capítulo 27 | Dionísia

36.4K 3.9K 1.5K
                                    

Pressionei minhas costas que doíam do peso que carreguei de todas as encomendas que passei o dia inteiro enviando para o correio. Eu precisava comprar um carro, quase não consegui um taxi para voltar e seria horrível ter que andar de volta para o meu apartamento.

Meu celular vibrou no bolso da minha calça, era Daisy. Ela havia me mandado uma mensagem assim que chegou no seu apartamento e avisou que mandaria outra quando voltasse do encontro com as amigas cujas descobri estarem grávidas, parecia que a mesma quantidade de semanas, mas não me atentei ao número de semanas. Daisy e elas haviam ido visistar lojas de bebê e ela me disse que as amigas dela gostariam muito de me conhecer. Sugeriu que deveríamos marcar de me levar para a cidade de Daisy para que eu pudesse conhece-las assim como a cidade em que a minha prima mora. Decidimos então que esse final de semana eu iria para a cidade dela e não o contrário, e agora aqui estava eu em uma pilha de ansiedade sendo que ainda era segunda-feira de noite e eu só iria sexta de manhã.

Larguei o pente na pia do banheiro ao terminar de desembaraçar meu cabelo. Daisy bem gostaria de saber que os produtos de cabelo que comprou estavam surtindo efeito. Meu cabelo estava mais macio e bem mais fácil de desembaraçar, ainda quebradiço mas mil vezes melhor do que nesses últimos longos anos de descuido.

Fiquei encarando meu reflexo no espelho e comecei a me incomodar. Me incomodar com o comprimento, com a cor, com abolutamente tudo que gritava Dimitri por ter sido ele o responsável por eu mudar tanto minha aparência, e, bem, eu.

E por causa disso começo cogitar uma loucura pois a tesoura e uma caixa de tinta nunca me pareceçam tão tentadoras. Meu cabelo não era castanho natural, era loiro, um loiro mais dourado do que o de Daisy que é praticamente branco. Eu havia pintado ele de castanho quando Dimitri comentou que eu ficaria melhor de cabelo escuros. Passei anos concordando com esse pensamento embora não conseguisse me encontrar nessas cores durante todo esse tempo. E talvez, certamente, fosse o momento de tacar outra tinta por cima desses quadros velhos.

Não lembrava mais de como eu era loira. Não lembrava mesmo. Mas decidi que se não gostasse, eu faria de novo, e de novo até estar satisfeita.

— Estou pensando em cometer uma loucura, me ponha sanidade, ou taque mais lenha na minha fogueira. — pedi a Daisy quando ela atendeu a minha ligação e eu tinha retornado na farmácia com os produtos para descolorir o cabelo, as tintas para pintar e um conjunto de pincéis e tesoura própria para corte. Tudo espalhado pela minha pia esperando para serem usados.

— Que...tipo de loucura? De transar ao ar livre ou de beber até entrar em coma? — a sua voz soa e posso até imaginar ela sorrindo e abanando as sobrancelhas sugestivamentes.

— Quê? Nenhuma das duas! — sufoquei uma risada, pondo o celular na pia e deixando a ligação no viva voz. — Estou pensando em cortar e pintar os cabelos. —

— Sacanagem só porque eu não estou aí — protesta pela ligação, escuto o som de algo fritando e pela hora aposto que é o seu jantar. Eu nem havia almoçado. Tinha comido apenas um pedaço de pão de manhã, o pão que comemos juntos.

— Tudo bem, eu supero, que cor e que corte? — perguntou, um gritinho de pânico soou quando escutei algo sendo posto no óleo e espirrando nela.

Daisy xingou até a próxima encarnação de óleos e a si mesma por não comprar uma frigideira que não precisasse do óleo, ou a comida pronta.

Eu observo meu cabelo solto vendo que está batendo na altura da minha cintura.

— Quero cortar uns dedos. Mas quero tentar uma franja? — soei confusa, olhando para a imagem do corte na tela do meu computador na pia, a franja lateral que pegava um pouco da testa também cuja eu tentaria fazer no meu sem corte algum. Eu mandei a imagem para a loira que a recebeu no mesmo segundo.

Heart ProblemsTempat cerita menjadi hidup. Temukan sekarang