capítulo 13 | Dionísia

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Observei Lucius beber um copo de água em um único gole. Acho que ele estava imaginando álcool ali, algo para que ele parasse de se sentir mal depois de tudo que me contou e para amenizar uma ansiedade que eu percebi que crescia ali desde o instante em que saiu de meus braços.

— Eu...acho que devo ir — falei, sem saber bem o que dizer ou fazer, com medo de ter feito ele se sentir pior e ter estragado seu convite.

Lucius se virou largando o copo na pia de mármore escura e me olhou.

— Fica só mais um pouco anjo. Por favor. — o nevoeiro em seus olhos parecia mais nublado ainda, mais denso e caótico. Mais lindo. Seus olhos conseguiam ser tão lindos e hipnotizantes quanto indecifráveis assim como ele, mas hoje, hoje ele tinha decidido se mostrar mais decifrável ao confiar em mim para contar sobre coisas que ele não se sentia bem em contar para mais ninguém. Ele tinha se permitido mostrar as suas partes consideradas feias e eu deixei claro que jamais me assustaria ou fugiria delas, torcendo para que isso o ajudasse a pensar que não apenas eu mas todos que se importam com ele pensariam do mesmo jeito e continuariam ao seu lado se falasse dessas coisas com eles.

— Tem certeza de que quer que eu fique? — ele assentiu.

— Se quiser ficar....— ele fala, me olha em busca de algum indício meu que indicasse que eu queria ir embora. E eu sei que ele não se refere apenas a ir embora da sua casa mas sim sobre ir embora da sua vida, de quem ele é, e, quem me contou ser.

— Eu quero ficar —

A minha resposta parece soar surreal para ele e faz o nevoeiro de seus olhos dissipar como se gotas de chuva começassem a cair no céu e transpassar no nevoeiro, chorando por dentro. Parece ser um tipo de resposta que acreditou que ele nunca escutaria de alguém um dia se contasse o que me contou.

— Senta no sofá. Eu vou lavar isso e já vou. — ele parou ao meu lado pegando os talheres e pratos que usamos.

— Eu te ajudo. — peguei a travessa da lasanha vazia e os dois copos com resíduos do suco que bebemos.

— Não precisa fazer isso, anjo. —

Lucius pegou a travessa e os copos da minha mão pondo tudo na pia junto do restante da louça. Eu percebi a lava louças ali mas não me pronunciei sobre.

— Eu gosto de lavar louça. — ele contou, despejando detergente na espoja e começando a ensaboar toda a louça, concentrado. A ansiedade que crescia sendo acalmada por aquela simples ocupação.

— Então eu seco. — me prontifico, pegando um pano de prato da bancada. Lucius me olha por um momento como que tentando se certificar de que eu realmente estava ajudando ele com a louça e eu o olho de volta, sorrindo para ele.

Ele soltou uma risada e abaixou a cabeça abrindo a torneira e começando a lavar os pratos. Fui secando tudo conforme ele me entregava louça por louça.

— Anjo...— Lucius me chamou quando eu carregava os copos até o porta-copos, eu joguei o pano de prato em meu ombro e tornei a me aproximar dele esperando que proseguisse.

— Sim? —

Eu perguntei quando ele não disse nada e continuou com os olhos fixos na travessa de vidro conforme esfregava a esponja por cada canto eliminando os restos da lasanha.

— Você me deixaria desenhar você? — ele hesitou ao perguntar, tinha medo na sua voz, medo de por alguma razão eu me ofender quando eu na verdade achava uma honra alguém, em especial ele, querer me desenhar, me achar interessante ao ponto de querer me retratar em uma tela seja qual for. — Você posaria para mim, anjo? — ele perguntou em seguida, reforçando o pedido, e eu franzi a testa começando a compreender sua hesitação.

Heart ProblemsOnde histórias criam vida. Descubra agora