capítulo 30 | Lucius Callahan

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Reparo em Marcus carregando quatro caixas, indiferente ao peso e as subidas e descidas de escada.

— Achei que sua coluna estava prejudicada — Relato ao pegar três caixas e ele as duas finais. Dionísia entregava um envelope ao senhor, provavelmente o pagamento pela entrega.

— Minha coluna aguenta algumas caixas de roupa — ele sorri.

— Além do mais, não era eu que deveria se apaixonar pela nossa vizinha — o seu deboche me faz revirar olhos.

Subo os últimos degras junto as quatro caixas com todas as milhares espalhadas pelo apartamento do meu anjo. Eram caixas demais. Demais mesmo, ocupavam todo o espaço da sala antes amplo e agora limitado e bagunçado pelas caixas pequenas e grandes. Algumas empilhadas, outras no chão sozinhas.

— Olha só ele secando o chão para ela não escorregar — meu tio zomba, passando pelo arco da porta e cruzando braços para então me observar secando o chão, esfregando com o pano que Dionísia usava há pouco.

— Tchau, tio — resmungo, secando em diração a porta e meu próprio caminho pois eu estava ensopado da cabeça aos pés. Ao passar pela porta percebo que Marcus já deixava o prédio sem disparar mais nenhuma brincadeira que ocuparia o lugar do ruivo falso estudando no momento.

Apoio o rodo na parede e olho para baixo, Dionísia entra, fecha o seu chapéu e sobe os lances de escada. Eu espero por ela sentindo água escorrer por todo meu corpo grudando mais o pano da roupa.

Passo uma mão pelo cabelo afastando do meu rosto para diminuir a água escorrendo por meus olhos. Dionísia para no topo do último degrau e levanta a cabeça, seus olhos se encontram nos meus apenas para se abaixarem e subirem devagar examinando meu estado, reprovando-o.

— Vocês são doidos — sussurou. Eu deixei uma risada escapar, e ela riu para mim em resposta.

— Se ficar resfriado...— imitou num tom de falsa ameaça, apontando o dedo indicador na altura do meu peito.

— Você será solidária suficiente para ser a minha enfermeira, e cuidar de mim —

— Só não garanto o uniforme — Brinca ela, pondo o seu guarda-chuva dentro da proteção do lado interno da sua porta. Eu observo seu pijama mais uma vez, alguns respingos de chuva pelo tecido tão folgado que parecia engolir seu corpo.

— Não me importo com o uniforme, desde que seja você — Um rubor avermelhado e adorável se espalha pelas suas bochechas. O olhar dela se tornando acanhado.

— Se precisar de ajuda, estou aqui — Dou meio passo na sua direção ao mesmo tempo que aponto para as caixas lá dentro.

O cheiro doce do perfurme de Dionísia me invade quando respiro mais próximo dela, dessa vez quando respiro fundo um aroma sutil de cravo com mel sobe, diferente do usual dela que cheirava a frutas, mas tão delicioso quanto.

Dionísia levanta mais do rosto para manter nosso contato visual e recosta-se na borda da porta.

— Eu consigo — diz determinada.

Eu concordo, mais um passo. E se eu desse outro e me inclinasse só um pouco mais estaria perto suficiente, poderia beija-la, poderia senti-la, poderia amá-la. Ao invés disso, toco na sua mão e acaricio a sua palma com meu dedão, ela se remexe em
resposta causando-me um sorriso de diversão.

Acaricio sua palma novamente. Ela se mexe novamente ao sentir cócegas pelo gesto.

— Odeio não saber o que essa carícia significa — suspira exasperada, reclinando a cabeça na madeira um pouco para o lado, como que um gato curioso. Essa carícia significa que quero amar você, anjo. Estou aprendendo a amar-te.

Heart ProblemsWhere stories live. Discover now