0 Também complemento na Kindle O que fazer quando um amor da adolescência bate à sua porta? Por essa, Vladimir não esperava, mas aconteceu em um dia frio de inverno, lá estava ele seu amor de infância, João Carlos. Sem saber o...