7. Parte 3

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― O que eu estava dizendo exatamente? ― Ama precisa perguntar, instigada ― O que eu disse e o que fiz?

― "As pessoas extremamente urbanas precisam parar de pensar que elas representam o mundo e que tudo o que consomem é essencialmente a verdade... Eles queriam retirar e colocar o que quisessem e não pensaram na possibilidade de estar acumulando lixo. Natureza digere mal o lixo tipicamente humano... Nós tínhamos a tudo na era da magia. Ter tudo e não saber valorizar o que se tem e é resulta na perda do mesmo tudo. Como... Como as pessoas puderam banalizar magia? Magia! A geração pós-mágica tem problema com compromisso e seriedade... Essa espécie não é como os outros animais. Nós não precisamos só do senso que nos avisa sobre o que estamos recebendo no espaço, nós criamos resposta emocional imediata muito mais complexada que a dos outros animais. É triste. Qual é nossa resposta emocional a isso que estamos vivendo? Magia é inacabável e o humano se tornou um consumista compulsivo que não mais sente a substância que consome...", dentre uma série de outras coisas. ― ele tenta imitar um pouco do tom apaixonado alheio de falar, consegue pouco. Ama sorri da imitação dele. ― Tu pareces orgulhosa de si mesma...? ― Yívan desenvolvera uma curiosa admiração por aquela pessoa fervorosa, a ele era interessante tudo o que ela dizia, mesmo que fossem banalidades.

― Eu não achava que meu eu bêbado se sairia tão bem em reclamar como um louco ideológico, não estou tão decepcionada. Acho que pensava pouco de mim nesse quesito. ― seus olhos se perdem.

― Tu estás bem? ― ele pergunta, mostrando-lhe o vestido que ela precisava usar como um lembrete.

― Eu... Meu corpo dói tanto que parece vivo, mesmo sentindo-se morto. ― ela não ri.

― Tu disseste outras coisas enquanto estava meio consciente. ― ele começa ― Disse que preferia morrer vivendo algo do que definhar parado. Ficava dizendo... "Pobre tem que sonhar ou ninguém ganha... Pobre tem que sentir as coisas como devem ser sentidas mesmo... Pobre tem de achar as coisas bonitas mesmo, mas as coisas que não se incomodam com ostentação...", não acho que tu parecias bem. Tu falas de magia e mais magia... É como se fosse um sonho impossível para ti e esse fosse teu objetivo suicida... Literalmente, tudo ou nada e agora ou nunca...

― Eu me cansei de ter paciência. ― ela tosse ao tentar sorrir ― A razão que criaram para nós, como humanos, não serve para abarcar toda nossa existência. Nós obstruímos nossas almas com o pouco e o muito, não estamos honrando tampouco nossa simplicidade quanto complexidade. São paradoxais em tudo o que fazem. Não é tangível, há de ser tão vago e absoluto quanto esta ideia fantástica... Magia. Parece impossível mesmo que eu já tenha testemunhado traços... Tu... Tu tens orações correspondidas, mas estou certa que em tempos parece estar falando só. Quando funciona, é um verdadeiro milagre. Como? Como conseguiram banalizar algo como magia? Qual fora o pacto que nós fizemos que permitira isso? Que tipo de educação, que tipo de consumo fora feito? Eu sei o que é viver de fantasias, mas mesmo meus sonhos dos impossíveis, caso conquistados, não seriam traídos dessa forma. Eu não desrespeitaria dessa forma nem minhas fantasias infantis e os nossos antepassados e contemporâneos, já preparando a próxima geração, conseguem desrespeitar magia? Como, em uma fantasia que eu uso para continuar viva, consigo ser mais consistente no meu respeito que essas pessoas? É de perder a sanidade...

Yívan se torna sério para escutar, permite que ela fale, ela soava magoada.

― Eu não seria capaz... Eu nunca tive muito, sempre fantasiei para manter-me viva. Minhas fantasias eu não desrespeitara dessa forma.... E pensar que existiram e devem existir pessoas com a magia e tratam como se magia fosse uma prostituta barata. Oh, se eu fosse abençoada dessa forma... A prostituta barata dos outros eu chamaria de amor de minha vida e me colocaria de joelhos para agradecer todos os dias.

EsperanczAWhere stories live. Discover now