8. Parte 4

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Fora a gota d'água para Ama. Ela não consegue engolir mais o próprio vômito, afasta-se da mesa para impedir de afetar outros, mas acaba caindo de costas e virando de lado o mais rápido que conseguia para vomitar tudo o que tinha e não tinha.

Hunus dá um pulo no assento em espanto e se levanta. Khlaos vira isso vindo e segura a própria boca, a indigestão e náusea pelos últimos anos contemplados em um prato de sopa fazia com que suas mãos tremessem e os olhos fechassem em pressão. Ouvir os sons do vômito era como ver a um bocejo e respirar o mesmo vírus, contagioso.

Khlaos vira ao lado e expulsa o que colocara para dentro no último minuto. Sua pele também se tornara vermelha e doente como em uma alergia generalizada. A textura de seu cabelo, ao invés de ondulado saudável, dobra-se e esbranquiça como se estivesse na velhice de fios quebrados, contorcendo-se em agonia como se estivesse vivo e sensível.

― Que tipo de veneno vocês estão a dar uns aos outros? ― Ama fala alto do chão, golfando em pausas.

Ocorre um evento em cadeia. Os sons são excessivamente estimulantes, pelo menos um terço dos presentes sente os sintomas do refluxo e deste terço pelo menos a boa metade combina as forças correspondentes e vomita também.

Ama sente como se houvesse expulsado a própria alma.

― O que está acontecendo aqui? ― Justicia questiona como se estivesse a presenciar uma epidemia, distraído da própria porção.

Ela, furiosa, levanta-se dentre o vômito e aponta o dedo para o Juiz.

― É isso que vocês fizeram com a minha colheita por todos esses anos? É isso? Que desrespeito seria esse? Calúnia! ― Ama manca para manter-se em equilíbrio.

― O que a senhorita estaria dizendo? Não é compreensível. Aquele que está a praticar a calúnia não seria outra se não tu. ― ele ergue-se para dialogar com Ama ― Tu sabes que aquele que desrespeitar Esperancza não pode estar aqui. Não fora bem avisado? Peça perdão por tua insolência.

O sangue ferve abaixo da pele. Quanto mais ela abre a boca para alto falar, abre um pouco mais os ferimentos ― Eu plantara cada grão-fruto aqui apresentado. Eu plantei, orei e trabalhei até a exaustão para tomar cuidado. Eu sou a lavradora da colheita que vocês estão desperdiçar. Vocês destruíram ao meu campo para fazer uma colheita emergencial e desrespeitaram meu trabalho de meses afinco para que estes desgraçados de boa vida não só não liguem quanto consumam de uma versão venenosa de Esperancza para um jantar de merda. ― ela pega aos pratos e arremessa no chão, quebrando-os em cólera ― Tu sabes o quanto eu ganhei por toda esta safra?! Nada. Tu sabes quantos ferimentos eu ganhava todas as semanas e quanto tempo diário eu usei de minha vida para isso?! Quase todo ele. Tu sabes o quanto eu ganhei para estar aqui para provar meu trabalho ser mandado ao inferno, o símbolo de resistência se tornar um paradigma desrespeitoso e ver um grupo de dondocas que compra veneno, chama de luxo e não se importa com o serviço de base que Esperancza significa? Vocês sabem? Ódio, eu ganhara mais ódio por vocês. Eu plantara essa merda para que ela florescesse, vocês que são as vadias insolentes cuja única reflexão que devem fazer é a do próprio nariz. É isso o que vocês têm feito com as minhas Esperanczas esse tempo todo?! É isso?! Eu ser desclassificada por não querer comer essa porcaria? Poupem-me, vocês estão desclassificados por aceitar essa porcaria. Eu definitivamente não vim aqui para alimentar-me de Esperanczas, se é isso que aqui significa. Vocês que precisam se ajoelhar a mim para pedir meu perdão e o dos deuses. 

― Senhorita... ― Justicia pede.

― Eu plantei esta merda que vocês desrespeitaram. Suas normas superficiais não se aplicam a mim, eu não sou apenas vosso consumidor alienado.

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