9. Parte 3

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A manta estava deixada no chão. Ela arrasta ao próprio corpo até o tecido e o pega, o suporte da coluna desiste e a cabeça cai na areia mais uma vez. Não mais tinha noção do tempo, mas pareceram um punhado de horas deitada no chão enquanto as luzes das janelas a adentrar na caixa de areia mudavam de localização com a transição do sol.

Ela levanta muito depois de todos desaparecerem. O outro grupo havia protegido a cota.

Quando consegue se colocar de pé, tem uma expressão vazia e pouca força. Haviam desaparecido com sua bengala e adaga, assim como a suas frutas. Deixaram apenas a manta e o elmo com seu escudo, então usava a manta nos ombros, colocara o elmo na cabeça mais uma vez e agora usava o escudo não no peito, mas para ajudar que esta se equilibrasse na medida das paredes até que em uma hora ou outra ele caísse e ela não pegasse ao objeto mais uma vez.

Seus olhos estavam vermelhos, traumatizados, a boca entreaberta e os hematomas esbranquiçados que não pelo novo envolvendo a garganta. Sua pele não mais carregava a cor original. Havia ficado mais frio do que quando a caminhada fora iniciada, olha aos céus e dele cai tão minúsculos flocos de neve que ela sequer é capaz de reconhecer após muito tempo arrastando-se por paredes, de volta ao caminho principal, um deserto nevando.

As mãos não desejam mais tocar nas paredes pelo frio. A manta de nada servia, o corpo inteiro era atormentado dentre a indiferença e o tremor. Ela voltara a ouvir as vozes perdendo-se pelos corredores cruzados, mas fora informada por seus instintos, em completa decadência, que eles apenas conseguem alcançar aquele que está parado.

Quando cai, mais acentuadas são as vozes. Ela apressa-se para levantar e segue com os membros desfalecidos sendo ordenados por sua mente. O coração sequer dá-lhe o privilégio de sentir ansiedade quando a dor reverbera por sua percepção do mundo.

A areia vai se tornando mais alta na medida das paredes que usava para se erguer, formava montes. Dunas faziam cada vez mais difícil caminhar em linha reta. Ao subir a uma, usando as mãos para apoio, os pés escorregam e ela gira no pequeno morro até o ponto mais baixo.

O rigor de seu corpo, com o deslize, esvai-se como areia. Ela está parada novamente, as vozes nos becos podem chegar até ela. Abnegara-se por este instante em que poderia relaxar a coluna antes de ser abordada.

Ela crava a mão na areia enquanto sente passos aproximando-se. Havia caído ao lado de mais um ramo de Desesperancza dentre areia e pedra. Mergulha a mão e lá encontra a ponta de um cabo de metal. Aguarda.

As ideias não processavam, mas os instintos restantes estavam concatenados. A risada de um encontro desejado unilateralmente se faz.

― Tu vais pagar pela humilhação que tu submeteras o nosso Clérigo. ― a voz masculina adentra, ouve-se o som de espada sendo arejada.

Ama não consegue falar, sua garganta estava destruída, mas também não queria ela. Quando mais um caçador de botas sob medida chega a seu encalço e levanta a espada com a intenção de decapitar, ela fecha ao punho no cabo submerso por areia e com um rasgo da própria realidade, a lâmina enferrujada surge, rebatendo com a lâmina ainda viva do novo agressor.

Tal movimento é certeiro por haver sido repentino, o agressor esperava uma vítima acabada e desistente, esperava apenas por finalizar, contudo ela não estava finalizada. O movimento, embora, custara a saúde da mão boa, pois ela fora torcida de mal jeito pelo impacto.

Ela se levanta com brutalidade, renovada pelo sangue a esquentar mais uma vez. Jamais havia empunhado uma espada na vida, contudo, quando levanta a lâmina enferrujada para o caçador de cabelos negros e sorriso divertido surpreso, ele ergue a sua como se estivesse aceitando ao duelo.

EsperanczAWhere stories live. Discover now