capítulo 29 | Lucius Callahan

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Meus olhos se abrem antes que eu sinta meu corpo, a lembrança ruim se dispersando ao despertar. Ela e ele sumindo em um sonho que eu não faria questão de lembrar nenhum detalhe.

Jogo o braço por cima do rosto, fechando meus olhos ainda mais cansado do que quando me deitei. A noite inteira dormindo e acordando entre recordações ruins e sonhos piores do que as malditas recordações. Tinha tempo que algo do tipo acontecia, a última vez que revirei a noite entre pesadelos dessa maneira foi durante a minha adolescência, em que eu ainda estava revoltado e recusava a acreditar e confiar em meu tio e qualquer outra pessoa.

Escuto quatro vezes batidas na porta do meu quarto.

— Lucius??? —

— Tá aberta. — murmuro.

— Acho que nunca te vi dormir tanto
— Meu tio acentuou.

— Eu não dormi — Interrompo a estranheza dele sobre eu estar deitado. — Não preguei o olho. —

Levanto um pouco meu braço e abro um olho para encontra-lo em pé na frente da minha cama. Ele vasculha todo meu quarto e parece surpreendido que nada está destruído.

— Eu continuei tentando dormir — Esclareço. Marcus assente, coçando o maxilar por onde sua barba cresce.

— Nunca tentou antes — Ele me encara, um tanto orgulho pareceu.

— Estou tentando agora. — Murmurei, me sentando. Sinto meu corpo suado em razão dos pesadelos contínuos. Arranco a camisa suada a jogando no cesto de roupa suja, suspirando.

— Será que uma certa vizinha nova é a causa de toda essa motivação??? —

Pergunta para ninguém em específico, a mão no queixo e um olhar de pensativo. Não respondo.

— Já desço — Aviso, entrando no banheiro e tirando a minha calça.

— Fiz café, está na cafeteira!!! —

Marcus grita, saindo do meu quarto e fechando a porta. O som da cascata do chuveiro me impede de saber se ele desceu ou se ficou pela sala, para mim não fazia diferença de qualquer maneira.

Encosto meus braços e a testa no azulejo, fico olhando a água passando entre o branco da parede e a água que escorre entre meus olhos e cílios.

Alívio me preenche como sempre que eu acordava e podia afirmar que aqueles pesadelos tinham acabado, que eles não estavam aqui, que era apenas um passado muigo ruim, que eu estou bem. Eu estou bem. Estou me sentindo feliz agora, de verdade.

Apanho o frasco de shampoo, fechando o chuveiro. Abro a embalagem enchendo um pouco na palma da minha mão, começo a esfregar entre o couro cabelo e as mechas, sentindo a espuma por entre meus dedos e a tintura escorrendo da nuca para meu rosto conforme enxáguo.

Meus pensamentos rumam para Dionísia ao abrir a tampa do condicionar, penso se ela diferente de mim, conseguiu dormir sem ser atormentada, se dormiu como o anjo que é. Torci para que sim.

Apertei a esponja cheia de sabonete esfregando por meu corpo. Me senti muito melhor ao deixar o suor resultante da noite mau dormida ser lavado completamente pelo sabonete e a cascata de água fria.

Estiquei meu braço alcançando a toalha no gancho, abri o restante da porta do box e sequei meus pés no tapete ao sair, enrolado a toalha em torno do meu quadril e usando uma menor para diminuir a água no meu cabelo.

Andando pelo quarto desfiz a cama pondo os lençois, fronhas e cobertas sujas junto das roupas no cesto ao canto, ao me abaixar para pegar os travesseiros do chão encontrei meu anjo do outro lado da janela do seu prédio. O colchão estava de volta na frente da janela, ela estava acordada, deitada de bruços com o computador aberto no chão na sua frente. Ela mexia nele preguiçosamente, as mechas do cabelo agora dourado bagunçadas lindamente ao redor do seu rosto angelical e bem humorado.

Heart ProblemsOnde histórias criam vida. Descubra agora