Capítulo 50

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João Carlos

O apoio de meus amigos e do meu namorado nesse momento tão difícil tem sido primordial para eu não desistir de viver.
O Dr Adrian acha que eu devo me internar para receber todo o tratamento e suporte necessário no hospital, mas eu não quero. Em casa, sou devidamente assistido por Ieda, Hermes, Natanael e o próprio Vladimir, que tem se mostrado um verdadeiro companheiro para mim.
Como estou fraco, quase não saio de casa, fico, mas entre o tour, quarto, sala, sala e quarto.
Faz tempo que não coloco a minha cara na rua, mas naquele sábado em que o meu amor está de folga, eu pedi para que ele me levasse para dar um passeio na rua.
Hoje já uso o cilindro diretamente, não posso ficar sem, pois minha saturação baixa muito, então agora eu o carrego em uma mochila em minhas costas, uso até para dormir, é isso que preocupa o meu amor, pois ele tem medo de que, mesmo que use o cilindro, eu tenha uma parada cardiorrespiratória.
Às vezes, eu sinto meu amor monitorar minha respiração, pressionando-o estetoscópio. 
— Tem certeza de que quer sair, amor? Você está cada dia mais cansado.
— Eu quero amor, se eu ficar em casa, eu vou enlouquecer.
— Tudo bem, então vamos sair, hoje, o dia está agradável.
Com a ajuda de Vladimir, eu coloco a mochila com o cilindro em minhas costas.
Como sinto muita fraqueza ao andar, João providenciou uma cadeira de rodas para mim. Caso eu manifestasse a vontade de sair de casa e hoje é dia, Vladimir me ajuda a me sentar na cadeira de rodas e ajeita a minha mochila com o cilindro de oxigênio.
Ele me beija os lábios, pergunta se estou preparado para ver o mundo exterior?
— Sim, eu estou, amor desde o meu afastamento da escola, nós saímos poucas vezes, amor, e eu preciso ver gente, ver o movimento dos carros.
— Então vamos então.
Vladimir cobre as minhas pernas com uma manta e empurra a minha cadeira.
Eu nunca imaginei que o meu amor fosse fazer tudo isso por mim, muito menos meus alunos, que se tornaram meus anjos da guarda nessa dura empreitada.
Enquanto Vladimir empurra a cadeira, eu sinto o vento brincar com os meus cabelos, fecho os olhos e sinto a brisa, como é bom sair para passear.
Paramos em uma praça e eu olho os carros indo e vindo, vindo e indo e me lembro de quanto tinha saúde até os dezenove anos.
Às vezes acho que estou sendo um peso para Vladimir, ele deveria estar com alguém saudável, passeando e se divertindo, viajando e não cuidando de um doente como eu.
Mas eu sou egoísta e não quero deixá-lo.
E ele é igualmente egoísta e não vai permitir que eu vá embora.
— Se sente bem, amor?
— Eu me sinto, sim, Vladimir, eu precisava sair, obrigada.
Vladimir segura uma de minhas mãos e sorri para mim.
É nesse sorriso que eu busco forças para não me entregar à doença.
Por várias vezes, Vladimir se despede de mim e caminha sem olhar para trás. Nessas horas, eu sei que ele está chorando, e não quer que eu veja o desespero que por muitas vezes toma conta dele.
Eu já presenciei ele de joelhos dobrados, orando por mim, pedindo, pedindo não, implorando um milagre para Deus.
Meu amor sofre por mim e eu não acho isso justo, pois já lhe causei muito sofrimento desde que abandonei há doze anos.
— João Carlos, o que você tem, amor?
— Vladimir, eu me peguei pensando que, desde que a minha doença voltou a me debilitar, eu tenho sido um peso para você, amor.
Vladimir se abaixa em frente à minha cadeira de rodas e me olha no fundo dos olhos.
— Nunca diga isso, amor, você não tem culpa por estar doente e eu não vou te abandonar nunca, amor.
— Que namorado eu seria se eu fizesse isso com você?
— Mas...
— Não diga nada, João, vamos sair dessa, juntos.
— Eu estou com você agora na doença e estarei com você na saúde, eu te amo.
As palavras de Vladimir me comovem e me permito chorar.
— Obrigada, amor, eu também te amo.
Vladimir se levanta e aproxima seus lábios do meu e me beija.
— Não esquece que me prometeu que vamos transar na praia de Suarão, sob a luz da lua e das estrelas.
Eu prometi mesmo e com a ajuda de Deus eu vou cumprir.
Observamos juntos os carros na rua e passamos a contá-los, eu, os vermelhos, e Vladimir, os azuis.
Parecemos duas crianças nos divertindo.
— Amor eu estou com sono.
Digo com pesar, pois quero ficar na companhia do meu amor e passear um pouco mais.
A doença infelizmente não me permite.
— Vamos voltar, amor ainda faremos mais passeios assim como esses.
Voltamos para casa. Vladimir me deita na cama e me cobre com um lençol. Alisson, meu fiel escudeiro, deita-se em meu colo.
Vladimir beija a minha testa e depois me beija os lábios. 
Descanse, amor, eu vou fazer um lanche e volto para ficar com você.
Fecho meus olhos e apago.

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