7. Parte 4

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Quando termina seu trabalho, percebe que Ama tinha o olhar sonolento e os cabelos curtos em uma completa bagunça. Dentre seus machucados, ainda se podia ver a boa estrutura facial e os olhos vivos. Yívan compara seus cabelos. As bases de Ama eram avermelhadas e castanhas, realmente. Dá de ombros, não deveria ser importante, mas era a primeira vez que se deixava tocar daquela forma uma pessoa vermelha.

Ele traz uma bengala a Ama e a entrega diretamente na mão. Ela não sabe como reagir.

― Que?

― Para te ajudar a caminhar. Teu cajado é grande demais, não é útil, mas, veja, uma de suas fitas está enrolada. Imaginei que tu gostasses de azul, então escolhi a ciano. ― ele sorri, afastando a timidez ― Vamos ao banquete, sim? Precisamos ir às solenidades ou, pelo contrário, tu serás eliminada.

― Tu estás inscrito para a posição de Clérigo?

― Sim, mas é apenas uma formalidade infundada, não tenho interesse na posição uma vez que é natural que eu saia da Pólis para voltar a minha casa. Consegues ficar em pé? ― ele começa a observar os arredores, preparando-se para sair.

― Sim, contudo o corpo reclama para se deitar. Eu me sinto muito melhor do que antes, talvez eu deva caminhar um pouco, não é?

― Sem dúvidas.

Ama o observa voltar a acertar ao cabelo a frente um espelho grande. Caminha até ele, para estar ao seu lado no espelho.

― O teu berço fora abençoado, embora tu não sejas um nobre.

Suas vestimentas eram as mesmas que usava no casebre, enquanto Yívan parecia-se a uma pintura artística do romantismo. Ama representava o realismo em sua escola artística. Ela oferece um dedão – o joinha – erguido para si mesma. "Não existe arte melhor que outra, arte é apenas arte" e sorri como um chapado.

Yívan não entende, mas sente vontade de rir também.

― É estranho ver a meu reflexo... Eu me pareço com um adulto agora, tenho a altura e as feições de um, é realmente estranho... Sinto-me como a mesma pessoa da infância. É como se eu estivesse vendo outra pessoa, não eu, mas o rosto... Está ferido, eu estou sendo obrigada a sentir como meu... ― ela leva a mão livre para o rosto ― Parece dramático, sequer sei o que pensar.

― Tu pareces bonita, pareces contigo.

Ama admira melancolicamente os hematomas e cortes. Não consegue sorrir.

― Quando estes machucados pararem de me incomodar, eu parecerei mais comigo mesma...

Yívan a guia para fora do quarto o qual Ama sentia-se alheia e fascinada. Ao que ela havia percebido, ele não estava em uma área de hospedagem comum, pois seu quarto era distante do de todos os outros. Ela não questiona, caminhavam em um casarão enquanto não chegaram ao setor de socialização do Templo massivo da Pólis.

O Templo era uma ostentação estética indescritível. Quanto menos magia estava contida em um local, mais eles se esforçavam para fazer parecer que estava. Apesar dessa inversão de valores, eram lindos e mais lindos corredores de arcos com seus jardins. Os templários, estudantes ou não, passavam em suas levíssimas vestimentas observando Ama com surpresa e Yívan em uma expressão empática de pena.

Por mais que o Templo fosse a um teatro, era uma peça de arte libidinosa e de pseudo santidade, era lindo. Todas aquelas estruturas de magnificência poderiam ser reutilizadas caso uma reforma mágica fosse proposta, então Ama passara a fantasiar como uma criança como seria a visão daqueles corredores e jardins na presença de uma idealizada magia pura. As pessoas distintas e manifestações físicas da magia a vagar como seres vivos pelos espaços. Os pensamentos faziam que quisesse pular em animosidade.

Aproximavam-se de uma das portas para o Grande Salão Templário, mais lindas e adornadas portas. Yívan mesclava bem no espaço enquanto Ama estava ocupada na terra da imaginação de maravilhamento pelo diferente e visualização de um possível fantástico. Sequer havia notado como Yívan pegara sua mão para que ela não se desviasse das curvas que ele fazia.

Quando estão prestes a entrar, ocorre uma realização. ― Eu estou descalça. ― Ama percebe os pés nus quando outros passam a olhar a eles e a frieza do chão polido é finalmente notada. Sapatos eram necessários para entrar lá, uma norma básica.

― Meu deus, porque tu não me avisaste? Eu totalmente me esqueci disso...

― Eu não lembrei.

E lá se vai Yívan buscar sapatilhas aos risos.

EsperanczAWhere stories live. Discover now