12. Parte 5

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Yívan tinha lágrimas o escorrendo, ele deixava o rosto um pouco inacessível a Ama para que ela não o observasse daquela forma.

― Então o meu conceito de magia tornou-se um pouco turvo. Magia é surreal, dizia eu, mas se eu for contar todas as coisas que se sentem surreais para mim, o quanto não seria magia? Família é surreal... Afeto sincero... Companhia... Atualmente eu estou vivendo a oportunidade de ter tanta companhia que minha cabeça está sempre confusa e prestes a implodir. ― ela ri, mas não é engraçado ― Eu não recordo o último momento da minha vida, que não por idealização, do qual eu não estive cansada e sentindo algum tipo de dor... Estar aqui é surreal para mim, eu apenas não estou lidando com isso no momento pela possibilidade de ser morta nos próximos dias. ― ri novamente, os sorrisos acumulam-se sombrios ― Eu olho a vocês e tenho de colocar em minha mente que isto é real frequentemente. É real e uma hora pode passar, por isso tenho de ficar alerta. Até mesmo este sonho tem dificuldades de passar de surreal para real, meu espírito arrastara-me até aqui... ― outro riso, ainda mais alto ― Nossa... Estar sentada neste chão para mim, tocando estes fios... Isso é surreal. Era para eu estar morta a este ponto da existência, isso é infinitamente surreal... Isso seria magia? Sente-se como fosse...

― Pare dizer isso... Por favor... ― Yívan a pede em suspiro, finalmente. Ama observa que ele chorava em razão dela. ― Olhe para o teu estado...

Ouvindo o que ela havia dito, não fazia mais diferença pedir que ela recuasse. Não havia para onde recuar, era a realidade de Ama, logo ele não poderia exigir a isso dela. Ele sentia-se emocionalmente encurralado apenas em escutá-la falar sobre si mesma, empatia doía. Quanto mais se avançava, mais era sabido que a realidade não era justa.

― Quando eu estava escondida, o que depois descobri que foram dois dias com a realidade fechada... Mas estes dois dias, contados do nascer ao pôr-do-sol nada significaram perante a distorção mágica, eu sentira uma semana ao menos, minha amiga sentira horas... Eu tentei escrever minha modesta cartinha e fui ignorada... Acho que até mereci... Não sei... ― Ama termina, finalmente levantando-se do chão com a ajuda da cadeira confortável de Yívan ― Tudo bem. Eu sei que estou acabada, mas tudo bem, tem sido assim por muito tempo, eu não planejava continuar sendo escravizada para sempre, uma hora acabaria, a diferença é que finalmente viera a oportunidade de ou vencer como a doida que estão dizendo que eu sou ou... acabar. Acabar todo esse drama de uma vez por todas. Sem remorso... Eu devolveria minha alma para os deuses e seria isso... Mais uma em uma "multidão de um em um milhão" ...

Yívan quebrava a mente tentando encontrar uma maneira de retirá-la daquela posição, mas não haviam outras opções. Era luta ou desistência completa. Por mais que Ama estivesse já engolindo a possibilidade de derrota, ela não haveria vindo apenas com a perspectiva de destruir-se bravamente. Caso ela fosse longe o bastante, pensa Yívan, ela conseguiria um solstício, ele poderia fazer algo, realizar algum pedido aos deuses ou a sua mãe vinda para ver-lhe, porém haviam limites. Ele recosta a harpa ao lado da varanda, em seu lugar original.

― Qual é o teu plano? ― uma vez que não haviam recusas que podiam ser feitas, ele parte para perguntar a ela qual seria o desígnio dela para aquela ocasião. Ele tenta tapar ao nariz e parar as lágrimas que já o passavam a irritar. Era intensas as emoções.

― O plano é gladiar. Eu posso falar muito porque muito tempo já passara em silêncio, eu já estivera com a sensação de que iria morrer tanto que não acho que temo tão profundamente a morte – não estou presa a nada, afinal, que não aos meus sonhos sobre magia –, tantos anos passara naquele campo lutando contra a insensibilização que me permeava que não estou mais a fim de prestar papel de fortaleza estoica trabalhadora. Eu acho que finalmente posso agir como um ser humano de oportunidade completa, não sou uma criatura indiferente, eu preciso viver o tempo que talvez me reste... Esse é o plano. Continuar viva, mas verdadeiramente viva, até o momento em que morrer seja um dever o qual não se pode recorrer no tribunal da natureza. Se eu não terei acesso à toda magia surreal, eu ainda tenho tantas experiências surreais das quais fora privada para tentar cumprir... Eu gostaria de amar o mundo mais um pouco antes de morrer, arranjar umas brigas, agir como uma doida, provar o céu e inferno na terra, viver toda emoção que eu careci... Realmente não há nada mais me impedindo que não a mim mesma... Eu já estou aqui de qualquer forma... Eu estou livre para viver minha arrogância humildemente até quando eu morrer. Meu gosto predileto é dentre a ignorância e a sabedoria absoluta, quero sempre estar na beleza desse meio termo.

EsperanczAWhere stories live. Discover now