CAPÍTULO 9. Caminhada

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Rosao havia feito o prometido. Pouco antes do amanhecer, aparecera ao quartinho para acordar os corpos exaustos de Ama e Hunus. Elas sibilaram e levantam em um pulo. O dia estava frio de bater os dentes, havia ocorrido uma grande mudança de temperatura enquanto dormiam, uma instabilidade que também poderia ser atribuída à presença das criaturas mágicas nas terras humanas.

Hunus coloca de imediato seu casaco de caçador, mas Ama vestia somente seu vestido camponês. Rosao, sabendo disso, trouxera uma manta velha para as duas, das poucas que tinham, presenteando-as.

Elas precisaram sair de imediato, sibilando pelo frio que fazia uma nuvem de suas respirações. Ama manca bravamente por todo o percurso, focalizando a mente para que esta estivesse no objetivo. Hunus olha de esguelha o mancar alheio com preocupação e teme por si mesma enquanto luta contra a hesitação para continuar caminhando até o ponto de partida.

Rosao as guia fora da fortaleza do salão do Templo até uma segunda área de povoamento, mas, distinto daquela que cumprimentara Ama na chegada à Pólis, este tratava-se de uma seção nobre e não comerciante. Os casarões são abrangentes, possuíam espaço dentre uns e outros e eram de diversos formatos e adornos, pois quanto mais rico, mais luxuosa em sua aparência devia ser, mais pomposos os jardins e mais criados madrugando para deixar a tudo em uma limpeza polida que não competiria com a realidade caso não houvessem escravos do trabalho doméstico que eles não realizavam. Participantes do Florilégio saíram das instalações próximas ao Templo e Coliseus, mas, boa parte deles, saíra dos casarões com seus casacos pesados apenas o suficiente para que não atrapalhassem seus movimentos e armas. Rosao dera a elas uma trouxinha com frutas de sua horta pessoal antes de despachá-las, parecia estar levando suas duas filhas para uma prova importante.

― Sigam estes nobres que chegarão ao ponto de partida. ― ela diz, envolvida em uma manta ― E mantenham em mente que desistir por preservação não é um pecado, é humano, mesmo que o humano seja um pecador inato.

Desistência auto imposta, o método predileto de evasão no Equinócio.

Elas agradecem e despedem-se tensas. Ama e Hunus adentram na multidão para a ela pertencer, mas não podiam integrá-la, a posição das mentes era diferenciada demais. Chegaram ao portal com os corações silenciosos, ele produzia pilares e mais pilares para segurar ao seu arco principal, cheio de gravações em línguas obsoletas, da época da qual a espécie ainda carregava magia consigo. Após o arco haviam quilômetros de construções arcaicas preservadas, contudo vazias em suas pedras, arquitetura antiga e areia desértica a qual havia tomado ao chão e fazia redemoinhos. Destas mesmas areias brotavam plantas que tanto se pareciam com Esperanczas, contudo Ama jamais havia visto seu formato desértico saindo e enroscando-se em pedras frias. Ela aponta para que Hunus tentasse explica-la o que eram aquelas plantas desérticas, mas a última também não sabia.

― Pertencem à espécie de Esperanczas, contudo essas aí são as variações da Pólis, venenosas e desérticas. Injetam qualquer doença aleatória no corpo humano e faz com que eles definhem desde depressão e insanidade até gripe e câncer, induz a morte através de patologias, é chamado de veneno apenas para deixar claro, tanto que costumam chamar de Desesperancza. É como uma erva daninha crescendo no ambiente urbano. ― Khlaos estava atrás de Ama, aguardando a procissão parar de caminhar para que finalmente fosse iniciada a verdadeira Procissão. Ele voltara a usar sua máscara e usava consigo um casaco negro grande, mas isto porque tinha armas abaixo dele e não era seu plano ostentar a outros sua armadura de peito, braços e espadas duplas. ― Não virem para mim. ― ele coloca na mão de Ama uma adaga embainhada com sutileza. Ela aceita, inquestionável.

Ama vira a Hunus. ― Nós precisamos nos esconder, ir pelas margens e esperar que os nobres carreiristas façam seu caminho primeiro.

― O lugar é um labirinto para quem é do campo, embora tenham indicações de direção das tumbas.

EsperanczAWhere stories live. Discover now