12. Parte 3

3 2 0
                                    

Ama imagina que Yívan seria um maravilhoso professor, ele, como tantos ali, apenas precisava da oportunidade correta e a desintegração das barreiras sistemáticas e o mundo seria dele.

― Tu estás me dizendo que o motivo de não haver magia nesse mundo para nós é porque há muita testa oleosa por aí se achando mente brilhante?

A fala de Ama quebra por completo o tom inspiracional que Yívan havia adquirido.

― Não é exatamente o que eu quis dizer... ― ele retruca.

― Eu entendi, eu entendi, desculpe pela piada. ― ela se recompõe ― Basta um fruto podre no cesto para estragar a todo o resto... Punição coletiva... Longínquo e aqui manifestado. Ilusão a nosso favor e contra nós. Nós quisemos fazer da magia algo relatável a nós ao invés de servirmos a ela para termos dela, serviço.

― Há muito tempo eu não vejo alguém falar com esta paixão sobre a magia mesmo sendo humilde... Aqui existem muitos privilegiados, contudo durante esses anos não pude sentir paixão honesta vinda deles... Magia parecia algo que deveria dá-los muito serviço e nada em troca. Neste mundo que se transforma, há de existir a base para ser transformada, uma troca de valores equivalentes. Que valor nós oferecemos para receber da magia a tal troca equivalente quando nosso sistema engole aos recursos desconsiderando consequências, não é? ― ele baixa a face ― Perdão por estas palavras, nós conversamos por bastante tempo no teu primeiro dia, contudo tu te esqueceras de tudo... Não há problema. O que ocorrera contigo na Procissão?

Ela lamenta a perca de memória, foca em responder a questão.

― Nada... Tentaram matar-me algumas vezes, então ajudaram a me esconder, eu tive de comer as plantas desérticas para sobreviver aos três dias para completar a caminhada e agora estou aqui... ― ela explica mais que abreviado a história.

― Os grãos-frutos desérticos?! ― Yívan choca-se.

― Tudo bem... Tudo bem... Meu corpo só está ferido, mas é forte... Se eu não as comesse seria capaz de colapsar ao corpo, então fora uma escolha fácil, objetiva... ― Ama desdenha da própria situação. Não podia apontar alguma consequência em seu corpo no momento, uma vez que ele estava um surto de dores contingenciadas.

Yívan começa com seus múrmuros. Ela ri.

― Tu não sabes o quão precioso és.

A frase causa mais este silêncio no rapaz. Ama passa os dedos um pouco mais nos fios da Harpa, montando um padrão, como se estivesse a tentar compor não sabendo como se produz música.

― Tu já tiveste essa sensação de querer ser abduzido? ― ela fala primeiro.

― Tu precisarias me explicar o que queres dizer com "abduzido".

― Ser retirado da realidade por uma força maior, geralmente por algo que apresenta mais vantagem em ser realidade. ― Ama explica, não desviando das cordas.

Yívan sorri, não entendendo bem onde ela gostara de chegar, feliz por ela não sustentar a frase que o silenciara por mais tempo. Ele estava constrangido demais para pensar sobre tal "preciosidade".

― Eu me refiro a escapismo, mas não qualquer tipo de escapismo, é a sua vertente mais famosa e vigorosa. O escapismo de abdução. Quando você está em uma posição muito desconfortável ou não vê como pode encontrar alegria da maneira crua a qual vive, geralmente é procurado o escapismo de abdução... Podem ser fantasias limitadas à mente, pode ser através de histórias ou invenções de escapismo tão grandes que tu passas a interpretar como sonho e finalmente sai, abduzindo-se. ― Ama é um pouco menos didática que Yívan, mas ainda assim ele se recosta na Harpa apoiada e inclina-se um pouco mais a ela.

EsperanczAजहाँ कहानियाँ रहती हैं। अभी खोजें