Capítulo 35

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Vladimir

O fim de semana com meus pais foi ótimo. João Carlos está animado com a presença de seus sogros aqui em nossa casa e segue se tratando.
Eu sempre observo as atitudes e o jogo corporal de meu amor para saber se ele está bem mesmo ou só me enganando.
Mas, ao que parece, tudo está bem e a presença de meus pais deu um gás em meu namorado, que continua tomando seu remédio na hora correta e se cuidando.
Meus pais se encantaram com Campos do Jordão em um passeio que fizeram e chegaram a cogitar comprar um imóvel aqui no futuro para estar perto de nós.
Mas meu pai ainda terá que trabalhar mais alguns anos para poder se aposentar, embora ele pague autônomo.
No passeio, nós quatro visitamos praças e pontos turísticos aqui em Campos do Jordão, e por coincidência encontramos um grupo de alunos da escola que João da aula.
Antes de nos aproximarmos mais, eu explico a situação para os meus pais e digo que os alunos de João não sabem que ele é homossexual e muito menos que estamos namorando.
Meus pais prometeram manter a discrição, então nos aproximamos do grupo meio a contra gosto meu, pois entre esses alunos estava a Ieda.
Procuro desamarrar a cara e, quando chegamos mais perto, João Carlos, muito educado e cordial, faz questão de apresentar seus alunos para os meus pais:
— Solange, Edson, esses são Ieda, Natanael e Hermes, meus alunos do terceiro ano do ensino médio.
— Garotada, esses são os pais do meu amigo Vladimir que vieram passar o fim de semana com ele.
Os garotos foram cordiais, mas a Ieda, sempre mais atirada, elogia a beleza de meus pais:
— São lindos os pais do seu amigo João Carlos, agora sabemos de quem ele puxou tanta beleza.
Estava tudo perfeito até o que ela fez depois.
— Mas você, gatinho, ainda é mais bonito e atraente.
Ela se aproxima e dá um beijo bem próximo aos lábios de João e isso me ferve o sangue.
Os rapazes perceberam e afastaram a Ieda do João que os apresenta para mim.
— Desculpa a falha, Vladimir, esse é Natanael e esse é Hermes, o namorado dele.
— Meninos, esse é Vladimir, o meu grande amigo.
Um dos meninos, o que tem a pegada de andrógeno Hermes, deixa escapar:
— Amigos, sei bem a amizade.
Sorri para ele e dei graças aos céus pelo que ele percebeu. O que realmente somos eu e João Carlos.
Afastado de mim pelo namorado, que cobra mais educação, ele afirma:
— Eu conto ou você conta.
Ieda fica sem entender o que o amigo quer dizer com as palavras. 
João Carlos, percebendo que eu ia acabar revelando o que não devia ser revelado, ainda se despede dos alunos e seguimos nosso passeio com Ieda gritando:
— Nos vemos na escola gatinho.
Essa menina me dá nos nervos e eu procuro manter a compostura perto de meus pais.
Continuamos nosso passeio e minha mãe, que não deixa de passar as coisas desapercebidas, indaga:
— João Carlos, essa menina que acabou de nos apresentar está apaixonada por você, filho!
— Eu sei, Solange, e eu não dei motivos para ela se apaixonar por mim, não dei abertura, ela simplesmente se aproximou de mim e não me deixa respirar desde então.
Meu pai olha para João sem entender nada, ele pergunta por que meu namorado não se assume logo gay?
Eu respondo que João está primeiro observando a escola, pois lá ele não teve a abertura para falar sobre sua homossexualidade abertamente.
— Ao lance de homofobia, pai, por isso não sentimos segurança em revelar que João é gay e muito menos que estamos namorando e nos amamos.
— Eu entendi, então João se mantenha afastado dessa menina para que ela não alimente mais a paixão por você e se decepcione no futuro.
— Edson, eu me mantenho afastado, pode acreditar, mas essa menina parece chicletes.
Meu pai sorri para João, e eu, já com menos raiva, me lembro que meu namorado tem uma doença séria que qualquer emoção mais forte pode matá-lo. Eu não quero ser o causador da morte do homem que eu amo.
Terminamos o passeio em uma sorveteria e o que me consola é que o garoto de nome Hermes percebeu, quem sabe ele mantém a Ieda afastada de João Carlos.
Na sorveteria, tomamos o mais delicioso sorvete e eu pude ao menos sentar ao lado do meu namorado e pegar em sua mão.
Eu prometo para mim mesmo que, depois que o João realizar o transplante, eu vou revelar a todos que nos amamos e estamos juntos.
Sei que a Ieda não tem chances com ele, mas meu pai disse algo certo. Essa menina não pode se decepcionar no futuro e, mesmo ela sendo assanhada, não seria justo.
Por isso ela deve, no momento certo saber a verdade.
Por mim, eu já revelava logo, não o faço ainda pela condições de saúde de João.

Melhor que antes Where stories live. Discover now