Capítulo 34

0 0 0
                                    

Por volta das oito da noite, meu amor chega. Ele parece apreensivo, ele me agarra e beija os meus lábios, invadindo-os num beijo cheio de necessidade e desejo.
Me rendo a esse beijo, pois para mim está claro que eu também preciso dele. Se não o desejasse, não teria me massageado tão intensamente com os pensamentos nele.
Nos afastamos e meu amor checou meus olhos e levou as mãos cruzadas a meu peito.
— João, como passou a tarde?
— Passei até que bem, terminei o bolo de seus pais e tomei um delicioso banho pensando em você, meu amor.
— Não sentiu nada, nenhuma dor, falta de ar.
Vladimir está preocupado e eu não posso deixá-lo assim.
— Eu senti foi medo, meu amor, medo do transplante, medo de te deixar só, mas já passou, eu vou sair dessa.
Vladimir toca a minha face e sorri:
— Vai, sim, amor, e eu vou cuidar de você, para que você se cuide, se é que me entende.
— Eu entendo, amor, e peço que cuide de mim, pois eu acho que desta vez sozinho eu não consigo.
Vladimir me abraça e sussurra palavras doces em meus ouvidos.
— Meu amor, você não está sozinho, eu vou cuidar de você e sabe por quê?
Vladimir me faz a pergunta e ele mesmo responde:
— Porque eu te amo.
Me sinto protegido quando estou nos braços de Vladimir, sinto a minha coragem voltar e digo para mim em pensamento:
Eu consigo, eu sei que consigo Vladimir.
Nos libertamos do abraço, pois escutamos uma buzina fora de casa, meus sogros acabaram de chegar.
— Amor, devemos contar para os seus pais o que está acontecendo comigo?
Vladimir me olha, sendo empático comigo e até mesmo com seus pais. Ele responde à minha pergunta:
— Não, amor, não vamos preocupar meus pais, eu sei que você se sentirá desconfortável em falar para eles e acho que você não falou de sua doença para eles no passado.
— Não, eu não falei não, pois estava sob controle.
— Então vamos deixar entre nós.
— Logo você sai dessa, amor, vamos pedir para Deus que você siga com saúde até o dia de seu transplante. 
— Eu sei que esse coração vai chegar para você.
Atendemos à porta e Solange e Edson abraçam o filho com alegria em uma cena muito linda de se ver, e que a mim comoveu.
— Não pense que nos esquecemos de você, João Carlos, vem cá, filho.
Solange me puxa para um abraço e Edson, meu sogro, vem me abraçar em seguida.
— Fico feliz por estarem juntos, João Carlos, eu sempre quis que vocês se entendessem, o Vladimir sofreu demais com sua ausência, filho.
— Eu sei, meu sogro, agora estamos juntos e nada vai nos separar e tudo vai acabar bem.
— Mamãe, papai, vem, vamos jantar rapidamente, eu preparo algo. O João Carlos já cuidou da sobremesa, vocês vão adorar.
Meus sogros seguem para a cozinha e eu e Vladimir seguimos logo atrás.
— Você viu, amor, como eles estão felizes em nos ver juntos?
— Sim, amor, eu vi sim.
— Vamos deixar a sua doença em segredo, afinal, eu estou ao seu lado, vamos seguir em frente, ok?
Concordo com o meu amor, não há necessidade de estragar a estadia de meus sogros com esse sentimento de tristeza e incerteza, do que irá se suceder no futuro, sendo que a única certeza que eu tenho no momento é que eu amo o Vladimir.
Nos sentamos à mesa e, enquanto eu converso com meus sogros, Vladimir ajeita a janta, um bom frango grelhado e arroz, feijão e uma deliciosa salada verde.
Jantamos com alegria e apreciamos a sobremesa. A alegria de meus sogros é tanta em saber que estamos juntos que eles não perceberam que comi apenas um pedaço pequeno do bolo, melhor assim, pois isso poderia gerar especulações e isso eu não quero.
Após o jantar, acompanhamos meus sogros até o quarto de hóspedes.
Eles nos dão boa noite com um abraço.
Vladimir e eu também nos recolhemos para o nosso quarto e lá estava o Vladimir deitado ao meu lado na cama, ele me pergunta:
— João Carlos, você já se passou pela sua mente pedir licença para se cuidar, amor?
Estranho essa pergunta, é como se ele soubesse de algo mais que eu. Essa pergunta de Vladimir me gelou a alma, mas sou sincero em minha resposta:
— Por hora, não, amor, enquanto eu tiver um pouco de saúde, eu vou continuar lecionando, mas eu garanto a você que se eu sentir que o meu quadro está piorando, eu tiro licença, sim, pois quero viver para me operar e estar sempre a seu lado.
— Fico feliz com sua resposta, amor, não quero parecer egoísta, eu ano quero perder você.
Sorrio para o meu amor e bem próximo ao seu ouvido, eu afirmo:
— Então somos dois egoístas, amor, pois eu não quero deixar você. 
Nos beijamos intensamente e deitamos para dormir.

Melhor que antes Where stories live. Discover now