13. Parte 4

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― Tu fumaste do cachimbo da paz? ― Hunus tem de perguntar, a pergunta que não podia calar, mas claro que não, ele não estava nada pacífico.

― Deus me livre, só os deuses sabem o que tem ali dentro, eu prefiro minha saúde. ― Amo diz. Uma vez que ele era parecido com Ama, mesmo suas caretas feias de negação eram semelhantes. ― Eu não preciso compartilhar um cachimbo para ficar em paz com ninguém não, eu sou mais pacífico quando não pego boqueira dos outros. É bizarro como eles ficam risonhos e afetivos quando fumam no cachimbo da paz. Eu não quero, sinceramente, tenho motivos para não gostar das pessoas direito e não quero que substâncias afetem o meu ranço sagrado. Equilíbrio de amor e ódio também é uma dádiva, boqueira não. Quem é sano de verdade odeia e ama, um nunca suprime o outro, ingerir substância que só deixa o amor não é aceitável nesta terra nem em outra. Esse povo possui voto de castidade, mas sabe porque eu acho que isso existe? ― ele faz suspense e sussurra a resposta ― Boqueira. (Mouthrot)

Boqueira, o surgimento excessivo de fungos ou bactérias que provocam feridas no canto da boca em razão de saliva, conhecido por ser algo manifestado quando "saliva é trocada", podendo ser por copos compartilhados e beijos. Também se referia à transmissão de tudo o que era ruim através da boca. O corpo de Ama tremia enquanto ela segurava ao nariz e boca, Hunus faltava erguer as mãos aos céus e pedir por arrebatamento para não ter de conviver com Ama e Amo simultaneamente. Amo era determinado em seu discurso, a cada hora passada com a nova irmã de consideração era uma hora aprendendo a petulância humorística dela. O aprendiz de "doido".

Yívan havia entregado a ela livros introdutórios de história, contudo ela não os queria, pois dizia que estavam errados e distorcidos. Ela não estava errada, todos os documentos histórico-religiosos – dado que religião surgira após a queda da magia humana e religião tornara-se um viés político dominante – haviam sido modificados para serem favoráveis à instituição, isso sequer era um segredo, qualquer um que pensasse poderia chegar a tal conclusão.

― Mas ainda é bom saber como eles formam a educação por aqui. Quando tu fores questionada, não precisa crer neles, apenas repetir o que eles querem que tu digas, então tu precisas saber. ― Hunus tenta convencer Ama a ler o livro introdutório, mas assim que pronunciara a sugestão, arrependera-se. Por um segundo esquecera com quem falava. Para Ama, não existia a história de falar sobre algo e não acreditar no que diz.

Era absurdo moldar-se a um sistema daquela forma e prestar-se publicamente a uma mentira, não era correta, mas era fácil e conveniente, livrava as pessoas de problemas. Era um insulto ao culto da verdade aceitar mentiras como aquelas. Ama sequer consegue falar tamanhas eram as respostas para aquele absurdo que poderia formular.

Yívan olha aos arredores e fala a ela. ― Certo, tu não precisas ler. Depois eu posso contar-te oralmente para que tu não percas a teu tempo nisso, a mérito de que tu precisas passar pela verificação de conhecimento. Não precisa se irritar. Nós fazemos tua sessão de cura e essa "aulinha" conjuntamente. Apenas aproveite o dia.

Ama o observa atentamente, ele retirava os impulsos seus para tagarelar aversões. Não valia a pena ocupar a mente com o desagradável naquele instante. Yívan havia tocado ao ombro de Ama e ela baixara a guarda.

― Certo.

Amo observa cada gesto compartilhado, analítico.

― Isso quer dizer que agora eu tenho um cunhado?

Yívan não podia lidar com duas almas de Krishnaraj no mesmo espaço. A maneira como o mais jovem reproduzia a mais velha poderia ser terrível para outros.

― Rapaz, tu tens de pedir autorização da família antes de cortejar alguém. ― Amo começa a provoca-lo.

Yívan paralisa, impassível pelos segundos que se passam, não podendo decidir se era aceitável que a intimidade sua com Ama fosse conhecida por outros que não Hunus – ele reconhecia pelo olhar de Hunus que ela sabia. Amo começa a rir.

EsperanczAWhere stories live. Discover now