5. Parte 3

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― Está morto, não faz diferença. Se tu conseguires, podes mudar isso. Tu podes ser mais livre e dar liberdade se conseguir, não fraqueje. É só uma cabeça. ― são as palavras que direciona à amiga.

Hunus cuida de vidas, não cuida de retirá-las. Ela não era infantil, apenas achava coerente e agregador manter o plausível da vida na perspectiva, o que incluía muito do sentimento juvenil de felicidade e gosto com o bobo e pouco, em especial o respeito genuíno à vida que outros pareciam perder com a idade.

Ela confirma com a cabeça, tensa demais para falar dentre tantos observantes. Posiciona a flecha alguns metros dali e se afasta desta. Visualizando o alvo última vez, não pensa racionalmente, joga-se no chão para girar, toma a flecha em seu caminho, para o rodopio fazendo apoio com o pé e, no mesmo segundo objetivo, tem a flecha encaixada no arco e o tiro é dado.

Acerta em cheio a cabeça, ela é atravessada, retirada da lança que a segurava e cai no chão. Hunus assusta-se e deixa cair o arco, levantando-se de supetão para afastar-se, mesmo que a cabeça seca estivesse longe.

Os espectadores da nobreza riem e aplaudem. Hunus recolhe o arco e não ousaria nesta vida ou na outra ir lá recolher a flecha para reutilização. A Mandatária aproxima-se dela, ao invés de esperar que Hunus retorne. Fala somente para ela.

― Menina, muito bonito, contudo eu preciso te dizer algo. Flechas bonitas incontáveis dos presentes conseguem lançar e até melhor. Tu és amável, mas amável não é o suficiente. Eu preciso te aprovar como capaz, mas opte por um Solstício ao invés de Equinócio. Teu corpo não é dos mais fortes, prefere ser evasiva e distante, por isso o arco e flecha tradicionais? Podes se sair bem, mas no momento em que eles alcançarem no corpo a corpo, abaterão a ti. Mesmo os trabalhadores braçais subnutridos te dariam uma surra fácil e destruiriam teu sonho nobre. Continue evasiva pelo teu próprio bem.

Hunus retorna à fila silenciosa. Os outros são verificados, praticamente todos são aprovados. Não eram excepcionais, mas tinham corpos normalizados para o mínimo, pagaram ao imposto e deram respostas que não os eliminariam, ainda aceitável ao sistema.

Chega a vez dos trabalhadores nos farrapos e Ama.

O Clérigo chama a Mandatária para perto de si e sussurra contra o elmo para que ninguém mais escutasse. ― Lembre-se como funciona no caso deles. Já temos não carreiristas presentes que não pertencem à classe nobre para fazer a cota inferiorizada, esses aí serão massacrados. Basta pressionar a mente pequena e eles desistirão em sequência, assim ninguém aqui será acusado de crueldade perante a sociedade. É para o bem deles, nós estamos fazendo-lhes um favor, dando trabalho e inserção social, contudo eles ainda desejam mais com o pouco que são. Não podemos ter uma Reaina dessa classe, seria um rebaixamento terrível a Ágorantuon, sequer as criaturas aceitariam nossos tratados caso tivéssemos um representante selvagem. Use a das fitas como o exemplo, teste seus corpos como se fossem gladiadores, melhor agora que futuramente, tu sabes o quão sedentos são os filhos dos nobres.

― Sim, vossa santidade. ― a Mandatária, como quase todos os sacerdotes, odiava ao Clérigo, mas precisava obedecê-lo e oferecer tratamento formal em plena desonestidade de emoção.

A soldado sai de seus joelhos e começa pela fila da frente, pedindo para que os outros dois grupos já passados pela triagem vão para perto da parede. Eles obedecem e se distanciam.

Chega no primeiro da fila e diz, não oferecendo as perguntas de protocolo:

― Eu sei que o senhor é uma pessoa honesta.

E com a lança defere um golpe nas pernas do trabalhador cansado. Quando ele está de joelhos, usa a ponta não perfurante para acertar o diafragma.

EsperanczAUnde poveștirile trăiesc. Descoperă acum