capítulo 71 | Marcus Callahan

17.7K 2.3K 1.8K
                                    


Onde ela está??

Mando a mensagem para Eduardo, esperando impaciente o maldito do sinal ficar verde de novo. A resposta vem poucos segundos depois que a envio.

Na frente do bar

Olho a mensagem na tela do meu telefone e retorno ele para a encruzilhada vazia antes de pisar fundo no pedal e atravessar a rua sem esperar que o bendito do sinal mudasse. Não precisei sequer me aproximar do bar para enxergar a figura de Paloma, ou melhor, a figura do que um dia tinha sido a minha irmã.

O que vamos fazer com ela?

Outra mensagem vem quando o respondo. Li o que mensagem dizia e demorei menos que cinco segundos antes de o responder.

Você sabe o que temos que fazer,
o que adiei a vida toda, o que eu
deveria ter feito desde o começo

Paro com o carro longe do bar e desço batendo a porta. Os passos que dou na direção da mulher que eu sequer podia mais chamar de minha irmã parada na entrada do bar não são tão difíceis como julguei que seriam, foram passos apressados, desesperados para chegar até ela.

Esses passos nunca seriam mais difíceis do que aqueles que dei quando entrei na casa dela, e vi uma criança em uma maldita cena crime. Nenhum dos meus passos um dia seriam tão difíceis quanto os que dei em direção ao Lucius pela primeira vez, quando ele era só um garoto assustado e machucado, e eu um tio que não tinha a menor ideia como era cuidar de uma criança que dependeria totalmente de mim, muito menos uma que sentia medo e desconfiança de qualquer mínimo gesto ou fala minha e dos outros.

Eu paro de andar. Paloma se vira e me encara. O seu bem mais rosto magro e fino, assim como o seu corpo. Eu não a via desde a época em que fiquei responsável por Lucius e ela foi direto para uma clínica. Os cabelos castanhos dela estavam curtos e os olhos castanhos não pareciam ter mudado desde que a encontrei toda ensanguentada em uma maca com paramédicos a cercando, enquanto os outros responsáveis estavam cobrindo o corpo do marido de merda dela.

Na época eu estava tão assustado e chocado com tudo que foram me contando que tinha acontecido, e na criança, que nem me atentei em como aquilo aconteceu. Paloma tinha esfaqueado o pai do Lucius, e aquilo não surtiu efeito nenhum nele que estava muito dogrado assim como ela, como resultado os dois brigaram e se machucaram muito. O homem foi parar dentro do armário em que Lucius estava, em uma tentativa de se esconder foi o que pensamos, falaram que Lucius provavelmente estava desacordado quando tudo aquilo aconteceu porque ele acordava quando a polícia invadia a casa.

Apesar de tudo que me falaram nada me tirou da minha cabeça que Lucius estava acordado quando tudo começou. E independente do que ele viu, ou não viu, aquilo foi mais que suficiente para que um novo trauma fosse desbloqueado nele.

Paloma sobreviveu por pura sorte, pois a ambulância não demorou para chegar na residência. Caso contrário ela teria morrido pela quantidade de sangue perdido durante a briga até o momento em que ela assassinou o marido. Teria sido melhor se a ambulância demorasse. Os dois deveriam ter morrido, essa é a verdade. Os dois deveriam estar mortos exatamente como o Lucius acredita que estão.

— Não conseguimos fazer ele falar nada, e nem tirar ele lá de dentro, ele não deixou ninguém tocar nele. Precisamos cuidar do machucado na cabeça dele, e o levar para o hospital  — foi a primeira coisa que um dos paramédicos me disse antes de me levar até o armário rodeado de sangue onde Lucius foi encontrado, e onde permaneceu encolhido no cantinho.

A cena da criança sentada no canto do armário toda encolhida não foi a pior parte. A pior parte foi ver ele sujo do sangue dos pais e do seu próprio machucado. Foi ver o medo, ver o desespero estampado na expressão de Lucius a cada aproximação e gesto que alguém fazia ao alcance dos seus olhos.

Heart ProblemsWhere stories live. Discover now