capítulo 54 | Lucius Callahan

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— Já vai, enfermeiro?

Marcus me pergunta assim que desço para o bar. Ele se encosta no balcão e sorri para mim, me provocando sobre eu estar indo passar o dia cuidando de Dionísia para Daisy ir buscar algumas coisas suas na sua casa.

— Vou — respondo, e ignoro sua provocação. O que o faz rir ainda mais ao cruzar do braços.

— Cade seu uniforme? E seu kit de primeiros socorros? — O encaro arqueando uma sobrancelha.

— O senhor está muito engraçadinho para quem também está arriado — resmungo, mas então sorrio de lado.

— Ao menos eu moro do lado dela. Diferente de você — continuo, sorrindo mais assim que ele faz uma careta e bufa para mim.

— Onde está Stephan, hein? —
Ele se vira andando para pegar seu celular da parte inferior da bancada do balcão, uma tentativa de desviar do assunto ao voltar-se contra ele.

— Deve estar chegando — escuto o som do sino na porta e vejo Stephan entrando. Franzo cenho ao perceber a expressão séria no rosto do ruivo e o olhar fundo dele conforme se aproxima da bancada do bar, um olhar de quem tinha dormido mal, ou não dormido nada. E chorado. Ou talvez aquilo fosse minha preocupação falando mais alto.

— Bom dia, Stephan!

Meu tio sorri. O ruivo contorna o balcão, se aproximando de nós dois.

— Bom dia — ele sorri, mas é um sorriso de resposta pois logo desaparece e a sua expressão se torna mais distante e pensativa, algo que não é do seu usual.

O ruivo guarda seu capacete junto das chaves da moto e o restante das suas coisas, permanecendo calado durante todo esse tempo.

Meu tio mexe sobrancelhas para mim me questionando o que aconteceu com ele?

— Stephan? — chamo.

— Mmm? — ele murmura, vestindo o seu avental ao tirar do gancho, sem olhar para mim, o olhar pensativo e desinteressado no arredores dele.

— Tomou café, Stephan? Comeu?

Meu tio se aproxima de mim e segura no meu ombro dando um breve aperto, balança a cabeça para mim e sinaliza para que eu não pergunte mais nada. Eu olho de volta para Stephan que saiu sem nem responder, e posso ver que não porque não quis, e sim porque simplesmente não me escutou.

— Deixa ele. Deixa ele pensar. Todo mundo precisa de um tempo às vezes. Ele não está triste, só pensativo. Se o pressionar pode ser pior.

— Ok, tio. — Suspiro nada satisfeito.

Eu mais do que ninguém sei como a pressão pode ser sufocante e até revoltante. Se Stephan precisava ficar calado, então eu respeitaria, do mesmo jeito como ele respeitou o meu silêncio durante todos esses anos. E se no fim ele não quisesse falar, eu entenderia. E continuaria do seu lado.

Suspirei de novo coçando entre minhas sobrancelhas, olhando para o ruivo atendendo uma mesa com duas pessoas sem nem um sorriso no rosto, sem um movimento nas mãos enquanto conversava. Não consegui disfarçar a preocupação de ver meu melhor amigo tão distante sem saber o porquê, e nem poder falar algo. E agora entendo como ele e todos ao meu redor se sentiram durante todo o tempo quando era eu o calado e distante.

— Vai lá — meu tio da uma leve batida nas minhas costas e sorri para mim.

— Deixa comigo — concordo, e saio do bar, entrando no prédio e subindo até o andar de Dionísia.

Bato duas vezes e espero. A porta é aberta e Daisy aparece.

— Bom dia! — Ela sorri e se afasta da porta sem esperar minha resposta.

Heart ProblemsWhere stories live. Discover now