4. Parte 2

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Fecha os olhos ao chegar frente aos Portões dos Gigantes, uma passarela plana se faz até portas tão altas que seriam intocadas a humanos comuns, esse era seu propósito. Dali em diante, tudo se tratava de decoração artística sobre fascinação e satisfação estética, tão polido como sua natureza selvagem não pensava em como fazer – habituada com a beleza que cresce na terra –, mas tentara conviver. Ela tentara fugir da banalização até agora, mas a partir dos próximos passos não poderia se proteger como em seus calmos campos.

Quando fecha aos olhos, sente sua lavoura e sua sensação. Estava frio, ela gostaria de subir seu macacão até que se acostumasse com a temperatura, mas ao invés de fazê-lo, lembra do frio de seu local de nascimento. Não lembrava de sua infância física, para si sempre havia sido daquela forma, suas roupas e pertences ainda cheiravam a Esperancza fresca cultivada, seu casebre e fitas. Quanto tempo havia demorado para florescer àquele estado e porque repentinamente estava cercada com o fulgor a tentar levar sua lavoura? Ela escolhera, recordava. Porque era isto, mudança e fulgor, em troca da miséria constitucional para si.

Magia.

Ama pensa na magia, a razão da existência de tudo e todos. Tendo paciência por toda uma vida, chegara a estação de não ter mais. Magia. O humano nascera, agora o humano deve se resolver e fazer valer seu florescer. Ela precisava fazer valer antes de morrer, não havia sensação mais clara que esta. Do início e final já se sabe, a medianeira é a da qual se encontra seu interesse. Radia, magia radia e não há nada a para-la, Ama precisava reclamá-la nem que fosse suicídio.

Havia mesmo nascido lá? Era ficção? Havia Ama nascido naquele momento frente aos Portões dos Gigantes? Sentia sua consciência ser reiniciada, esvazia-se. Os músculos sentem-se e ela é capaz de caminhar, era real.

Abre os olhos e, ao invés de ver a sua lavoura de todas as estações em um dia, via a parte de sua humanidade que precisava reclamar, os Portões dos Gigantes, pois havia um soldado de armadura barroca a apontar-lhe a espada.

Sorri, seu espírito havia voado por um momento. Lavradores não podiam entrar na Pólis que não na companhia de seus "donos", Senhores Feudais. Ela olha para aqueles olhos humanos atrás da armadura e diz, irrefutavelmente para todos que a escutassem:

― Equinócio. Nós somos iguais e eu posso reclamar a Pólis para mim.

"Uma vez que a magia já é reclamada", pensa ela, mas não pronuncia. Diz-se que a Pólis é onde se está mais próximo dos deuses que escutavam à espécie de Ama, era lá que deveria estar.

O guarda, também de uma classe inferior aos nobres que competiriam pelo trono, baixa a espada vagarosamente, não podendo discutir com a palavra "Equinócio". Ela retira de seu cesto uma das últimas flores de Esperancza que possuía e oferece ao porteiro.

― Um pouco de Esperancza ao senhor, que já deve estar cansado de passar tanto tempo parado aqui ao invés de apresentar-se ao Florilégio porque seu trabalho inferior é mandado pelos nobres desconsiderados que lá estarão para manda-lo para o mesmo trabalho até que morra. ― deposita Esperancza na fenda da armadura prateada alheia, visto que ele não estendia a mão para receber a planta, mas seus olhos torturados por tanto tempo aberto estarem queriam mais que tudo. O serviço incutido a ele o impedia de pegar o grão-fruto, pois seria punido. ― Seria melhor não haver nascido humano, não é? Mas que bom é ser humano... Dá-lhe a oportunidade de enlouquecer e enriquecer com a própria cabeça. Uma tortura e nós somos masoquistas, pena que aqueles no comando são sádicos.

O porteiro não reage quando Ama lhe entrega "forçado" Esperancza, mas tampouco a recusa. Queria o grão-fruto absurdo de caro, o qual não podia comprar, mas Ama, a produtora, mal recebia por tal tampouco.

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