Capítulo 8

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— Vamos com calma, João Carlos, agora que me encontrou, podemos ir devagar, não há necessidade de precipitarmos as coisas.
— Eu não vou fugir de você, João, e não quero fugir.
— Você tem certeza de que não vai fugir, Vladimir?
— Tenho, não há intenção e outra fugir de uma situação é para adolescentes, somo dois caras de vinte e oito anos agora.
João se aproxima de mim e acaricia meu rosto, contorna os meus lábios com seu dedo indicador.
Sinto arrepio só com o toque deste único dedo, nossos olhares estão fixos, a sintonia entre nós é grande e eu não consigo desviar o olhar.
— Vladimir, é melhor eu ir agora. Se eu continuar aqui, eu vou te arrastar para a cama e vou te fazer meu, tão grande é meu desejo e minha vontade — Sei que para você não é o meu momento.
Apenas confirmo com a cabeça, João se afasta de mim e eu o acompanho até a porta.
— Não se preocupe, Vladimir, eu não vou embora e muito menos me esconder. Eu perdi tempo demais fugindo dos meus sentimentos. 
Nos beijamos e eu o vejo seguir pela rua.
Entro, pois o frio está congelante, me sento no sofá e tento digerir tudo o que está acontecendo. Alisson pula em meu colo e se senta.
— Alisson, o que eu devo fazer? Eu tenho a vida tranquila, mas sinto que a chegada de João Carlos vai torná-la turbulenta.
Alisson apenas me olha e, como se ele entendesse o que eu digo.
" Será que o João está sendo sincero comigo? Ou ele vai brincar com os meus sentimentos de novo?"
Deixo de pensar no João e foco no trabalho. Na manhã seguinte, eu retorno para o que mais gosto de fazer: salvar vidas e aliviar o sofrimento das crianças da ala de pediatria da Santa Casa.

No dia seguinte, lá estava eu, chegando às cinco da manhã, bati o meu cartão e entrei. Uma enfermeira amiga minha estranhou eu ter chegado tão cedo.
— Dr Vladimir chegou tão cedo!
— Bom dia, Ariel, eu não consegui dormir e vim para cá, sabe como é há dias assim!
— Percebo uma agitação, estou na minha hora de pausa, se quiser tomar um café e conversar, estou à sua disposição.
Aceito o convite, talvez uma pessoa que está de fora possa me aconselhar e Ariel já é uma mulher feita aos quarenta e oito anos, continua sendo uma mulher de fibra e batalhadora. 
Seguimos para a copa e lá ela prepara um café para nós.
E eu início a conversa com ela pelo ponto de partida de que eu sou gay.
— Isso eu já desconfiava, Vladimir, aliás muitos médicos daqui desconfiam de sua preferência sexual, alguns não se importam, mas outros têm medo de levar cantadas de você.
Caio, na gargalhada, eu seduzir alguém daqui? Jamais!
— Bom, o fato é que meu namorado da adolescência me procurou em casa ontem e eu levei um susto, quando abri a porta e o vi lá. Ele quer retomar o relacionamento de onde paramos há doze anos.
— E você não sabe o que fazer! Correto?
— Exatamente Ariel, eu não esperava que ele fosse voltar, mas ele voltou e fez uma bagunça em meus sentimentos.
— Primeiro, você tem que analisar o que sente por ele, se você o ama, ainda vale a pena retomar o namoro, agora vocês são homens e sabem o que querem — Mas se constatar que não o ama mais, seja sincero com ele, para não criar expectativas e depois frustrá-lo, eu acho que os dois merecem se dar essa chance.
Ariel tem razão, mas como lidar com o que ele me fez no passado? Pergunto isso a ela e conto o que rolou entre nós, dos treze e a transa aos dezesseis.
— Ambos eram novos, é natural ter dúvidas na adolescência e a dúvida que surgiu na mente dele poderia ter surgido na sua mente. 
— Você já havia se colocado no lugar dele antes?
Eu admito que nunca me coloquei em seu lugar, por eu saber o que eu queria e saber que sempre fui homossexual. Eu nunca tive a humildade de me colocar no lugar do João Carlos, sabia que é normal ter dúvidas, mas nunca me coloquei na mesma posição, era muito orgulhoso para isso.
— Vladimir, se você fosse o João, também teria dúvidas e inseguranças e isso é normal, cada pessoa reage de um jeito querido.
Ariel sorri para mim e com a mão em meu rosto como forma de empatia e diz:
— Se dê uma chance de ser feliz, tanto você como o João são homens, agora querido.
— Eu prometo tentar, pois ele me deixou muito magoado no passado e a ferida ainda dói.
— Deixe o causador da ferida curá-la, se ele te procurou, é porque ele realmente te ama.
O horário de pausa de Ariel terminou e ela retorna ao trabalho. Eu sigo para a pediatria para verificar se as crianças estão bem.
Na Santa Casa, deixo de pensar no João Carlos e foco no trabalho.

Melhor que antes Where stories live. Discover now