14. Parte 2

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Ama os ignora enquanto manca até Yívan. O sangue já descia por seu peito e pernas.

― Use o teu espírito real, não o que eles tentaram dar a ti. Esqueça a tua educação. Use teu conhecimento, conhecimento de tesouro, tua alma. ― ela o instruciona mantendo o contato visual para que ele esquecesse que estava rodeado daquelas pessoas a julgá-lo.

Rugidos como raios caem sobre aquele céu noturno, todos se assustam, frágeis, mas Ama se mantém firme.

― Nunca dê confiança em um suposto conhecimento predefinido sem razões proeminentes, sem clareza que seja justificada por dogma. Essas vadias não são leais. (This hoes ain't loyal) Esqueça estes conhecimentos predefinidos que suprimem o teu poder. ― ela segura ao ombro de Yívan e encosta o cabo da adaga que ainda a atravessava no peito dele ― Eu não sou nenhum caricatura de cultura como eles, Yívan. Eu sou um animal real, eu sou um ser humano real. Isso aqui é mais um dos inúmeros sofrimentos desnecessários que essa sociedade me fizera passar... Sofrimento não justificado, injusto, dado por valores que se fazem irreais na cabeça de outras pessoas, mais do infindo sofrimento não justificado nesse mundo. Estou confiando a ti a minha alma. Não como aquele gesto decorado, frigido e não correspondido. Uma alma real, não uma etiqueta. Faça valer a porcaria da tua alma, ninguém aqui tem todo o tempo do mundo para perde-lo com frigidez. As maiores perfeições do mundo não foram criadas por humanos. Aos humanos só fora doado a capacidade de usar dessas perfeições para honrá-las. Honre. Eu estou olhando nos teus olhos e dizendo que sou uma real pessoa exausta. Essa é verdade nesta fração de vida. Eu estou perdendo sangue. É melhor que tu comeces a orar agora. Faça-me sentir algo que não seja a dor de estar vivo. Existe apenas uma e total verdade e eu estou olhando para tua alma.

A alta sacerdotisa percebe que está perdendo para Ama ao convencer Yívan.

― Aprendiz, tu estarás amaldiçoado caso ajuda-la! Tu estarás perturbando a ordem divina e não poderá ser perdoado enquanto não pagar pelos pecados. ― ameaça a ele, mas não tem coragem de aproximar-se.

― Eles pagaram pelos pecados deles, Yívan? Pelos crimes contra o bom senso que cometeram? ― Ama o interroga.

― ... Eles nunca pagarão por nada, pois estão no topo da hierarquia e acreditam que podem comprar impunidade com os termos da cultura e a posse. ― ele finalmente quebra a seu silêncio. Baixa a cabeça, a consciência não estava clara em todos os sentidos, mas naquele ponto sim.

― Yívan. ― ela chama, séria, levando a mão do ombro dele para seu rosto.

― Sim? ― ele responde fraco.

― Eu estou ofendendo a ti?

Como a alta sacerdotisa não pode vencer, move-se por fim, usa um de seus dardos próprios – entalhados para realizar a "justiça divina" através das escolhas humanas –, repletos de veneno destilado de Desesperancza, e arremessa precisamente na testa de Ama. Havia sido treinada para realizar punições imediatas, antes que a alma chegasse ao julgamento dos deuses, e havia considerado que aquela era a situação da qual devia realizar a execução.

O arremesso é forte e tão inebriante é o veneno que Ama tem a cabeça lançada para trás e ela cai em seu ombro ferido. A mão atravessada, por cair de mal jeito, rasga a mão e a lâmina sai. Mesmo o veneno não era capaz de abafar ao grito de ter os quatro dedos quase separados do dedão. Yívan perde a fala pelos segundos que se passam.

― O que as pessoas irão dizer? (What will people say?) ― a alta sacerdotisa fala a ele. Erah era a dona das palavras, ele grava bem a paz no olhar dela ao haver decidido matar Ama. ― O que as pessoas irão dizer sobre tu estares envolvido com uma megera? Um nobre aprendiz de sacerdote, escutando uma inculta e suas ideias degeneradas...

EsperanczAWhere stories live. Discover now