capítulo 49 | Lucius Callahan

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Dionísia estava respirando mas não abria os olhos. Por que não abria?. Eu tinha entendido tudo o que medico disse, só não conseguia acreditar. E ficava aqui esperando, velando seu sono causado pela anestesia, meu rosto apoiado na perna dela e minha mão segurando os dedos dela, antes frios e distantes, agora começava a aquecer...a ser o toque dela outra vez embora ainda estivesse distante.

Toda vez que fechava meus olhos revia ela caindo da escada. O sangue. Todo aquele sangue. A confusão e as vozes de todos. Shane socando Dimitri tantas vezes que as chances dele sobreviver foram embora e ele morreu pela queda e pela fúria do tatuador. Marcus e Stephan me dizendo para deixar os paramédicos pegarem ela. Eu na ambulância vendo eles se movimentando, pegando coisas e estacando o ferimento, falando e falando. E ela de olhos fechados, sangrando. Morrendo.

Dionísia estava morrendo bem diante dos meus olhos e eu não pude fazer nada para salvá-la. Tudo que fiz foi sentir que estava morrendo junto dela.

Agora mais calmo e sem o pânico anterior eu podia olhar para o rosto de Dionisía. E no lugar do pânico vinha uma dor que somente ela conseguia me fazer sentir novamente, a dor de ver ela machucada, de ver que sofreu. O rosto dela estava roxeado e avermelho das agressões que Dimitri tinha causado nela antes de cair da escada, seu lábio inchado e com um corte, o vermelho e o roxo marcando a pele clara do seu rosto desde a testa para a bochecha, vermelho e roxo marcando um dos braços dela onde eu podia ver a marca dos dedos onde aquele lunático  segurou. Tinham feito também curativos atrás da cabeça dela, pelo que um dos enfermeiros ela já estava machucada na cabeça antes de cair. Até o nariz dela estava um pouco inchado e tinha sido machucado.

Escuto um zumbido longo e alto na orelha e o quarto e o mundo ao meu redor se torna barulhento de novo quando tiro meu foco de Dionísia e percebo que estão batendo na porta.

Levanto da cama em direção a porta e giro a maçaneta. Daisy me olha ansiosa e entra no quarto, congelando ao ver a prima na cama e o estado dela. Stephan a precede e também entra, junto de Shane e meu tio. Todos eles arregalando olhos por ver como ela estava depois das horas que se passarram pós cirurgia.

— Falei com o médico. E ele me contou como foi a cirurgia e tudo mais. Acabaram de avisar também que o horário de visitas acaba em meia hora. Ele avisou que só uma pessoa pode passar a noite com ela.

Daisy murmurou, pressionou uma mão na boca e se sentou na poltrona, segurando na mão de Dionísia com a outra, os dedos trémulos.

— Trouxemos algumas mudas de roupas suas. Sabonete e essas coisas. E um lanche porque convenhamos, comida de hospital é uma merda — Stephan disse baixinho, me entregando uma mochila.

— Você não vai querer ficar? —
Encaro Daisy surpreso, eu imaginei que teríamos um grande problema sobre quem iria ceder para passar a noite com ela, mas percebo que ela pensou o mesmo que eu. Ela me olha balança a cabeça.

— Você fica. Eu sei que ela vai ficar bem com você. Eu vou arrumar a zona do apartamento agora que a polícia não vai investigar mais nada. O Dimitri e ela quebraram algumas coisas. Eu qero deixar tudo arrumado antes dela voltar. Se ela quiser ficar lá, claro.

A vontade que eu sentia em querer que Dimitri estivesse vivo se revira dentro de mim, apenas para que eu pudesse matar ele com as minhas próprias mãos. E junto da fúria vem o sentimento de impotência e culpa porque eu não consegui proteger ela. Não consegui impedir que ele encontrasse ela. E ele não apenas a encontrou como a machucou. Ela precisou se defender sozinha enquanto eu estava do outro lado durante todo o tempo, sem sequer perceber o perigo que ela estava passando.

Prometi que ele nunca mais a machucaria, que nunca mais encostaria um dedo nela, e as minhas palavras perderam todo o sentido porque eu não cumpri a minha promessa. Deveria ter ido com ela até seu apartamento como sempre fiz, deveria ter conversado com ela ou ao menos tentado, e não fiz nada disso. A promessa que eu lhe fiz foi quebrada, e ela também. E tudo culpa minha.

Heart ProblemsOnde histórias criam vida. Descubra agora