7. Parte 2

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― Já não temos magia por causa de nossos antepassados e ainda precisamos herdar a feiura... Não botei fé, pensava que não ter magia já era nossa punição... Quem foi que te pariu, menino? Humano não é, revela aí teu segredo, ó, espécime fraudulento que quer usurpar a minha raça. Ser feio é uma identidade e isso que tu estás fazendo é apropriação cultural. Qual é o teu nome, elemento?

Ele precisa esforçar seu corpo para cessar o riso. ― Eu já te disse tantas vezes... Eu sou Yívan, um humano. Por favor, fale menos, tu estás muito machucada.

Ama desdenha. ― Ah é? Acredita que eu não estava sentindo? ― ironiza ― Passou... Já passou...

Eles entram em silêncio e ela o admira um pouco mais. Não parecia feliz ao dizê-lo, apenas estava a constatar uma verdade contrastante da situação anterior.

― Mas, sem dúvidas, tu és lindo... É uma maneira boa de acordar até... Mais belo que as pessoas que já vi, contando que eu realmente não vira tantas nos últimos anos...

Yívan baixa o rosto, constrangido uma vez que o tom de piada havia sido perdido e agora Ama parecia extraordinariamente consciente do que dizia.

― É impressão tua, não passa disso, mas obrigada pelo gentil elogio. ― ele sorri e tem uma pequena realização ― Tua amiga... Tu não percebeste? Ela tem vitiligo, sim, mas também duas texturas de cabelo. Vitiligo é normal, duas texturas de pelo não. Ela deve ser mestiça distante de vermelho e azul.

― Parece normal para mim... ― Ama pensa ― Considerando que eu a vi quando era uma criança e qualquer coisa diferente era, de certa forma, normal... Não acho que tenho o filtro para essa percepção... Isso seria especial?

― Não que seja especial, mas vermelhos pouco querem se envolver com os azuis... Vermelhos são conhecidos pelos azuis como boêmios, fáceis, apaixonados superficialmente... Os azuis são vistos como... Aqueles que sempre levam as ações e palavras a sério demais. Um tipo tem preconceito contra o outro e estes não costumam envolver-se graça a diferenças culturais. ― Yívan finaliza a explicação e levanta, dando as costas para Ama.

Parte das costas do rapaz estava nua graças os tecidos caídos, as linhas eram perfeitas. Ama havia distraído-se de seu pôr-do-sol ligeiramente. Ele fora buscar roupas para ela, sendo cuidadoso para trazer-lhe calças, mas estas pertenciam ao mesmo tecido que usava Yívan, porém escuro. Ama tenta fazer uma expressão azeda, mas não consegue graças aos ferimentos.

― Eu ainda tenho um de meus vestidos na minha bolsa. Gostaria de vestir meu macacão. Onde ele estaria? ― ela pergunta timidamente, não querendo ser desagradecida da boa vontade alheia. Ama não sabia porque ele tanto a cuidava, mas o que esta processava era que estava a cuidar, como se não houvesse explicação mais aprofundada.

― Eu lavei há não muito tempo e está secando. Como é uma peça pesada, não seca rápido, mas as tuas fitas estão novas em folha. Tu precisas comparecer ao banquete, tens certeza que não queres usar outra coisa? Eu posso emprestar...

― Prefiro minhas roupas... Nessa condição não acho que consigo vestir outra coisa também... Preciso das texturas que eu conheço e gosto... Só elas me fazem confortável na pele.

― Perfeitamente entendido.

Yívan busca os pertences de Ama. Ela observa sua lança-cajado recostada na parede, seu cesto e bolsa acima de uma mesa antes da porta. O quarto era abastado e delicado, como um daqueles que se idealiza uma princesa a viver, porém menos decorado, repleto de livros e mais sentido em sua harmonia graciosa.

― Tu és um nobre? ― pergunta Ama enquanto Yívan retira o vestido da bolsa e toma as fitas limpas.

― Não.

EsperanczAWhere stories live. Discover now