LXVI

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Carregando caixas, arrumando as bancadas, selecionando enlatado... Esta era a vida de um trabalhador em um mercadinho de canto. Vendíamos coisas comuns de dia a dia. Por sorte, o chefe Dinner me deixou trabalhar aqui por um pequeno salário mensal.

Era mais um dia comum. Lanny estava em seu trabalho e eu no meu. Eu já tinha guardado ervimhas enlatadas nas prateleiras de baixo, próximo aos extratos de tomate. Cansado, pego uma coca-cola, abro-a e tomo. Escuto a porta abrir, um cliente.  Caminhei até perto do balcão e vi aue se tratavam de dois caras da ICHC. Dinner estava no balcão e por isso eu pude me safar dessa. Continuei escondido enquanto Dinner conversava com os dois homens altos. Dinner era um homem negro, gordinho e careca. Mas era uma pessoa de bem. Ele me deixava comer algumas coisas do estabelecimento contanto que elas ainda não tivessem saído do galpão.
Eu pude ver ele coçando a barba branca enquanto os militares conversavam com ele. Eu estava um tanto apavorado. Pensei em ligar para Lanny e fazer um movimento de desespero. Mas isso já era impensável. Se eles já não soubessem que eu estava aqui não haveria motivo para eu mostrar minha bunda magra nos jornais mais uma vez.
Após um tempo, eles foram embora sem levar nada a não ser um pequeno chocolate.
Dinner me chamou uns três minutos após eles saírem e eu não sabia bem o que ele queria.

-Arthur, -Disse ele- creio que antes de aparecer em algum local, você já deva ter aparecido em outros.
Eu estava sentado num banquinho em frente a ele.
-Os homens que vieram aqui são militares da ICHC e estavam falando sobre duas pessoas desaparecidas. E uma delas... -Ele retirou os óculos - É você.

-Sim!?

-Isso não foi uma pergunta Arthur. Você é um desaparecido e pra estar sendo procurado até pela ICHC não é qualquer um.
Eu vou te dar uma chance de se explicar, mas tem que ser sincero comigo. O que foi que que você fez no distrito 17?

Eu não sabia bem o que responder e podia ver que Dinner estava franzindo a testa para mim. Eu comecei a ficar um tanto nervoso e senti minha cabeça começar a suar.

-Eu... -Pensei na coisa mais comum do mundo. -Fugi de casa!

-Você fugiu?

-Sim eu fugi. -falei desviando o olhar para baixo.

-Edna e Oliver... -Eu perdi o fôlego após ele dizer o nome de meus pais. -Estão há muito tempo procurando você. Mas uma garota da ICHC disse ser sua amiga. Caroline! -Disse ele. -Você tem certeza que simplesmente fugiu de casa?

-Tenho sim...

-Você teve algum motivo em específico? -Ele perguntou se encostando no Balcão.

-Não. -Disse, por fim.

Dinner murmurou algo e deu a volta no balcão, pegou 200 dólares e os enrolou em uma sacola. Depois disso, ele pegou um papel que possuia minha foto, meu nome e três números: o da ICHC, o dos meus pais e o da Caroline.

-Você pode ficar com esse dinheiro. Mas, terá de escolher um dos três números para que eu ligue. -Disse ele pegando um telefone fixo.

-O quê!? -Disse me levantando.

-Não é que não acredite em você. Mas eu não posso deixar de cumprir a lei. -Ele era um cara certinho. - Me desculpe, Arthur, mas sua hora aqui acabou.

-E se eu fosse embora? -Perguntei.

-Aí eu ligaria para a ICHC. Eles devem dar conta de te procurar. -Disse ele.
Eu já não sabia mais o que fazer então simplesmente pensei no mais fácil.

-Ligue para o terceiro número. -Disse.

-Eu espero que você entenda. -Ele falava enquanto discava. Eu esperei ela atender.
Após ele falar "alô". Eu usei a liberação de energia para fugir. O balcão fiaca um pouco à frente da entrada. Ele não ia deixar eu passar. Por isso tive que usar este recurso. Após sair. Olhei para un complexo de apartamentos e pulei numa varanda do terceiro andar e depois ao teto. Pude ver Dinner saindo na porta do mercadinho olhando para todos os lados e não me vendo em nenhum. Apenas continuei correndo. Eu coloquei minha maior velociadade até chegar em casa.
A lua estava gigantesca e brilhosa hoje e eu havia me esquecido das belezas da noite e de como o tempo que eu passei em cidades grandes como Nova Iorque haviam me feito esquecer isso.
Após alguns saltos e corridas eu chego em casa. Lanny apareceu segurando um taco de beisebol.

-Arthur? Por que demorou? Por que entrou assim? -Perguntou ela surpresa e com um tanto de raiva.

-Meu chefe descobriu! -Disse -Ele ligou para os ICHC.

-Ele descobriu, e eu também. O que você está fazendo com este Cristal? -Disse ela apontando para mim.

-Primeiro, não foi assim que ele descobriu. Segundo, eu uso isso aqui para proteção. Terceiro, precisamos nos esconder! -Disse. Na verdade, eu estava praticamente gritando.

-O que você quer fazer? -Lanny perguntou enquanto arrumava algumas roupas em uma mochila verde.

-Eu não sei! Eu não queria que nada disso sequer tivesse acontecido! Ahh -Grito. -Eu estou cansado desse inferno.

-Arthur! -Lanny veio até mim e calou minha boca com a mão.
Vários carros de policiais e da ICHC passaram pela rua naquele momento. Ficamos assustados com o que estava acontecendo. Aquilo já não é mais para mim.
Tirei a mão de Lannny da minha boca e disse:

-Vamos sair do país.

-O quê?

-É isso! Vamos sair do país.

-Isso é sério? -Ela se sentou com as pernas cruzadas. Estava olhando nos meus olhos, perplexa.

-Eu não sei mais o que fazer. Cedo ou tarde vão nos pegar e não há nada que possamos fazer.

-Por que você não destruiu esse cristal ainda? -Lanny perguntou.

-Eu não consigo! -Gritei.

Respiro fundo e coloco as mãos na cabeça. Eu não dormia mais. Às vezes não comia. Tinha pesadelos frequentes e tinha dificuldade em mexer com coisas que envolvam eletricidade. Aquele hospital me perseguia!! Eu não quero mais aquilo. Não mais.

-Lanny... Eu... Eu vou embora.

-Vai o quê? -Perguntou ela.
Ela tenta me puxar pela gola da camisa, mas eu já havia saído dali usando a energia que me restava.

Humanos de cristalWhere stories live. Discover now