2. Parte 2

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― Bem que eu estranhava que pelo menos metade dos caçadores que passavam aqui eram homens de sempre a mesma altura e de voz excêntrica. Desculpe por não reconhecer o cliente fiel. Aliás, tu sempre vens da mesma floresta, poderia roubar grãos, a floresta o haveria punido, mas como não... Obrigada pela consideração em não pegar o trabalho que não fora seu. ― sorriso profissional ― Pagamento, por favor. ― ela vai ao ponto, estendendo a mão.

― Eu posso retornar mais livremente para as safras?

― Não acho que estarei aqui para a próxima, então não posso dá-lo esta certeza. O lavrador responsável por estas terras não irá retornar igual, caso retorne. ― mão ainda estendida.

Ele deposita na mão alheia, antes de retrucar, um bracelete pesado de pedras preciosas azuis. Ama assusta-se com a frieza do metal e deixa-o cair na bancada, constrangida e surpresa demais para segurar.

― Não. Isto é joia de nobre, certamente roubado. Eu não desejo, não irei a lugar nenhum trocar a isto por dinheiro. Não. Não.

― Porque não estará aqui?

Ela poderia viver na medida de seus pensamentos, mas também vivia ele. Suas respostas mal acompanhavam a da outra e vice-versa.

― Por favor, pagamento em valor que eu possa aceitar.

― Porque não estará aqui? É pelo Equinócio? Tu vais ao Equinócio? ― agora ele parecia estressado. O sotaque pesado que este esforçava-se a esconder era revelado, completamente fora de lugar com a maneira de falar local. Repentinamente ele soava cheio de vogais harmônicas e consoantes leves em lugares que ela não sabia e fortes, tônicas, onde não ouvira ser comum a ponto da naturalidade.

― Sim. ― ela confirmara com todo o peso da responsabilidade.

― Isso é loucura... ― sotaque forte fluindo mais uma vez.

― Isso é necessário. ― é firme ― Pagamento, por favor.

O mercenário deixara de discutir, o diferencial é que, na mente deste, ela já possuía o dinheiro do imposto, o qual era pedido a todo que não fosse criança, adolescente e não trabalhador. Ele precisa engolir e fazer o pagamento pela produção que fora empacotada.

― Este bracelete... não fora roubado. É minha posse. ― explica ele tentando retomar o controle do sotaque.

Sendo assim, Ama ousa toma-lo novamente da bancada. Era lindo, o brilho, as pedras azuis, os detalhes, um bracelete que emulava os formatos básicos de Esperancza. Uma peça de arte fina legítima.

― Eu ainda preciso de pagamento. Lamento, não posso aceitar, isso deve comprar toda minha terra, mas eu prefiro menos, desde que eu não precise trocar no mercado e parecer uma ladra. ― era seu ultimato.

O mercenário suspira pesadamente, frustrado, e dá a ela um saco pesado de ouro. Ama arregala aos olhos com o som pesado feito.

― Isso é demais.

Ele dá uma pequena risada, incrédulo, e abre o saco de ouro, fazendo com que as moedas se espalhem na bancada que os separava.

― Escolha o quanto tu achares que merece por esta fração de tua colheita. ― ele sugere, cruzando os braços, finalmente saindo de sua pose estática.

Ama fita a máscara delicada e novamente às dezenas e mais dezenas de ouro espalhado. O ouro havia de ser dos trabalhos dele, provavelmente trabalhos sujos. Ela apoia as mãos na madeira e conta mentalmente de quanto ela precisa. Pega oito moedas apenas, quatro para completar seu imposto e mais quatro por emergências. Ouro já valera mais, contudo, após o desenvolvimento do garimpo de cristais, seu valor deixara de ser o máximo distribuído, mas até para mercenários o valor dos diversos tipos de cristais era complexo de conquistar. Dentre a sacola de ouro haviam duas destas pedras preciosas, mas ela sequer ousara olhá-las por tanto tempo. Recolhe o ouro e duas pedras, azul e verde, alheias e coloca-as no saquinho novamente, devolvendo-o.

EsperanczAWhere stories live. Discover now