XXXIV

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Gritos. Gritos. Gritos. Gritos. Gritos. Gritos. Gritos.
Abro os meus olhos diante de uma vastidão de poeira e destruição. Parte da arquibancada estava destruída. Eu não entendia muita a gravidade do que estava acontecendo. Até então eu estava parado com meu braço totalmente esmagado pelo impacto olhando para o nada feito de poeira.
Olho para cima e vejo um teto de estrelas. O que... Não... Não pode ser! O teto estava quebrado!! O impacto do meu soco acabou por destruir (quase) tudo ao meu redor. O que ratifiquei após gritar de dor pelo meu braço esmagado. Eu não escutava nada a não ser um xiado em alta frequência. Tipo, quando você desliga uma daquelas televisões antigas. Gritei por alguém. Nada. Eu mesmo não conseguia ouvir minha propria voz. Era uma sensação estranha. Eu gritava e gritava e nada acontecia. E estranhamente eu abri meus olhos por causa de, jistamente, gritos.
Uma grande quantidade de fumaça sai de meus ouvidos chegando até a doer um pouco. Minha audição voltou.
Um passo. Pesado. Eu percebo uma coisa estranha. Meu corpo estava totalmente magro de novo. Dei outro passo. A poeira estava se dissipando. Outro passo. Vejo que estou descendo algo. Outro passo. Vejo uma coisa estranha. Era Carlos deitado no ponto mais baixo do impacto. Ele literalmente estava no ponto de impacto.
O cristal ainda cobria o seu corpo. Mas estava diminuindo o seu tamanho. Eu cheguei mais perto. Ele olhou para mim. Eu olhei para ele. Eu sentia como se não conseguisse respirar.

-Me... Mate... -Disse ele com uma voz rouca.
Percebi uma fumaça saindo de seu braço esquerdo e barriga. -Me... Mate...

Senti um arrepio olhando para aquilo. De repente, um vento impetuoso passou tirando toda a poeira do local. E tive total ciência de meu poder. O palco estava destruído. Uma das paredes caiu. O dramaturgo, que foi quem fez o vento, gritou: Agora, Sr. Arthur, mate-o e ganhará!!!

-Por que? Por que eu devo matá-lo? -Gritei.

O dramaturgo parou. Olhou para mim e respodeu.

-Creio que o Sr não saiba a gravidade da situação. Este espetáculo, o qual falo, é até a morte. O Sr deverá cumprir com sua missão.

Eu me horrorizei com aquilo. Eu não quero matá-lo. Eu devia? Por toda a raiva que Carlos fez a mim? Ou por que eu sou um babaca e quero mesmo escolher os namorados da Caroline?
Olho para ele. E faço a espada. Chego perto dele e... Lembro de tudo o que ele fez contra mim. Mesmo indiretamente. Ele fecha os olhos. Eu levanto a espada, grito, e dou um passo para trás. Caio sentado e bato no chão.

-MALDIÇÃO! Mas por que é tudo assim? Por que? O que essa porra de vida quer de mim? Quer o meu sangue ou que eu tire sangue de outro? Por que essa dor não sai do meu peito? Eu não quero issoooo!

-Ei... Gaz...

-Carlos, cala a porra da boca pelo menos uma vez! Seu babaca! -Gritei.
Vejo minha máscara perto dali. Vou até ela, pego, e a coloco no rosto.

Olho para a platéia. Lisa aponta para o estacionamento. E eu saio dali correndo. Olho para trás. Vejo alguns amigos do Carlos o recolhendo.
Chegando no estacionamento, vejo o carro de Lanny ligado. Lisa bate em minhas costas e diz: Vamos!
Andrew estava dirigindo. Eu fiquei ao lado de Lanny e Rich. Lisa foi na frente. Fomos embora. Eu não queria falar nada. Eu queria mesmo era quebrar algo até não poder mais. Eu queria algo para socar até quebrar meus punhos. Lanny disse para eu me acalmar, mas eu não podia. Eu estava com muita raiva. Então seguimos calados até chegarmos na casa de Rich e Lisa. Eles desceram, e eu desci para trocar de roupa. Então voltei para o carro.
Encostei a cabeça na janela. E lembrei do beijo na bochecha. Olhei para Lanny. Ela olhou de volta e eu viro a cabeça de volta para a janela.

-Baixinho -Disse ela -Está tudo bem?

-Não! Não tá nada bem! Por que essas coisas ruins só acontecem comigo? Eu não aguento tudo isso. Eu não quero ser um humano de cristal. Posso até continuar a treinar. Mas não quero me envolver em lutas. Eu só quero deitar em em minha cama e morrer! -Disse.

Humanos de cristalOnde histórias criam vida. Descubra agora