Capítulo 19

0 0 0
                                    

João Carlos

— Foi o de sempre, amor, puxado, mas os alunos gostam de mim.

— Teve algumas investidas da Ieda na hora da saída, mas nada que eu não pudesse contornar.

— Poxa, João Carlos, ela não desiste, não é? 

— Está ficando incômodo, isso, eu não estou gostando.

Vejo claramente o ciúme nos olhos de Vladimir, ele não demonstrava ciúme nem quando eramos adolescentes, mas eu percebo que as investidas de Ieda estão deixando ele enciumado.

— Vejo em seus olhos que está com ciúmes, meu amor, não precisa, pois, como você sabe, meu pênis não dá sinal quando uma mulher está por perto, mesmo ela sendo super gostosa. Não adianta que ele não dê sinal.

Vladimir me olha, me acusando, e como se ele me dissesse com o olhar que dei entrada para a Ieda, ficar se insinuando, mas esse não foi o caso.

— Vladimir, meu amor, não fique com ciúmes, lembre-se da história que te contei da garota de programa que me pediu que eu fizesse um boquete para ela, eu não consegui, me deu um mal-estar muito grande e meu pênis literalmente ficou brocoxo.

Vladimir começa a dar risada, e eu percebo que o clima fica menos tenso. Me aproximo do meu amor e beijo sua bochecha.

— Amor, relaxa, a Ieda é uma jovem muito bonita, mas eu sou gay, não vamos deixar ela entrar em nossas vidas.

— Quer que eu fale para ela que sou gay e que namoro você? Assim, acabamos com as investidas dela e você fica mais tranquilo, amor.

— Não, melhor não, João Carlos, na escola ninguém imagina que você seja homossexual, melhor deixar como está. — Não quero que as pessoas se afastem de você, a sua vida e preferência sexual devem ficar no particular.

Foi aí que Vladimir me contou que no hospital a maioria dos colegas sabe que ele é gay, uns respeitam de boa, outros têm medo de receber cantadas, esses o olham com receio ou até mesmo se afastam.

— João, a vida não é fácil, para mim, lá, claro que os que me respeitam bem e conversam comigo, normal, mas os que têm receio de que eu os cante se juntam e, quando eu passo, noto os cochichos. 

— Claro que eu ignoro, pois sou feliz assim, mas não é fácil.

Eu até entendo que o Vladimir quer me proteger, mas eu quero dar um freio nessa garota que eu sei que me trará problemas sérios.

— Vladimir, tenho que dar um freio na Ieda.

— Mas, amor, contar sua preferência sexual não é o caminho, essa menina pode fazer sua vida um inferno na escola onde você leciona.

— Nem todos os alunos, principalmente os meninos, não recebem bem um professor homossexual, exceto se também sejam gays. — Algumas meninas também são homofóbicas, mas a grande maioria prefere conversar suas intimidades e segredos para o melhor amigo gay.

De certa forma, o Vladimir tem razão, pois fiz muitas amigas na escola anterior que mencionei, mas lá eu tive a abertura para me assumir homossexual, já aqui em Campos do Jordão eu não sei como a escola trata essa questão, então é necessário eu observar primeiro antes de tomar qualquer atitude de me revelar para os meus alunos.

— Está bem, amor, você ganhou, eu não vou falar para a Ieda que sou gay e seu namorado — Vou analisar o local e ver como eles lindão com os alunos gays lá. Eu tenho a suspeita de quatro no meu período de trabalho.

— Está bem, amor, faça isso, e por favor, querido, fique longe da Ieda, ela é bonitinha, porém é muito ordinária.

Concordo com um movimento afirmativo de cabeça. A Ieda é uma morena muito linda. Se eu fosse hétero, talvez me encantasse, pois ela tem lindos cabelos longos, mas como gay, admiro a beleza dela, como se fosse outra mulher.

— E agora que já te contei como foi o meu dia, Vladimir me conta o que você ficou fazendo o dia todo.

— Bem, cuidei de alguns afazeres aqui de casa, estudei alguns diagnósticos de meus pequenos pacientes, e eu tenho uma boa notícia para te dar, amor.

— Qual? 

— Meus pais vêm passar o fim de semana conosco, eles vêm na sexta e vão embora na segunda pela manhã.

— Vladimir, isso é ótimo. Sinto saudades da sua mãe, eu gosto muito da Solange, e seu pai também é tudo de bom. Vou rir muito com o senhor Edson.

— Que bom que gostou, João Carlos, afinal, os dois foram os alcoviteiros que mandarão você para mim revelando o meu paradeiro.

Sim, o Vladimir tem razão, seus pais realmente assim foram, agirão como fofoqueiros, mas se não fossem por eles, não estaríamos juntos hoje e talvez eu estivesse procurando pelo meu amor até hoje.

— E me conta Vladimir o que vamos servir para os seus pais comerem.

Melhor que antes Where stories live. Discover now