capítulo 69 | Lucius Callahan

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— Já falei que não, porra — repeti pela centésima vez para a maritaca ruiva dos infernos do Stephan que não parava de falar sobre o meu aniversário, que aconteceria daqui uma semana no dia vinte e nove e janeiro.

— Assim não dá, Lucius, precisamos fazer alguma coisa. A Didi não vai te deixar passar seu aniversário em branco, e eu concordo com ela! — Stephan protesta do outro lado do balcão do bar, cruzando os braços irritado com a minha resistência.

Eu sabia que comemorar o halloween, natal e ano novo abriria uma brecha para que o meu aniversário se tornasse a próxima data comemorativa do século, e eu achava isso a maior baboseira. Meu aniversário era completamente desnecessário para mim, mas eu não achava o mesmo do aniversário do Stephan, do Shane, do meu tio, do meu anjo e das meninas. Eu sabia que estava errado por pensar desse jeito, mas passei minha vida toda odiando estar vivo que comemorar meu aniversário seria ironia. As coisas tinham mudado bastante desde os últimos anos, mas eu não estava tão interessado em comemorar a data de qualquer maneira.

— Você é um puxa saco dela, isso sim.

— E você é o maior fã dela, cinzeiro e modelo ambulante, não pode falar de ninguém — O ruivo respondeu, sorrindo grande ao apontar para minha calça e blusa social.

— Lucius, um bolo pelo menos, a Didi vai ficar triste se você não comemorar! Eu vou voltar a cantar, hein — Stephan me ameaçou. Ele passou a última honra cantando "um elefante incomoda muita gente" para tentar me fazer aceitar a comemoração do meu aniversário sem reclamar. A musiquinha ridícula tinha entrado na minha cabeça e agora até eu estava resmungando aquele refrão sem nem perceber.

Respiro fundo, esfregando meu cabelo para não matar o perturbado do Stephan por me levar a loucura cada dia mais, e falo palavras que eu certamente poderia me arrepender de ter dito, cedendo:

— Tá bom. Podem fazer o bolo e todas essas coisas. Satisfeito??? — perguntei, agarrando meu maço de cigarros e tirando um de dentro.

Muito — ele sorriu eufórico. Eu não podia culpar ele, nunca comemoramos nenhum aniversário na vida, ao menos não nosso, ou do meu tio. Shane como sempre era o único a comemorar e nos arrastar para as comemorações na marra.

— Falando nela...— escuto Stephan falar quando estou dando a primeira tragada no cigarro. Ao soltar a fumaça e olhar para a entrada vi Dionísia entrando, e um cara entrando logo atrás dela.

O cigarro se partiu nos meus dedos quando reconheci o cara. Era o Gael, das lutas clandestinas que passei anos frequentando. Era ele conversando e sorrindo para o meu anjo.

— Espera aí, aquele não é aquele cara da luta daquela vez? — Stephan levantou do banco e eu joguei o cigarro na lixeira, contornando o balcão e andando na direção dos dois.

Dionísia estava conversando animada com Gael, que respondia tudo que ela falava com uma simpatia que ele não tinha. Ao menos não durante todos os anos em que machucamos um ao outro feito animais dentro e fora da arena do clube.

— Lucius, ele que...

— O que você está fazendo aqui? — interrompi Dionísia, esticando a mão para trazer ela para perto de mim.

— Oi, Lucius — Gael riu. — Eu queria conversar com você — respondeu.

— Vem, Didi, não se misture com essa gentalha — Stephan agarrou a mão da Dionísia cercando os ombros ela e a levando para os fundos do bar, assassinando Gael durante todo o momento.

Gael riu, balançando a cabeça e olhando ao redor do bar antes de falar novamente.

— De verdade. Sem toda aquela palhaçada de sempre. — ele murmurou, esfregando o cabelo preto dele que agora tinha sido raspado de um lado e estava mais longo, alcançando os ombros e um pouco mais.

Heart ProblemsWhere stories live. Discover now