3. Parte 3

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Ela segurava seu cajado que antes fizera de instrumento de lavoura, roupas simples, contudo seus enfeites pessoais mostrando que ela ainda era um ser humano cuja vida dura não havia lhe arrancado a tudo. Sabiam que ela era a lavradora do hectare e viam-na abandonar ao que crescera fazendo. Achavam-na ridícula e admiravam-na simultaneamente, distraindo-se de seu serviço de colher Esperancza para mirá-la.

Apenas quando ela alcança o primeiro elevado, já saindo das planícies, que torna para o horizonte passado, coincidentemente vendo a Khlaos esquecido no seu encosto. Ela não reage ao ver novamente a máscara, ele deixa de fazer sombra nela, indo ao lado e tornando para o mesmo horizonte. Azul brilhante e nuvens imensas nos céus, formando pinturas como em todos os dias, os ternos campos planos e coloridos vinham antes de um ponto morto – o casebre – e pouco depois a entrada de uma floresta escura de galhos tortos e troncos em espiral. Khlaos percebera que aquela floresta não possuía nome, ou era referido como terra de Krishnaraj ou, como a própria lavradora falava, floresta retorcida/contorcida. Ela parecia-se como tantas outras, mas não era e tampouco fora atribuído nome, era a floresta que respondia à humildade. Como contavam os antigos, era uma floresta que dava os indícios de não querer responder à ordem natural humana, mas ser única em seu desenvolvimento. Única como existência mesmo que ninguém a perceba que não outro a qual ninguém percebe, mas sabe de si. Não pedia por atenção, não se gabava, mas verdadeiramente era arrogante e cheio de si, ao menos o setor imponente e bom dessas distorções.

― É desta terra que descendo, este fora o trabalho de minha vida. Eu perdera a noção do tempo por completo, mas vivera tudo o que tinha aqui. Meus antecessores entregaram-me a isto, ensinaram-me antes de morrer, mas agora eu preciso ir atrás de minha própria vida de condição singular... ― é a maneira com a qual ela se despedia ― Mesmo que eu esteja deixando a lavoura, ela por toda a eternidade estará marcada na minha alma. Quando eu morrer, sinto que é nesse lugar que irei pensar por último. É mais uma daquelas sensações contraditórias... Eu sentia um medo torturante deste lugar, mas fora ele que me fizera sonhar como um insano ainda pior...

As fitas no chapéu voam naquela direção. Um redemoinho de ar se faz, levando parte das flores e folhas de toda a região para formar mais um espiral dançante até onde humanos não alcançam. O campo e sua lavoura pareciam imutáveis como um deus não ciente.

― É uma caminhada longa a fazer, desculpe pela interrupção.

Naquele elevado já era possível ver as grandes montanhas e a estrada que as cortavam até um novo elevado, o planalto da Pólis, diluído pela distância e nuvens com a ponta mais alta de seu castelo a sinalizar localização.

― Tu não queres um suicídio rápido? Avante.

EsperanczAWhere stories live. Discover now