LXIV

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Abro meus olhos. Estavam pesados como nunca antes. Olho em volta e noto a familiaridade daquele lugar. Pelo visto, nós conseguimos voltar. Sento-me no sofá que antes eu estava deitado. Estava com as mesmas roupas. Não sabia quanto tempo havia se passado desde aqueles segundos. Eu estava um pouco mais magro.
Aparentemente, estavámos ao fim da tarde com direito à pôr-do-sol. As nuvens cobriam o céu com tons rosados e azul escuro um tanto cinzento. Minha visão estava um pouco ruim. Minha pele, estava clara e pálida. Levantei-me, quase caindo no processo. A minha visão começou a ficar escura e minha pressão caiu. Fiquei com falta de ar na hora. E desabei no sofá. É, preciso de ajuda!, pensei. Olhei em volta, ninguém. Tentei me levantar novamente e notei algo na mesa de centro. Era um papel.
Apoiado no sofá, tentei ficar em pé sozinho, o que acabei conseguindo, mas mal conseguia manter o equilíbrio. Cambaleei até a mesa, puxei uma cadeira, ofegante. Sentei-me e peguei o tal papelzinho em cima da mesa. Eu não consegui ler muito bem de primeira, mas, após forçar a visão, eu consegui ler.

"Arthur, caso acorde, tem comida na dispensa (que acabei limpando). Também tem suco de abacaxi no pequeno frigobar. Saí porque haviam coisas para resolver

-Lanny

Após ler o bilhete deixado lá. Eu vi que já tinha anoitecido. Não entendia bem o que estava acontecendo e estava faminto, portanto me levantei a fim de comer o que havia na dispensa daquela velha casa, a casa de Lanny.
Por lá, haviam biscoitos, barras de cereais, salgadinhos e pacotes de arroz e feijão, óleo, vinagre, entre outros. Olhei na cozinha, um fogão. Que, por sinal, não tínhamos. Aparentemente, alguém o pôs ali. E eu nao fazia questão de saber quem foi. Fui até ele. Tinha uma panela em cima dele que estava vazia, após eu checar. Devorei os biscoitos e tomei todo o suco de abacaxi que estava no frigobar.

Após duas horas, Lanny finalmente chegou, após me ver, seus olhos se entristeceram e eu não entendi bem o por quê. Apenas disse 'oi'.

-Arthur -disse ela, -seja bem vindo de volta.

-O que foi que aconteceu? -Perguntei, curioso.

-Elisabeth e Richard resolveram sair do grupo. Eles disseram que se cansaram desse 'tipo' de vida. Andrew me ajudou com as despesas das coisas aqui, eu estou trabalhando num posto de gasolina há 3 dias. Tempo que você esteve dormindo. -Disse ela olhando para baixo.
Apenas olhei para o lado e disse:

-Eu acho que... eles fizeram bem. Eu descobri ali naquele lugar quem realmente estava ao meu redor.

-Arthur, acho que já chega disso. -Ela se aproximou de mim, sentou ao meu lado e apoiou os cotovelos em seus joelhos. -Nós perdemos a luta. Os ICHC secretamente estão aliados com os WhiteVision. Essa é uma luta que não podemos lutar.
Eu também soube o que aconteceu com seu amigo...

-No final, estavamos apenas sendo usados. Não tínhamos ideia do que estava acontecendo. Não tínhamos culpa. Nós não sabíamos o que estavamos enfrentando... Eu medi mal o inimigo. Agora veja só onde estamos. -Disse.

-Me perdoe. Ela se levantou e foi até a estante, pegou uma chave e abriu uma gaveta. De lá, ela tirou meu cristal.

-Eu notei que não era mais um humano de cristal quando acordei. -Disse.

-Eu peguei um supressor antes de voltarmos. Tanto você quanto eu voltamos à ser humanos.

Eu apenas me deitei virado. Não queria olhar para ela. Eu não consegui olhar para ela. Eu queria chorar, mas não conseguia. Eu queria simplesmente explodir. Ou era isso que eu achava que iria fazer. No fim, todos vivemos uma mentira, na qual os mentirosos fizeram questão de nnos mostrar o quão perigosos são, e não há nada que eu possa fazer para mudar isso. Eu estava cansado deste mundo.

-Arthur -Ela me chamou.

-Diga, -Falei sem me virar.

-Você pode, por favor, olhar para mim?

-Não consigo.

-Por que não?

-Por que eu estou envergonhado.

Ela não respondeu. Só andou até a porta, a abriu e a fechou em seguida.
  Me levantei e fui até um dos quartos, foi que vi um colchão no chão perto de caixas com roupas, era aqui que ela estava dormindo?. Peguei uma toalha e tomei um bom e merecido banho. Troquei de roupa. Usando um moletom preto e calças jeans. Fui até a porta de entrada e a abri. Olhei para Lanny que estava ao lado de um arbusto olhando as estrelas. Sentei-me ao lado dela. Ela sequer olhou para mim. Aproximei minha mão da dela e ela a pegou.

-Sabe, eu estou com medo. Não sei mais o que fazer. Não vejo sentido em continuar... Mas, obrigado. Obrigado por ter lutado ao meu lado, obrigado por ter me ajudado em momentos difíceis, obrigado por ter me aguentado todo esse tempo, obrigado por ser minha amiga. -Disse.
Ela se virou e disse
-Falta uma coisinha.
-Desculpa!?
-Isso, sim.
-A culpa é toda minha.
-Sem problemas, baixinho. Você só fez o que achava certo. Mas agora, temos que viver escondidos.

-Sim, vamos mesmo.

-Eu peguei um pacote de biscoitos na volta pra casa, quer um? -Ela disso mostrando o biscoito sabor baunilha para mim.

-Tudo bem. -Disse e peguei um.

...

Após um mês, eu já estava acostumado a viver daquele jeito, arrumei um emprego de meio período no mesmo distrito onde eu Lanny morávamos e passamos a viver juntos. Naturalmente, tivemos de aprender a cozinhar para não sobrevivermos apenas de pizzas.
Após um mês de trabalho, recebi meu primeiro salário de 120 dólares. Lanny ganhava 160 dólares, e portanto, usávamos esse dinheiro de forma econômica.
Após tudo que aconteceu, eu, Lanny, Lisa e Rich ficamos conhecidos como um grupo criminoso chamados 'Os Fantasmas'. E fomos constatados como desaparecidos. Cartazes com meu nome foram colocados no distrito 15, 16 e 17. Mas nunca me chamaram nem nada. Aparentemente, meus pais estavam procurando por mim, que havia desaparecido há mais de 5 meses.

O outono cobriu tudo. As folhas de setembro dançavam por aí. O Colégio onde eu estudava havia sido reconstruído, agora, como um Colégio militar.
Mais cartazes mostravam um jovem de 15 anos, cabelos curtos lisos, olhos escuros, com um toque de cinza. Totalmente diferente do que eu estava hoje em dia. Um jovem alto, cabelos arrepiados e desconhecido oela maioria do bairro. Eu não me importava muito com tudo qje estava acontecendo. Só notava que, cedo ou tarde, eu me tornaria um adulto, mudaria de nome e tentaria mudar de estado e tentaria continuar levando uma vida normal por um tempo. Lisa não tinha trago apenas um supressor quando voltamos do laboratório. Fiquei usando meu cristal para o caso de me reconhecerem por aí. Mesmo assim, não parei de matê-lo comigo, por fim de segurança.
Um novo tempo prometia chegar.

Humanos de cristalWhere stories live. Discover now